"Eu vim do teatro, onde eu tinha de me caracterizar. Para mim, o figurino é tão importante quanto cantar. O figurino não me veste, ele mostra meu corpo. É um pretexto para eu não estar nu", cravou em vídeo o artista Ney Matogrosso, cujos vestuários em cena sempre escandalizaram ao mesmo tempo em que divertiram o público.
Difícil quem não pense em Ney e não se lembre do requebrado do seu quadril, dos seus giros que levantavam as tiras que compunham as suas saias e quase revelavam seu sexo. Era um jogo de mostra e esconde absolutamente hipnótico. "Aquilo que eu fazia era uma reação àquela loucura da Ditadura Militar", continuou.
Fato é que, além de seu lugar estar cravado na história da MPB (Musica Popular Brasileira) e na arte como protesto frente ao que está fora do lugar, o cantor também tem seu espaço reservado na história da moda - agora, talvez, de forma ainda mais clara.
Cerca de seus 220 itens, que compõem figurinos colecionados ao longo de 40 anos de carreira, foram doados ao Centro Universitário Senac em 2010. E, agora, após longo período de restauro de algumas das peças, elas passam a fazer parte de uma exposição itinerante. Até o próximo dia 23 de março, será a vez do Vale do Paraíba ter acesso a elas em uma mostra que ocorre no recém-inaugurado Senac Pindamonhangaba.
DETALHES.
Estão na unidade regional, dez figurinos apresentados em manequins especialmente fabricados com as medidas e as feições do artista, além de objetos originais como sapatos, colares e outros adereços,que revelam suas fases multifacetadas.
Entre os destaques, peças usadas na época em que Ney era vocalista do grupo Secos & Molhados, na década de 1970, e os figurinos que foram produzidos para as turnês "Estava Escrito", de 1994, e "Ao Vivo", de 1989.
"A atividade faz parte de inauguração da unidade, que será um polo de moda na região. Os figurinos expostos promovem uma revisita a determinadas épocas e representam um momento social", explicou Ana Claudia Galhardo Palma, gerente da unidade de Pindamonhangaba.
Segundo ela, foram muitos os cuidados ao trazer os itens para a região. "Tudo veio muito bem embalado, uma equipe de São Paulo cuidou de toda a montagem", contou.
O objetivo de instituição é permitir ao público ter contato com essas históricas peças, preservar a memória artística, bem como promover a pesquisa de seus alunos de moda.
"É interessante ver o poder da indumentária, do figurino, de olhar e repensar o quanto ela representa na cultura", disse o carnavalesco e cenógrafo Milton Cunha, curador da mostra, também em vídeo.
Serviço.
O Senac fica na rua Suíça, 1255, Santana, Pindamonhangaba. A mostra pode ser vista de segunda a sexta-feira, das 8h às 21h. e sábado, das 8h às 14h. A entrada é gratuita..
