"Não haverá mais lugar para corrupção" no Brasil. Essa foi uma das frases ditas pelo então candidato a presidente Jair Bolsonaro (PSL) na reta final da campanha. João Doria (PSDB), que na época era apenas postulante ao Palácio dos Bandeirantes, repetia insistentemente que a esquerda era "o maior símbolo da corrupção no Brasil". O discurso de combate à corrupção foi uma das principais armas que levaram ambos à vitória no último dia 28.
Bolsonaro e Doria só irão assumir em janeiro, mas as duas primeiras semanas pós-eleição já foram suficientes para mostrar que há grande diferença entre discurso e prática.
Doria, por exemplo, já anunciou que nomeará Gilberto Kassab (PSD) para a Casa Civil. O indicado é réu por caixa dois, acusado de receber R$ 21 milhões da Odebrecht por fora, de 2008 a 2014.
Bolsonaro não ficou atrás. O presidente eleito já anunciou que nomeará para a Casa Civil o deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM), que em 2017 admitiu não ter declarado R$ 100 mil que recebeu da JBS. Ou seja, caixa dois.
Para tentar manter firme a bandeira de combate à corrupção, Bolsonaro anunciou também que o juiz Sergio Moro, que ganhou notoriedade com a Operação Lava Jato, será seu ministro da Justiça. Nessa sexta-feira, disse que antes Moro "pescava de varinha, agora vai ser com rede arrastão".
Nesse caso, é o próprio Moro quem personaliza a diferença entre discurso e prática. Em 2017, o juiz afirmou que "caixa dois é trapaça, é crime com a democracia", e que seria um tipo de corrupção "pior que enriquecimento ilícito". Agora, confrontado por ser futuro colega de governo de Lorenzoni, disse que o deputado "admitiu o erro, pediu desculpas e tomou providências para repará-lo". A partir de 2019 o ministro da Justiça vai defender que criminosos que se arrependem de seus atos sejam perdoados?
Na prática, ao que tudo indica, o que vai prevalecer mesmo é o 'discurso' de Maquiavel: "aos amigos os favores, aos inimigos a lei". O problema é que, quando não é igual para todos, a Justiça é qualquer coisa, menos justa..