Ideias

A hipocrisia atávica do Brasil

Por Marcos MeirellesJornalista |
| Tempo de leitura: 2 min

Era uma vez, no século 20, um país do oriente médio, que fabricava e vendia tanques de guerra.

A fabricação e venda de veículos militares para o exterior era subsidiada pelo governo, mas a conquista de novos mercados dependia de expedientes extras. A empresa de tanques criou então um comitê especial de vendas, que recebia autorização velada para subornar políticos nos países cobiçados.

Tudo correu bem durante anos, mas, então, surgiram denúncias de ex-funcionários sobre propinas pagas a políticos. O governo do oriente médio fingiu que o assunto não lhe dizia respeito, mas procuradores e juízes descobriram que o dinheiro público emprestado para a venda de tanques vinha sendo utilizado em subornos.

A turma do comitê especial foi condenada. Ninguém foi para a cadeia efetivamente, por óbvio. A empresa que vendia seus tanques para governos corruptos também se eximiu de qualquer culpa. E todos seguiram felizes como sempre...

Esta é uma fábula do século 20, mas poderia ser o relato de um crime do século 21.

Um dos grandes problemas do Brasil é a hipocrisia com que tratamos a prática atávica da corrupção.

Temos corruptos de estimação e ações criminosas que aceitamos como indeléveis.

A prática da "caixinha" (apropriação de salários de assessores por políticos) está disseminada no país e legitimada como "crime tolerável". Não é por outra razão que um molecote eleito senador se insurge contra os relatórios do Coaf.

O Brasil de 2019 será o que? Um dia teremos plebiscito sobre a pena de morte, no dia seguinte teremos o paizão desmentindo outro molecote. Outro dia teremos o próprio paizão incitando o ódio contra os imigrantes, sustentando que a vida na França se tornou insustentável (????) por causa daqueles que "têm algo dentro de si que não abandonam".

Prezado mito, algum incauto deveria lhe informar: a França em termos de qualidade de vida é zilhões de vezes melhor do que Mambucaba. As chaves do sucesso francês: apreço pela democracia, tolerância e investimento em educação.

Tudo o que o seu clã, aparentemente, abomina..

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