Ideias

SOMOSUM POVOTABAJARA?

Por Marcos MeirellesJornalista |
| Tempo de leitura: 2 min

A melhor descrição do Brasil de hoje vem, quem diria, de um personagem que se notabilizou por desdenhar de juízes e promotores que ousaram acreditar que, neste país, a Justiça vale igualmente para todos. Para o ministro do STF, Gilmar Mendes, o país tem atualmente um "governo tabajara".

Faz sentido. Eu iria além e diria que vivemos em uma "República Tabajara".

Na República Tabajara, um presidente flagrado em negociações com mafiosos segue à frente do palácio com desfaçatez patética, esnobando deliberadamente qualquer pretensão de popularidade ou de compromisso ético.

Na República Tabajara, um Congresso movido a propinas pretende votar reformas antipopulares e criminalizar a investigação de políticos como "abuso de autoridade".

Nesta mesma república, há, por fim, dois poderes judiciários. Aquele que serve aos ricos e aquele que pune os mais pobres.

Na República Tabajara, há políticos que comportam como governistas envergonhados, mas não confessam que seu plano, desde sempre, foi empoderar o príncipe trágico, o cavernoso McBeth dos trópicos. Estes mesmos políticos, aliás, prestam tributos diários a anjos decaídos.

Na República Tabajara, a oposição não sabe se propõe a antecipação de eleição ou se apoia a derrubada do presidente patético por via indireta. Seu único cálculo leva em conta a tentativa de voltar ao poder sob a batuta do líder que se associou à máfia e destruiu sua própria biografia.

Mas não nos enganemos. Os métodos e as práticas tabajaras não se limitam a Brasília. Estão presentes em todos os Estados e em todos os municípios do país.

Essa é a nossa verdadeira tragédia. Brasília espelha as distorções do Brasil, nossos valores invertidos, nosso jeitinho, nosso esforço em sonegar impostos, nossa intolerância às regras e às diferenças entre as pessoas e nosso desprezo pela história.

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