O Brasil está em pedaços, como a santa de Aparecida esteve um dia. Ela foi restaurada. Agora é a vez do país.
"Com a Mãe Aparecida, dizemos que 'tudo o que é quebrado pode ser restaurado'", afirma o padre João Batista de Almeida, reitor do Santuário Nacional de Aparecida.
É com essa mensagem que transcende as paredes do maior templo mariano do mundo, que o Santuário Nacional comemora, neste domingo, os 40 anos da restauração da imagem de Nossa Senhora Aparecida.
A pequenina estatueta de terracota encontrada por três pescadores nas águas do rio Paraíba, em 1717, sofreu um atentado em 1978.
Naquela época, a imagem da Padroeira do Brasil estava na Basílica Velha e, durante uma missa e após um blecaute, Rogério Marcos de Oliveira, 19 anos, morador de São José dos Campos, a tirou do nicho e tentou sair da igreja.
O desastre aconteceu: a estatueta caiu no chão e despedaçou-se em mais de 200 fragmentos. O jovem iconoclasta foi preso e depois encaminhado a um sanatório.
Na ocasião, os padres de Aparecida cogitaram enviar os pedaços ao Vaticano, para que fossem restaurados. O trabalho acabou nas mãos da restauradora Maria Helena Chartuni, do Masp (Museu de Arte de São Paulo).
Admitindo uma "indiferença religiosa" antes do trabalho, a especialista conta que algo mudou em sua vida após a restauração da imagem, que levou 33 dias.
"Comecei a sentir que havia tocado em algo sagrado", diz Maria Helena. "Minha transformação começou com a reação das pessoas. Elas formaram um corredor humano da Avenida Paulista, em São Paulo, até Aparecida para saudar a imagem que passava".
Maria Helena será uma das convidadas na celebração dos 40 anos de restauração da imagem, evento que começará em São Paulo, no próximo domingo, com uma missa na Catedral da Sé, às 7h30.
Depois, a imagem será trazida da capital para Aparecida em um cortejo de 10 carros oficiais pela Via Dutra. Deve chegar por volta das 13h.
Dom Orlando Brandes, arcebispo de Aparecida, celebrará a missa no Santuário Nacional, às 14h. A celebração também recordará o dogma católico da 'Assunção da Mãe de Jesus', comemorado neste dia pela Igreja Católica em todo o país.
'É hora de colocar em prática o que Jesus pede: amar os inimigos', afirma religioso
O momento político do Brasil, que escolherá um novo presidente em outubro, tem ressaltado a divisão, a intolerância e o ódio entre as pessoas.
Tal divisão, na avaliação do reitor do Santuário Nacional de Aparecida, padre João Batista de Almeida, colapsa o futuro do país. Em suas orações e diante dos fiéis em missas na Basílica, ele pede que a nação seja restaurada, como foi a imagem de Nossa Senhora Aparecida há 40 anos. "Existe no país uma situação de intolerância muito grande entre os vários grupos políticos, religiosos, e essa intolerância está chegando a quase ódio", afirma.
Para ele, é hora de colocar em prática os ensinamentos cristãos. "Aqueles que têm espírito cristão que coloquem em prática o que Jesus pede: ame os seus inimigos e rezem por aqueles que vos perseguem".