Diante do complexo problema das alterações climáticas e da necessidade de prevenir a influência humana danosa no sistema global do clima, diversos planos internacionais com objetivo de guiar ações cooperativas relacionados ao meio ambiente e questões climáticas têm surgido.
Desde a Conferência de Estocolmo em 1972 que debateu pela primeira vez a nível global as questões ambientais, passando pela ECO-92, onde foi fundada a “Convenção das Nações Unidas sobre a Mudança Global do Clima”, e o “Tratado de Kioto”, que buscava a redução de 5% nas emissões de países desenvolvidos, até o mais recente Acordo de Paris, que objetiva limitar o aumento da temperatura média global em no máximo 1.5 °C até 2100, as ações globais pela natureza e clima enfrenta grandes desafios no cumprimento e monitoramento das metas estabelecidas pelos países.
Houveram iniciativas bem-sucedidas de ações coordenadas a nível global, mas até o momento nenhuma delas diretamente relacionadas ao clima. Como boa referência de plano global podemos citar os oito Objetivos do Milênio (ODM) lançados em 2000 na “Declaração do Milênio das Nações Unidas” e assinada por todos os 191 países da ONU.
Este plano conseguiu alcançar resultados consistentes. Em comparação com a década anterior, houve diminuição de 50% no número de pessoas em extrema pobreza, a redução de 69% na taxa de mortalidade entre menores de cinco anos e o acesso a 2.1 bilhões de pessoas ao saneamento básico, além de diversos outros resultados positivos.
Após os ODM foram lançados os 17 Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável com 169 metas que incluem questões sociais, econômicas e ambientais e foi assinada também por todos os 191 países membros.
Atualmente, porém, são os recém criados “indicadores ESG” (Meio Ambiente, Social e Governança, em português) que vêm ganhando imenso destaque em diversos setores. Ainda alvo de desconfiança e críticas pela superficialidade e “ascensão meteórica”, o ESG possui ao menos um atributo positivo que é tornar mais acessível o processo de planejamento, análise e implementação de ações socioambientais e de governança por empresas, organizações e governos.
São três macro-áreas que atuam como um guia, inclusive para empresas pequenas ou até empreendedores individuais. São mais facilmente compreendidos que os abrangentes 17 objetivos e 169 metas que exigem estudo e envolvimento só para serem plenamente compreendidas.
Atualmente, em todo mundo, bolsas de valores, bancos centrais e multinacionais têm incorporado os indicadores ESG em seus relatórios e planos de ação. Existem até mesmo iniciativas para regulação e monitoramento de ações de empresas a partir dos indicadores ESG para acesso a crédito e financiamentos públicos, como o Banco Central do Brasil está planejando implementar.
Por trás desta miscelânea de siglas e indicadores, todos os planos globais pelo clima visam o mesmo objetivo: a redução na emissão de gases poluentes e a transição para uma economia de baixo carbono com estratégias a curto, meio e longo prazo e resultados mensuráveis comengajamento de diferentes setores econômicos e governamentais. Porém, apesar dos esforços, nenhum dos planos internacionais pelo clima se mostraram capazes de convergir para o consenso e ser amplamente adotado a nível global.
E os esforços por este consenso continuam. Recentemente, a ONU anuncioua década de 2021 até 2030 como a “Década da Restauração de Ecossistemas”. Uma convocação global para a proteção e revitalização dos ecossistemas naturais do mundo.
O meio empresarial também tem se movimentado, mesmo que ainda de forma insuficiente. Um novo plano direcionado para governantes e setores empresariais foi apresentadona 15ª Conferência das Partes pela Biodiversidade (COP15). Chamado de “Novo Marco Global para Biodiversidade pós-2020”,visa estabelecer metas para a conservação e o uso sustentável de recursos naturais, com foco na biodiversidade. A expectativa, segundo especialistas, é que o marco seja uma espécie de “Acordo de Paris para a biodiversidade''.
Estas novas metas substituem as 20 Metas de Aichi, que foram estabelecidas durante a 10ª Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica (COP-10) para o período de 2011 a 2020, porém finalizou em desalento: nenhuma meta alcançada. Este fato acendeu mais um alerta sobre o real comprometimento dos países em realizar as ações propostas.
Como vimos nos artigos anteriores, “Sustentabilidade ou Morte. A humanidade entre a extinção e a regeneração” e no último “A evolução do capitalismo é a melhor solução para um futuro desejável de regeneração”, o nosso atual modo de produção e modelo econômico não estão sendo capazes de lidar com as complexidades das questões ambientais e climáticas que hoje já se apresentam como uma realidade irrefutável.
Existe uma real necessidade de ação ampla e coordenada a nível global. “Apesar de algum progresso, as condições da Terra continuam se deteriorando. Por mais irracional que pareça, a humanidade continua preocupada com o dia a dia, o lucro imediato, sem se incomodar com o colapso futuro, por mais próximo que esse colapso esteja”, ressalta o pesquisador José Pedro de Oliveira Costa, do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, que já foi secretário de biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente.
Para reverter este cenário, apesar dos desafios, os planos globais pelo clima e natureza são partes fundamentais na esperança de uma sociedade mais sustentável e resiliente para as atuais e futuras gerações.
A cooperação e consenso internacional devem estimular a adoção de políticas públicas e mecanismos eficazes que garantam o cumprimento das metas propostas nos planos. Mais do que isso, precisamos de novos modelos econômicos que estimulem uma “corrida pelo verde”, onde organizações e empresas terão maior valor ao serem respeitosas e comprometidas com ações socioambientais.
Paralelamente, campanhas educativas de conscientização social e a participação popular na adoção de práticas mais sustentáveis serão também fundamentais para o sucesso dos planos globais pelo clima.
Todos os esforços devem ser realizados na missão equilibrar o desenvolvimento econômico com aspectos vitais da natureza que garantem a nossa própria sobrevivência como espécie neste planeta.
Para um planeta saudável e um futuro de regeneração será preciso “evoluir” o sistema econômico. O progresso humano não pode mais ser sinônimo de destruição da natureza.
Chegou o tempo em que nosso único caminho é colocar a natureza no centro do desenvolvimento humano. Precisamos de profissionais e lideranças dispostos a trabalhar na construção de consensos e soluções para modelos de desenvolvimento em harmonia com a natureza. É hora de agir pelo nosso próprio futuro.