Com a dívida pública e o dólar nas alturas, a população mais pobre já sofre os efeitos da fragilidade da economia brasileira. Os preços dos alimentos dispararam, comprar carne ou arroz no supermercado tornou-se ato de penitência. E o presidente da República responde com uma piada sobre comprar arroz na Venezuela.
As piadas do Capitão Cloroquina fazem sorrir seu público mais fiel. No entanto, o preço do desequilíbrio econômico do país cobrará sua fatura política das hordas bolsonaristas nas eleições municipais.
Em todas as pesquisas, o fator Bolsonaro deixou de ter influência decisiva para definição de um ou outro prefeito. Em nenhuma capital de relevância, vislumbra-se um aliado de Bolsonaro à frente. Em muitas delas, aliás, desenha-se um cenário sem a presença de fanáticos e radicais no segundo turno (o que talvez seja a primeira boa notícia na esfera política nos últimos anos no Brasil).
Se o capitão soube surfar nas fake news sobre a Covid-19, seu time sucumbe ao desentrosamento no campo econômico. Paulo Guedes é um posto Ipiranga sem combustível e os demais ministérios concorrem entre si para ver qual deles provoca mais estragos à condução e à imagem da economia.
O cenário é nebuloso para 2021, embora a queda da economia este ano deva ficar aquém das projeções mais pessimistas. "De onde menos se espera, daí é que não sai nada", já dizia o Barão de Itararé. Não podemos esperar nada, sejam reformas, sejam medidas para estimular os investimentos no país, de um governo que se vangloria de suas próprias inércia e inépcia.
Resta-nos a torcida para que a eleição municipal se torne o fio condutor de uma nova narrativa para a política e a economia no país, longe do discurso radicalizado que nos conduz há vários anos para o abismo.
Não significa que o bolsonarismo será facilmente derrotado em 2022 (e as eleições norte-americanas estão aí como prova). Mas nos dá algum alento perceber que boa parte da população brasileira já se fartou deste interminável cabo de guerra..