Uma declaração de amor com uma fórmula antiga da culinária caseira feita com açúcar, ovos, farinha e leite. É carinhosamente um bolinho muito fofinho. E, embora seu nome o restrinja aos dias de chuva, todo mundo sabe que a guloseima tem passe livre para ser apreciada em qualquer tempo, independentemente das condições meteorológicas.

Falou em bolinho de chuva quase já dá pra sentir o cheirinho e o barulho da massa no óleo, né? Os bolinhos de chuva surgiram das mãos das escravas, mas ficou ainda mais conhecido no Brasil graças à Tia Nastácia, personagem do Sítio do Picapau Amarelo que para alegrar Pedrinho, Narizinho e a boneca de pano Emília, fazia diversos bolinhos de chuva.

A receita do bolinho de chuva veio de Portugal e se popularizou no Brasil somente no século 19. Antes dessa época, o trigo era uma iguaria cara chamada de “farinha do reino”, então muitas receitas faziam a substituição por farinha de mandioca ou cará.

A composição e textura era muito semelhante ao sonho, outro doce português, a única diferença é que os sonhos portugueses tinham recheio de Crème Patissière (creme de confeiteiro), particularmente pra mim é uma outra herança da época de infância. No início, era chamado de bolinho das negras, porque era preparado pelas escravas, as sinhás, como eram chamadas as senhoras, adoraram e começaram com o costume de servi-los aos chás da tarde.

Diz a lenda que o nome viralizou porque as crianças precisavam sair dos quintais e outros ambientes abertos para se proteger das tardes chuvosas e os bolinhos era o que as colocavam dentro de casa e as mantinham devidamente ocupadas.

O folclorista Luís da Câmara Cascudo chegou a fazer menção a essa herança culinária em sua obra com nome “História da Alimentação no Brasil”.