Em 1981, João do Pulo, atleta de Pindamonhangaba, faturou o tricampeonato mundial no salto triplo. Ele, que já tinha dois bronzes olímpicos, batia mais recordes na carreira. E, 40 anos depois da conquista, OVALE relembra a história do menino negro e órfão que começou a trabalhar aos 7 anos, superando obstáculos aparentemente intransponíveis, e que em um salto do destino tornou-se um dos maiores atletas brasileiros da história, personagem que se viu envolvido indiretamente até na Guerra Fria.O menino do Vale, envolvido nessa disputa geopolítica, teve a chance do ouro tirada após uma das decisões mais controversas da história olímpica.
E tudo aconteceu durante os Jogos Olímpicos de Moscou, em 1980, no auge da disputa política entre os blocos capitalista e socialista. Já recordista mundial, com marca de 17,89m, o atleta da região conseguiu teve dois saltos anulados pelos juízes, que alegaram irregularidades. Um deles passou a marca dos 18m, o que seria um novo recorde mundial.
Nos bastidores, diziam que a ideia era favorecer o atleta da casa, Viktor Saneyev, que ainda assim ficou com a prata, enquanto Jaak Uudmae, outro competidor soviético, ficou com o ouro. Ao brasileiro, restou o bronze.
Há alguns anos, o jornal australiano The Sydney Morning Herald, fez uma minunciosa reportagem demonstrando que os saltos anulados do brasileiro faziam parte de uma operação soviética para dar o tetracampeonato olímpico a Saneyev.
João do Pulo morreu em 1999. Em vida, nunca escondeu a decepção com a perda da medalha. “Já sabia que eu tinha vencido na prova e, provavelmente, alcançado um novo recorde mundial. Não acreditei que tivesse sido nulo, e por essa injustiça chorei pela primeira vez na vida”, disse o brasileiro em uma entrevista.
TÍTULOS E TRAGÉDIA.
João do Pulo, que já tinha sido medalha de bronze nos Jogos de Montreal, em 1976, teve três títulos mundiais na carreira. Se não veio o ouro olímpico, ao menos teve o gosto de subir três vezes ao lugar mais alto do pódio no Mundial, em 1977, em Dusseldorf, na Alemanha, em 1979, em Montreal, e em 1981, Roma.
Porém, no final daquele mesmo ano, a carreira do pindense foi tragicamente interrompida em um acidente de carro na Via Anhanguera, entre Campinas e São Paulo. Lá, ele teve uma perna amputada. E, aos 27 anos, João do Pulo nunca mais pôde competir.
Depois, chegou a se arriscar na carreira política, foi eleito deputado estadual por duas vezes, mas a depressão e o alcoolismo o acompanharam até o final de sua vida, em 1999, quando morreu vítima de cirrose hepática.
E um dos maiores nomes do atletismo brasileiro de todos os tempos morreu solitário e com dificuldades financeiras nos últimos anos de vida.
Prefeitura
Em novembro do ano passado, a prefeitura de Pindamonhangaba colocou uma nova estátua em homenagem a João do Pulo na entrada da cidade. Porém, a obra ficou aquém do esperado e, um dia depois, foi removida. Desde então, uma nova homenagem ainda não foi feita. “A prefeitura está buscando parceria com empresas privadas para custeio de um novo monumento ao campeão João Carlos de Oliveira, João do Pulo”, disse em nota. “Nos últimos meses, o município buscou várias empresas, apresentou projetos e a lei de capacitação de recursos, que permite que o segmento privado faça doações para a cidade. Recentemente um artista apresentou o esboço de um novo monumento. A expectativa é criar uma obra que represente a grandiosidade dos feitos do nosso campeão mundial e que também atenta aos anseios da população”, afirmou em nota.