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Quem fez minhas roupas? Vestir-se bem para mudar a sociedade e a indústria da moda

Por Renata Del Vecchio |
| Tempo de leitura: 3 min

A moda nos ajuda a expressar quem somos e influencia toda uma geração. É por este motivo que, na atualidade, não basta se vestir bem. Ser elegante tornou-se sinônimo de escolhas mais sustentáveis, priorizando marcas que estão conscientes do seu papel transformador e que ditam à sociedade tendências que colocam em cena questões ambientais, sociais e econômicas. 

A preocupação de ressaltar temáticas urgentes, por meio das roupas, sempre existiu na história da moda, entretanto, a maneira como as pessoas consomem e compreendem as marcas está mudando. Afinal, quando uma nova coleção é lançada, todas as tendências apresentadas anteriormente se tornam ultrapassadas. E essa velocidade de renovação das tendências levanta debates sobre o consumo excessivo, o desperdício, o impacto ambiental, entre outros.

Diante deste cenário, há movimentos globais trabalhando para aumentar a conscientização sobre o verdadeiro custo da moda e o impacto dela no mundo, em todas as fases do processo de produção e de consumo. É o caso do “Fashion Revolution”, que surgiu em 2013, após o desabamento do prédio Rana Plaza, em Bangladesh, onde trabalhavam várias costureiras para grandes marcas internacionais, resultando na morte de 1.134 pessoas e outras 2.500 feridas. 

“As marcas não se responsabilizaram pelo ocorrido, pois tratava-se de trabalho terceirizado. Muitas mulheres, costureiras, tiveram pernas, braços e mãos amputadas, ficando impossibilitadas de trabalhar. Sob a luz desse desastre, duas estilistas se uniram, Orsola de Castro e Carry Somers, criando o ‘Fashion Revolution’ para incentivar as pessoas a olharem para toda a cadeia produtiva da moda, não apenas para as vitrines”, explicou Mara Debora Costa, consultora de estilo sustentável e representante do movimento em São José dos Campos.

Reflexão. À época, as fundadoras do movimento lançaram uma pergunta que permanece até hoje, “who made my clothes?”, que traduzida do inglês significa “quem fez as minhas roupas?”, para inspirar mudanças em uma indústria que é reconhecida por nem sempre valorizar as pessoas, o meio ambiente ou a criatividade, tendo o lucro como o fator mais importante. 

“A moda é uma cadeia que possibilita rendimento para muitas mulheres. É a que possui, em essência, o uso de materiais naturais, mas que, tomada pelo lucro imediato, pela ganância dos executivos, em maioria homens, tornaram a indústria da moda um setor que explora funcionários, com salários injustos e situações análogas à escravidão, exaurindo os recursos naturais, tingindo rios, contaminando solo com a produção de algodão com agrotóxicos, com a produção de tecidos sintéticos provenientes do petróleo”, alertou Mara Debora. 

A consultora de imagem e estilo Francini Galvão Nogueira concorda e reforça que o que as pessoas vestem diariamente tem inúmeros significados psicológicos, culturais e sociais. Isso porque, segundo ela, a moda faz uma leitura do cenário atual e reflete as mudanças de valores, estabelece vínculos com os pensamentos atuais, com as descobertas científicas, evoluções tecnológicas e com as características históricas de cada momento.

“Essa temática precisa ser levada mais a sério. A indústria da moda ocupa uma posição de destaque entre as maiores atividades econômicas mundiais. Temas como empreendedorismo feminino, diversidade e inclusão, sustentabilidade, produção e consumo, slow fashion e plus size precisam fazer parte do DNA das marcas para que possamos ir além”, disse a consultora. 

O futuro é agora. Se são as nossas escolhas que definirão como o mundo mudará, Mara Debora já está fazendo a parte dela como uma das fundadoras da plataforma “Pega Aí”, ao lado da sócia Caroline Caron.  Por lá, elas propõem o reconsumo, sendo possível vender, trocar e doar qualquer item que esteja sem utilidade na sua casa. A lista vai desde roupas, calçados e acessórios, até itens para bebê, perfumaria, eletrodomésticos e móveis.

“Com a missão de ampliar o ciclo de vida dos materiais e adiar o fim, a plataforma viabiliza a conexão entre quem gera o resíduo com quem necessita do resíduo. Somos ativistas no combate à cultura do desperdício”, explicou Mara, ao emendar uma reflexão. “Estar bem vestida é estar bem consigo mesma. Não são somente as suas roupas que a tornam elegante, mas as suas atitudes. Escolha ser mais sustentável”. 

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