Todos os dias eu acordo às 5h30 da manhã para acompanhar o noticiário nacional e internacional. Saber o que falam do Brasil. Sinalizar para onde caminha a economia global, a guerra na Ucrânia, a guerra fria entre os Estados Unidos e a China.
Todos os dias, à tarde, eu me dedico a verificar quais assuntos evoluem no noticiário on-line, e aqueles que têm potencial de repercussão negativa para a imagem do país.
A rotina diária é implacável. Assim, como a percepção negativa do Brasil.
Viramos um pária internacional. Somos alvos de chacota entre “los Hermanos”, somos alvos de críticas contumazes entre os mais prestigiosos veículos de imprensa estrangeiros.
Esse azedume teve início com a eleição de Bolsonaro e se acentuou durante o caos governamental na pandemia. Isso sem falar na pauta ambiental, que acossa Bolsonaro desde o seu primeiro dia no Planalto e é hoje, sem dúvida, a principal fonte de descrédito internacional do Brasil.
Se Bolsonaro se reeleger, é certo que o Brasil estará definitivamente entregue à prateleira dos países com políticas públicas mais repugnantes do planeta. Na escala do horror, estaria ali, bem ao lado de países autoritários como a Arábia Saudita, que o capitão e seus filhos tanto admiram.
Não pretendo convencer ninguém a respeito disso. O que escrevemos hoje, mesmo no papel, se destina apenas às bolhas.
O que me interessa é apenas esse desabafo em forma de desalento, que é quase o que resta à minha geração. Uma geração que sonhou um dia que o Brasil iria emergir das sombras da ditatura militar, reconstruir a democracia e estabelecer políticas públicas para superar problemas como a gritante desigualdade social.
Durante muito tempo, o país avançou, eu constatei. Vimos alguns dos mais improváveis sonhos se tornarem realidade. Fizemos quase uma revolução monetária com uma mudança de moeda. Comemoramos a saída do país do mapa da fome. Nos livramos da dependência criminosa do FMI. Quintuplicamos as vagas nas universidades públicas e multiplicamos por 20 as escolas técnicas.
De um certo tempo pra cá, no entanto, parte da população brasileira abraçou a tese de que nada disso importa. O que realmente nos move é a marcha da insensatez.
Antes de Bolsonaro ser eleito, em 2018, publiquei trechos do poema “A Espera dos Bárbaros” para criticar a indiferença de boa parte da população diante do avanço do protofascismo. Uma maioria silenciosa que, por fim, abraçou docilmente a candidatura do capitão de extrema-direita, embalada pela ilusão de que se tratava de um “antipolítico”.
Hoje, a dois meses das eleições, repito a última estrofe do poema para alertar que nós, agora, ao que parece que não sabemos mais viver sem a barbárie. “Sem bárbaros o que será de nós? Ah! eles eram a solução.”