
O crime está em pé de guerra. As duas maiores e mais temidas organizações criminosas do país -- PCC (Primeiro Comando da Capital) e CV (Comando Vermelho) -- disputam o controle do milionário mercado do tráfico de drogas em vários estados, com cenas de barbárie, como o massacre no Complexo Prisional de Pedrinhas (MA), ocorrido em 2017.
Localizada entre as capitais de São Paulo e Rio de Janeiro, os dois principais municípios (e mercados consumidores de drogas) do Brasil e berços das facções hoje rivais, a RMVale também é uma trincheira dessa tensão entre o PCC e o CV.
Hegemônico em toda a região, a mais violenta de São Paulo, o PCC mapeou a presença de criminosos da facção carioca em território valeparaibano. As forças de inteligência policial, que monitoram o crime organizado, apontam que há o risco de uma matança. Após a rebelião ocorrida em 2017, os 'irmãos' chegaram a sequestrar os rivais.
"Na época, com a guerra com a FDN (Família do Norte) e CV, eles [PCC] sequestraram alguns aqui [no Vale]. E achamos que iriam matar os CVs, só que não mataram, só bateram", disse a OVALE um agente policial envolvido no combate ao PCC.
O conflito entre as duas organizações criminosas teve início há três anos. "Estão em guerra com o CV, o PCC quer dominar tudo. O Comando Vermelho, lá no Rio, está preocupado com a guerra com as milícias e o PCC tem se aliado a elas para enfraquecê-lo", completa o agente. E acrescenta: "qualquer problema novo com o CV, tenho a impressão de que vão mandar matar os que estão na região. Já estão todos mapeados".
MAPEAMENTO.
Atualmente, o CV se mantém presente em cidades na região do Vale Histórico, localizado na divisa entre os territórios paulista e fluminense, e ainda no Litoral Norte. A presença dos integrantes do CV se dá por dois motivos: fuga e tráfico de drogas.
"Tem em Cruzeiro, Canas, Lorena, ali no Vale Histórico. São membros do CV que estão fugindo. No Litoral, em Ubatuba, eles têm biqueiras", informou o agente à reportagem.
Os membros da facção carioca, que é comandada por Fernandinho Beira-Mar, são oriundos das cidades fluminenses de Paraty (os que estão em Ubatuba), Volta Redonda e Rio (estão no Vale Histórico).
CRIME.
No caderno especial 'Documento OVALE', o jornal revelou que a força de inteligência policial monitora cerca de 80 membros já identificados do PCC nas ruas da região. A facção é a responsável pelo tráfico, seja no atacado ou no varejo, e está presente em pelo menos 7 das 12 unidades prisionais, onde estão mais de 12 mil presos.
Governo de São Paulo transferiu presos de organização carioca que estavam na região
O governo paulista determinou em 2017 a transferência de presos ligados ao CV (Comando Vermelho) que estavam aprisionados na RMVale, região com forte influência do PCC (Primeiro Comando da Capital), nascido em Taubaté. O objetivo foi evitar confrontos entre as organizações criminosas, como tem ocorrido em cadeias no Norte do país, com massacres em Manaus (AM) e Boa Vista (RR). Em agosto de 2018, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo informou que foram presos mais de 600 integrantes da facção criminosa PCC em 2018.
"As forças de Segurança Pública de São Paulo combatem o crime organizado de forma continua e incessante. Com o uso de inteligência e tecnologia, a polícia paulista realiza diversas operações que, somente neste ano, culminaram na prisão de mais de 620 integrantes da organização criminosa, além de apreensões de armas de fogo de grosso calibre e drogas. Operações como essas atingem diretamente o poderio financeiro de organizações criminosas, limitando suas ações", diz nota enviada para OVALE.