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Cine "Black" Joia, uma noite de talco no chão com Lee Fields

Por Adriano Pereira |
| Tempo de leitura: 2 min
Lee Fields e seu terno azul no palco do Cine Joia, em São Paulo
Lee Fields e seu terno azul no palco do Cine Joia, em São Paulo

Confesso: fui ao Cine Joia procurando o cara que já chamaram de “Little James Brown” por conta da semelhança entre as vozes dele, Lee Fields, e do rei do soul, e acabei encontrando uma festa black que surpreenderia os mais incautos, no caso eu mesmo.

Elmer “Lee” Fields trouxe para a noite de ontem seus 43 anos de carreira e uma bagagem de soul e funk que impressiona. O cara já excursionou inclusive com o Kool and The Gang, seu disco mais recente “Special Night” (2016) ainda guarda aquela voz rasgada, negra e a sonoridade da banda parece até que vem acompanhada daquele chiado do vinil.

Antes de entrar no palco, o gênero musical já estava rolando nas caixas de som. No início, poucos corajosos espalhavam o talco que foi colocado no chão pra galera deslizar. E sim, foi uma noite “deslizante” para o público que foi ao Cine Joia, nessa quinta-feira. Visual black para a galera, sapatos de dança nos pés e aos poucos os primeiros corajosos viraram um bando que se conectou de forma linda.

Lee Fileds subiu ao palco depois de um pequeno problema técnico com o teclado que atrasou o início do show. Nada que tenha atrapalhado a vibe do lugar que era das melhores. O terno azul brilhante ganhava um ar meio de karaokê – afinal, estamos no bairro da Liberdade e o trocadilho infame é inevitável – mas uma coisa setentista também era óbvia.

A dinâmica do show foi até que previsível, alternar entre grooves e baladas mais ligadas ao soul como “Work to Do”. Mas a performance da voz dele é que deixa todo mundo num transe coletivo. Quando ele berra, você até olha para o palco de novo para ver se não é James Brown incorporado em outro artista.

Durante uma hora e meia, com direito a bis e a esposa dele dançando timidamente no meio da galera, o Cine Joia poderia ser o Apollo, mas era a noite paulistana mostrando suas diversas faces e tribos. Há uma cena engajada e divertida que se leva muito a sério, e tem que ser assim. O termo “funk” foi desvirtuado no Brasil pela massa, se transformou numa moda fora do seu contexto, apropriado pela classe média e não representa em nada o que rolou ontem à noite. O talco no chão ainda está nos meus pés e o sono de hoje tá cheio de balanço.

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