Eu era uma inexperiente estudante de jornalismo quando o então coordenador do curso me aconselhou: “Tira a pedra”. Voltávamos de São Paulo para Taubaté por conta da final de um concurso que contemplaria o vencedor com uma bolsa de estudos para a Universidade de Navarra, na Espanha. Eu representava a minha universidade e não fora a escolhida da ocasião.
À época, a fala do professor Felício Murade me fez cessar o choro quase que de imediato e me pôs a refletir. Na viagem de retorno para casa, estava eu a desabafar em palavras desconexas as minhas falhas e causas possíveis de eu não conquistar o prêmio. Eu me questionava se teria falado demais ou de menos aos medalhões do jornalismo que me entrevistaram. Estava tão obcecada em encontrar meu erro que não conseguia enxergar o caminho vitorioso que trilhara até ali.
Recentemente, a frase “Tira a pedra” me revisitou numa situação espantosamente hostil. E soou tão acolhedora como o cuidado de uma pessoa querida, que nos refrigera a alma com uma conversa firme, porém, carinhosa.
Tirar a pedra é deixar de sofrer com o desnecessário. É descabido padecer por alguém não ser minimamente educado com você, fato hodierno que me fez rememorar o conselho do nobre professor.
Tirar a pedra é eliminar da jogada o sentimentalismo “adiposo” e fazer o que precisa ser feito, sem drama. Tirar a pedra é abrir mão de expectativas criadas na mente fantasiosa e encarar o fato concreto de que nem sempre a gente leva o troféu para casa. Tirar a pedra é compreender que a caminhada vai ser mais leve se a bagagem não estiver cheia de sentimentos frívolos, peças desgastadas e artigos inapropriados.
Ninguém leva biquíni para acampar na montanha nem lágrimas de tristeza a uma boda de 15 anos. Mais do que ser desaprovado pelo código de etiquetas universal, carregar itens do tipo em tais circunstâncias só traria a sensação de que seria melhor ficar em casa.
E a pedra pesa. O peso não é fixo. É diretamente proporcional ao tempo. Uma pedra miudinha chega a pesar uns bons quilos quando se insiste em não largá-la. Às vezes, por puro apego. E o apego vira hábito que se torna comportamento. Aquilo que era insignificante vai ganhando cada vez mais importância. E peso.
Num dia qualquer, você descobre que está cansado de carregar uma pedra que já perdeu o sentido. Mas, sem saber o porquê, também não consegue dela se desfazer. A pedra já se aderiu à sua massa corpórea, e são uma coisa só.
Antes que a pedra pese, é melhor arremessá-la no rio do esquecimento que deságua no mar da aceitação. Nem tudo vale o peso que uma pedra tem. Passados dezesseis anos do tal concurso, me descobri premiada com a fala do professor Felício. E leve!