Estamos a pouco mais de um mês das eleições. Os candidatos a presidente mergulham, a partir de agora, na caça aos votos através do horário gratuito de TV, alternando promessas e ataques aos adversários.
Aqueles que não têm tempo de TV apostam todas as fichas nas redes sociais, sonhando reproduzir no Brasil a dobradinha orweliana Trump-Putin.
Aqueles que não têm voto apostam na TV para reproduzir, em 2018, milagres de marketing, seja para viabilizar um novo poste seja para ressuscitar quem não soube, até agora, falar a língua do povo.
É difícil prever o desfecho deste embate. Muito mais difícil do que em eleições recentes, tamanha a descrença alimentada pela criminalização da política, tamanha a inconsistência das candidaturas.
Outro dia, em Paraty, dois jovens que trabalham em uma lanchonete me surpreenderam com uma pergunta "na lata": "em quem você vai votar para a presidente?" Surpreso, preferi responder em que não votaria de modo algum, temendo estar diante de mais uma dupla convertida à negação da história.
Felizmente, não era o caso. Os dois apenas estavam inseguros, conscientes da importância do seu voto, mas sem enxergar em nenhuma das candidaturas colocadas uma pauta ou uma proposta que os seduza.
Quanta gente não tenho visto nesta mesma situação?
O Brasil que vai às urnas em outubro próximo é o país de um povo envergonhado com seus políticos, acossado pelo desemprego e pela violência e desesperançado.
Qualquer que seja o resultado da eleição, o próximo presidente não conseguirá reverter esta elevada taxa de pessimismo a curto prazo.
E há ainda o fator Lula. Sim, o ex-presidente trancafiado em Curitiba jogará um peso decisivo nesta eleição, mesmo que seu poste não decole. Sua sombra vai pairar sobre o Planalto.
Tristes trópicos, vaticinou Lévi-Strauss. A polarização do luxo e da miséria e a decrepitude das nossas cidades novas e nossos paranás, já observadas pelo francês há 70 anos, parece ser a sina também do nosso país. Passaremos de país do futuro ao país do atraso?.