Vivacità

Todas são lindas e normais: nenhuma vagina é igual a outra e nós devemos nos olhar com mais carinho

Por Renata Del Vecchio | 31/07/2022 | Tempo de leitura: 3 min

Cores, tamanhos, formatos e texturas. Nenhuma vagina é igual a outra e a diversidade feminina, que  deveria ser celebrada, tem sido combatida com cirurgias íntimas como a ninfloplastia – também conhecida como labioplastia. Se ao longo da história as mulheres não tinham o hábito de se olhar e de se tocar, agora, elas se observam e se conhecem cada vez mais, entretanto, o olhar é crítico e vem carregado de padrões estéticos que são alimentados pela indústria pornô. 

Foi assim com a empresária Brenda Caroline, de 28 anos, que após enfrentar o constrangimento de ser questionada sobre a anatomia da própria vagina por um ex-namorado, nunca mais se sentiu satisfeita com o que enxergava no espelho. “Eu já vi casos mais sérios, mas meus pequenos lábios eram irregulares, um maior que o outro. Muitas vezes, não é nem o homem que se incomoda com aquilo, é coisa da cabeça da mulher, mas que afeta bastante o psicológico e a feminilidade. Me sinto muito mais confiante agora”, afirmou Brenda. 

A médica ginecologista e obstetra Bruna Hashimoto Salaorni Bortolansa confirma que os grandes e pequenos lábios podem variar muito de tamanho e isso não caracteriza uma patologia. Pelo contrário, se nenhuma outra parte do corpo da mulher é igual a de outra, por qual razão a vagina e a vulva seriam iguais para todas? 

“Há até mesmo diferença entre o nosso lado direito e esquerdo do corpo. São poucas as pessoas completamente simétricas. Ao longo da vida da mulher, eles (pequenos lábios) podem se modificar, por exemplo, durante a gestação, com ganho ou perda de peso acentuados e uso de alguns hormônios, principalmente para aumento de massa muscular”, disse Hashimoto. 

Padrões. A decisão de Brenda de realizar a cirurgia íntima aconteceu há três anos. Apesar de não se arrepender - ela garante que o procedimento cirúrgico é simples e a recuperação rápida -, a empresária confirma que se essa ideia de que todas as vaginas são únicas e que não há nada de errado com as diferenças estivesse difundida, ela certamente não teria feito o procedimento. 

“Quando você tem relação sexual, os lábios incham e a diferença de tamanho fica mais evidente ainda. Os homens não conhecem o corpo de uma mulher porque, se conhecessem, saberiam que as vaginas são diferentes. Quem sabe se tivéssemos educação sexual nas escolas, nós, mulheres, enfrentaríamos menos constrangimento?”, indagou a empresária. 

Para Brenda, a decisão de optar, ou não, por uma cirurgia íntima tem influência da pressão e da imposição de padrões estéticos que as mulheres enfrentam para alcançar a “perfeição”. “Ainda é pouco, mas isso está mudando. As mulheres estão se impondo e se aceitando mais. Se ela tem peito pequeno, é assim que ela vai ficar, porque ela não vai aumentar somente porque os homens gostam”, completou. 

Para despertar essa consciência e discussão, é possível encontrar perfis nas redes sociais como o The Vulva Gallery, onde a artista Hilde Atalanta, de Amsterdã, na Holanda, pinta com aquarela e tinta a óleo vaginas das mais diversas cores e formas; o Vulva Casting, da artista austríaca Viktoria Krug que, no ateliê dela, transforma vulvas reais em obras de gesso; e o da americana Suzanna Scott, que transforma porta-moedas em genitálias femininas e outros objetos comuns do cotidiano em símbolos de empoderamento feminino.

“Este livro pretende abrir a conversa sobre um tema que ainda é cercado de tabu e vergonha. Ao mostrar a diversidade, nos educar sobre anatomia e saúde sexual e falar abertamente sobre nossas experiências e nossas inseguranças, podemos mudar a maneira como olhamos para nossos corpos – e os corpos dos outros”, escreve a artista Hilde Atalanta no livro “Celebration Vulva Diversity”, onde aborda o tema em mais de 650 ilustrações. 

Recomendação.

A médica Bruna Hashimoto confirma que apesar da estética ser a principal motivação para uma mulher recorrer à ninfoplastia, a questão funcional também deve ser considerada. “Pequenos lábios com tamanho aumentado podem atrapalhar na relação sexual, causando dor na penetração e até desconforto no uso de roupas mais justas e roupas de banho. A redução é também indicada para dar mais simetria à vulva, após cirurgias bariátricas e plásticas como abdominoplastia, que modificam a região genital”, finalizou Hashimoto. 

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