A esposa olha o aplicativo de mensagem do marido e encontra conversar comprometedoras dele com outra mulher, marcando encontros e até trocando os chamados 'nudes'. O namorado está trabalhando e, enquanto isso, a parceira está na internet conversando com outro rapaz, trocando mensagens íntimas e também combinando encontros futuros. Casos assim acontecem no dia a dia. Porém, durante esse período de quarentena por conta do novo coronavírus, têm ficado ainda mais frequentes nos relacionamentos.
Em julho, por exemplo, o site de relacionamentos extraconjugais Ashley Madison informou estar recebendo 19 mil cadastros por dia, contra 15 mil em fevereiro, antes da pandemia ser declarada.
Um aumento de 26,6% entre um período e outro.
A psicóloga Simone Januário, de São José dos Campos, ressalta que a quarentena trouxe uma cena inédita ao cotidiano para as pessoas que entraram em isolamento, com casais de namorados ou casados convivendo 24 horas juntos, sem a distância tão necessária para as liberdades pessoais (que não implica a traição).
"É o risco do gosto virar desgosto", afirma a especialista. "Por outro lado, as dificuldades de uma convivência mais estreita que o habitual podem servir para colocar em prática fantasias e desejos que já eram vividos antes da quarentena", explica a psicóloga.
ANSIEDADE.
Outro fator que pode ser um 'gatilho' para a busca de sexo casual, por exemplo, é a ansiedade, que naturalmente aumento durante esses dias de quarentena. "No fim, como a própria pandemia, as relações amorosas também fazem surgir perguntas para as quais não temos uma única resposta', afirmou.
Simone Januário lembra que uma relação amorosa é uma reedição, uma atualização da forma como uma pessoa experimenta se relacionar desde o início da vida. "Como também é uma relação social, muitas vezes há uma cobrança por padrões de comportamento, como por exemplo, manter a relação que já não existe em sua essência", disse.
"Uma relação extra conjugal pode representar várias situações, desde uma tentativa de auto afirmação até uma retaliação à parceria. Em outras palavras, para explicar a traição é preciso conhecer o traidor".
IMPACTO.
A também psicóloga Michele Bocchi Cavalcanti, de Caçapava, ressalta que a pandemia afetou não só a rotina das pessoas, mas também alterou o dia a dia de trabalho e principalmente a tempo em que as pessoas ficavam em casa.
"Muitas pessoas trabalhavam o dia todo fora de casa, na maioria das vezes em contato com muitas pessoas, fosse em vendas ou reuniões independente do tipo de trabalho que realizavam. E no final do dia ou final da semana ainda se tinha encontro com amigos, confraternizações e happy hour. Com isso era pouco o tempo que se ficava em casa e, portanto, pouco o tempo que se tinha para olhar para o relacionamento a dois. Porém, com a pandemia, de um dia para o outro as pessoas se viram apenas com essa pessoa, apenas com uma relação para dividir", explica.
Segundo ela, é possível que as traições durante a pandemia sejam um reflexo de relações que já estavam com problemas. "Não podemos afirmar, mas acredita-se que os relacionamentos já estavam adoecidos. Porém, pensar em um término envolve tantas coisas, e se acaba muitas vezes adiando pensar sobre isso"..