Ideias

o sonho que se sonha junto vira realidade

Por Guilhermo CodazziJornalista e escritor, editor-chefe de OVALE e da Gazeta de Taubaté | 30/11/2018 | Tempo de leitura: 2 min

'Quero ver os meus sonhos'.

Assim meu primo Bruno, ainda com aquele olhar puro e doce de criança, respondia à pergunta que lhe faziam insistentemente: afinal, por que você dorme de óculos?

Desde cedo o Abelhinha, como nós o chamávamos, usava óculos fundo de garrafa, com a armação preta e bem grossa -- era parecida com a da Chiquinha, do 'Chaves'.

Recordo-me dele, com seus 4 ou 5 anos, já com os óculos até mesmo na praia do Leblon, no Rio de Janeiro, onde morava a família da minha mãe -- avós, tios e primos, muitos e muitos primos.

Mas a palavra primo não define com precisão aquilo que éramos. Nós, que me desculpe o Aurélio e os demais léxicos, sempre fomos irmãos. Inseparáveis. Eu de janeiro de 1981, ele de março de 1982, juntinho com o meu irmão Julio, que completava o nosso time.

Crescemos juntos. Nós aqui, ele lá no Rio. Mais do que isso,aprendemos a sonhar juntos. E sonhávamos muito, mas muito alto.

Um exemplo?

Bruno e eu jogaríamos no Corinthians, time do meu coração, e Flamengo, um dos amores dele. Juntos, obviamente. Mais tarde, o futebol e nossas caneladas deixaram claro que o ideal seria mudar de plano e, por isso, passamos a sonhar em ganhar a vida com jornalismo esportivo.

Anos mais tarde, no entanto, ele foi diagnosticado com câncer. Foi uma dura batalha, dolorosa para todos. Quatro anos, até que ele se foi feito um passarinho em 2000 -- um dia antes de fazer 18 anos.

Desde aquele tempo, guardei no peito a vontade de poder participar, contribuir de alguma forma, com crianças e adolescentes que enfrentam essa dura batalha.

Este ano, aqui dentro da redação de OVALE, surgiu a ideia de criarmos uma 'corrente do bem' envolvendo jornal, galeria Victor Hugo e dezenas de artistas para o benefício do Gacc (Grupo de Assistência à Criança com Câncer), entidade que atende 500 crianças e adolescentes com a doença.

O poeta Raul Seixas cantava que o sonho que se sonha só é só um sonho, mas o sonho que se sonha junto é realidade. E em um tempo com tanta divisão, a solidariedade uniu dezenas de pessoas dispostas a praticar a arte de amar o próximo, como a si mesmas.

Vez ou outra, encontro o Bruno quando adormeço. Espero vê-lo hoje. Ei, Abelhinha, não esquece os óculos. O sonho vai ser lindo..

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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