O Brasil figura em primeiro lugar com a maior incidência de transtorno de ansiedade, comparado com outros países das Américas. O dado alarmante foi divulgado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) no início de 2017.
A pesquisa aponta que 9,3% dos brasileiros apresentam algum tipo de transtorno de ansiedade. Apesar de apontadas por especialistas como “doença do século”, junto da depressão, trata-se de um problema de saúde que muitas vezes passa despercebido por preconceito ou falta de informação.
A maioria dos distúrbios de ansiedade começa a dar sinais mais evidentes na fase pré-escolar, quando a criança apresenta dificuldades no aprendizado (veja o quadro pg.36. Um dos principais é o TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade), que afeta cerca de 5% de crianças e adolescentes no mundo, segundo a ABDA (Associação Brasileira de Déficit de Atenção).
É um distúrbio neurobiológico crônico que se caracteriza por desatenção, desassossego e impulsividade, conforme esclarece o médico Drauzio Varella em artigo. “A dificuldade para manter o foco nas atividades propostas e a agitação motora que caracterizam a síndrome podem prejudicar o aproveitamento escolar e ser responsável por rótulos depreciativos que não correspondem ao potencial psicopedagógico dessas crianças”, escreveu.
Preconceito que, aliás, ronda milhares de famílias, como a da engenheira Silmara Rinaldo, 37 anos, de São José, que tem dois filhos com TDAH: o Pedro, de 11 anos, e o Yuri, de seis.
“No caso do Pedro, a professora sinalizou que ele dispersava muito fácil e, por isso, estava com dificuldade de acompanhar a turma. Buscamos uma avaliação de profissionais e foi constatado Déficit de Processamento Auditivo Central. Não há remédio, mas tratamento”, contou. “Ele não tem dificuldade de aprendizado. Ele tem dificuldade de manter a atenção”, explicou.
Já seu caçula mostrou os primeiros sinais de TDAH também no ambiente escolar. “Ele perdia borracha, lápis, caderno... Eu não aguentava mais comprar material escolar para ele! Então, comentando com colegas no trabalho, um deles contou que o filho tem hiperatividade e esse havia sido um dos sintomas que a criança demonstrou. Conversei com a professora, ela sinalizou que havia a possibilidade e então busquei uma avaliação médica. Foi constatado TDAH com hiperatividade”.
Diagnóstico.
Quando predomina a desatenção no TDAH, os pacientes apresentam dificuldade maior de concentração, na organização das atividades e de seguir instruções. Ainda segundo Varella, são pessoas que se distraem com facilidade e frequentemente esquecem o que tinham para fazer ou onde colocaram seus pertences.
“Não conseguem prestar atenção em detalhes, costumam demorar para iniciar as tarefas e cometem erros por descuido e distração, o que pode prejudicar o processo de aprendizagem e a atuação profissional”, afirmou em texto.
Já nos casos em que prevalece a hiperatividade, os portadores do distúrbio são inquietos, agitados e falam muito. “Dificilmente conseguem participar de atividades sedentárias e manter silêncio durante as brincadeiras ou realização dos trabalhos.”
Já no caso da impulsividade, os sinais marcantes são: impaciência, agir sem pensar, dificuldade para ouvir as perguntas até o fim, precipitação para falar e intromissão nos assuntos, conversas e atividades alheias.
Silmara achava que Yuri era apenas um garoto acelerado. “Eu percebia que ele não conseguia ficar sentado nem para comer. A professora da creche reclamava dele todo dia. Eu me perguntava se ela não tinha nada de positivo para falar dele”, contou ela que chorou várias vezes ao saber do diagnóstico.
“É muito difícil ter de dar remédio controlado para uma criança tão pequena. Mas é preciso. Os benefícios que a medicação traz para ele são maiores do que quaisquer efeitos colaterais”, disse a engenheira. Para ela, a maioria das escolas tanto as da rede pública quanto as privadas, não têm preparo para lidar com casos assim.
“Nenhum dos meus filhos têm atraso de desenvolvimento. Aprenderam a falar, se expressam muito bem, não tem qualquer problema motor. A distração que os atrapalha. E quando levei o diagnóstico nas escolas, algumas nunca tinham sequer ouvido falar na existência disso!”, afirmou. “A criança fica com o rótulo de atrapalhada, capetinha... Quando na verdade, é preciso um diálogo que faça profissionais de educação conhecerem e entenderem o problema para que possam ajudar a criança a se desenvolver e adquirir conhecimento”.
A rotina em sala de aula.
Um diagnóstico correto por especialistas é fundamental em caso de distúrbios de aprendizagem. O alerta é da orientadora educacional do Ensino Médio do colégio Poliedro, de São José, Sheila Cristina de Almeida e Silva Machado.
A instituição atende hoje alunos com déficit de atenção e dislexia. “Às vezes, a própria família informa o colégio, inclusive trazendo laudos de profissionais especializados. Outras vezes percebemos na rotina escolar e então avisamos e orientamos a família para que procurem especialistas que possam obter o diagnóstico exato”, disse a orientadora.
Segundo ela, esses alunos geralmente apresentam dificuldades em relação à concentração, intepretação de texto, em exatas e na linguagem escrita. “O colégio, por meio da Coordenação e Orientação, fornece as informações de cada caso para os docentes, que são orientados quanto às estratégias e metodologias de apoio.”
Nos dias de prova, por exemplo, eles fazem a avaliação em sala separada para terem mais tempo e tranquilidade na realização das atividades. “Todos podem aprender. É preciso encontrar os melhores caminhos e a metodologia adequada para cada caso”, ressaltou Sheila.
Ainda segundo a orientadora, a participação da família é essencial no processo. “Esses alunos precisam de muito apoio e incentivo em casa e na escola”.
--
Conheça os principais distúrbios de aprendizagem
DISLEXIA
Dificuldade que aparece na leitura, impedindo o aluno de ser fluente. Ele faz trocas ou omissões de letras, inverte sílabas, apresenta leitura lenta, dá pulos de linhas ao ler um texto.
DISGRAFIA
Normalmente vem associada à dislexia, refere-se a dificuldade na escrita: letras mal traçadas e ilegíveis, e desorganização ao produzir um texto.
DISCALCULIA
Dificuldade para cálculos e números. De um modo geral, os portadores não identificam os sinais das quatro operações e não sabem usá-los, não entendem enunciados de problemas, não conseguem quantificar ou fazer comparações, não entendem sequências lógicas.
DISLALIA
Dificuldade na emissão da fala, apresenta pronúncia inadequada das palavras, com trocas de fonemas e sons errados, tornando-as confusas. Manifesta-se com frequência em pessoas com problemas no palato, flacidez na língua ou lábio leporino.
DISORTOGRAFIA
Dificuldade na linguagem escrita e também pode aparecer como consequência da dislexia. Suas principais características são: troca de grafemas, desmotivação para escrever, aglutinação ou separação indevida das palavras, falta de percepção e compreensão dos sinais de pontuação e acentuação.
TDAH
O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade é um problema de ordem neurológica, que traz consigo sinais evidentes de inquietude, desatenção, falta de concentração e impulsividade. No entanto, os sintomas podem ser confundidos com causas emocionais. O diagnóstico deve ser feito por especialistas.
Fonte: Portal Brasil Escola
--
Potenciais florescidos
Disturbio de origem neurológica, a dislexia dificulta a aquisição da leitura e escritas fluentes. Pensando nisso, Nadine Heisler idealizou Domlexia, a primeira plataforma para dar conhecimento e valorizar dons de pessoas disléxicas. O propósito é multiplicar informações, colaborar socialmente e estimular boas práticas para disseminar o conhecimento a respeito da doença. “Queremos alcançar todos os envolvidos com a criança disléxica, as escolas e seus professores,os pais e os alunos, para que a sociedade possa valorizar as capacidades e as habilidades de quem é singular”, disse, em nota.
Para saber mais: www.domlexia.com.br
*colaborou Ana Mattos