Ideias

mito, eleição e cálice

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Mito. 'Coisa ou pessoa que não existe, mas que acredita-se que seja real. Uma coisa possível por hipótese. Personagem, fato ou particularidade que, não tendo sido real, simboliza não obstante uma generalidade que devemos admitir'. Assim, com tais palavras, o Dicionário Aurélio explica detalhadamente qual é o significado de 'mito', o verbete que abre o editorial desta sexta-feira. E como o chamado 'pai dos burros' deixa bem claro, o mito trata-se de uma idealização fantasiosa,como uma quimera (imagem abaixo) -- ser mitológico que é representado com o corpo híbrido que mistura leão, cabra e serpente ou dragão; palavra que simboliza algo que resulta da imaginação e que pode ser traduzido, brevemente, como uma esperança irrealizável, inatingível, inalcançável. Irreal.

Neste ano, em meio à polarizada campanha eleitoral, que divide o país e ergue uma 'trincheira' ideológica nas relações sociais, a eleição nos faz refletir acerca de um mito tão cristalizado em nossa sociedade. Será o povo brasileiro mesmo pacífico e cordial?

Recorrendo ao dicionário mais uma vez, à obra de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira (1910-1989), verifica-se que cordial é o vocábulo que significa coração, conforto, verdadeiro. E o conceito do homem cordial figura nas páginas do livro Raízes do Brasil, publicado originalmente em 1936 e de autoria do historiador Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982).

Em sua obra, o historiador, pai do genial músico Chico Buarque de Holanda, afirma que virtudes tão elogiadas pelos estrangeiros, como a hospitalidade e também a generosidade, representam 'um traço definido do caráter brasileiro', mas com tais virtudes não representando bons modos, muito menos de bondade ou amizade.

Apenas em 2017, o Brasil registrou mais de 63,8 mil homicídios. Em meio à essa polarizada briga eleitoral, manifestações preconceituosas ('a culpa é do Nordeste' e outras), de intolerância (vide o assassinato do capoeirista Moa do Katende, por exemplo), além do discurso de ódio, põem o mito do brasileiro cordial em xeque.

Afasta de mim esse cálice?.

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