
Qual o impacto econômico que um evento cultural pode ter? Muito além do simples entretenimento, ele pode criar empregos, gerar renda e arrecadar impostos, entre tantos outros benefícios financeiros.
E é para mostrar que é possível calcular esse retorno, que a FGV (Fundação Getúlio Vargas) desenvolveu uma metodologia que permite mensurar dados como esses e comprovar que o resultado financeiro de eventos culturais vai além do valor inicialmente investido.
O tema foi abordado durante palestra no MicBR (Mercado das Indústrias Criativas do brasil), evento promovido pelo MinC (Ministério da Cultura) e pela Apex-Brasil, em São Paulo.
O primeiro programa avaliado pela instituição foi "Rio de Janeiro a Janeiro". Lançado pelo Ministério no final do ano passado, ele visa contribuir para a revitalização econômica do Estado fluminense por meio do apoio à realização de eventos capazes de atrair investimentos e turistas.
Cada real investido nos eventos do programa resultou em um retorno de R$ 13. Segundo os dados, o Carnaval carioca, por exemplo, gerou R$ 3,02 bilhões; enquanto o evento Game XP, R$ 53,9 milhões.
A Flip (Feira Literária Internacional de Paraty), por sua vez, gerou retorno econômico da ordem de R$ 47 milhões, além de R$ 4,7 milhões em impostos. Tudo isso a partir de R$ 3,5 milhões (R$ 3 milhões em investimento público e R$ 500 mil de outras fontes) investidos na organização do evento.
"O Ministério da Cultura viu uma oportunidade de enxergar o setor cultural e de eventos como algo que prova que vão além de entretenimento e que podem fomentar a economia do local", afirmou Lauro Nobre, coordenador da Fundação Getúlio Vargas, no MicBR. "E nós queremos mostrar que a cultura tem um viés econômico e que isso pode, sim, ser mensurado", destacou.
A iniciativa do governo federal selecionou 154 projetos, que tiveram impacto de R$13,2 bilhões e geraram 351 mil postos de trabalho.
Oportunidade
Ainda segundo Nobre, a FGV realizou estudos específicos para Réveillon e Anima Mundi, ambos no Rio de Janeiro.
E, para conseguir implementar o programa, a Fundação precisou delimitar o perfil dos projetos, a forma de inscrição, elaborar a concepção de um banco de dados e de um regulamento, além de desenvolver um hotsite e uma metodologia de cálculo e avaliação.
Também ocorreu um acompanhamento pós-evento, que procurou comparar resultados estimados com os de fato registrados.
Em relação à metodologia, foram vários os parâmetros. Segundo o MinC, foi estabelecido, por exemplo, o retorno sobre investimento público - que é tratado só sob a ótica do governo - e o índice de alavancagem econômica - que é o retorno sobre o investimento sob a ótica da sociedade.
"O primeiro é medido pela divisão do retorno em tributos pelo investimento público e o segundo corresponde ao impacto econômico total dividido pelo investimento total", informou nota.
Para cada eixo do programa, que inclui temas como o impacto na geração do emprego, o impacto social e o potencial de continuidade e expansão, foram consideradas variáveis. Entre elas, número de edições anteriores, quando ocorreu a última edição, expectativa de novas edições, valor pleiteado, percentual de mão de obra contratada, e número de turistas brasileiros e estrangeiros presentes.
A FGV leva em conta ainda o efeito cascata que os gastos efetuados pelos frequentadores têm na economia local. Ou seja, os recursos gastos com hotéis, restaurantes, bares e transporte, se expandem para outros setores da economia, já que os prestadores desses serviços precisam adquirir matérias-primas e outros serviços com seus fornecedores.
"Esse pacote de metodologia está pronto e pode ser usado por outras instituições, uma vez que é adaptável a outras realidades", disse Nobre..