Viver

Hotel do Vale da Fé guarda preciosidades e obras de Di Cavalcanti

Por Paula Maria Prado@paulamariaprado |
| Tempo de leitura: 3 min
Clube dos quinhentos
Clube dos quinhentos

Na parte superior da pintura, a religiosidade do povo e o rio Paraíba. No centro, a simplicidade e os costumes da nossa gente: o fim de tarde com bate-papo entre comadres na porta de casa; a parceria na moda de viola sob a sombra da palmeira; a lavadeira de roupa e a mulher da elite, filha do dono de terras.

Ainda há o cachorro todo enroscado naquela preguiça gostosa, o pássaro preso na gaiola, o gado tão comum nas bandas de cá e a galinha d'angola passeando no quintal.

É assim que o artista plástico Di Cavalcanti (1897 -1976) enxergava o Vale do Paraíba na década de 1950. A imagem da região sob o seu ponto de vista foi transformado em um retrato pintado em uma parede num hotel em Guaratinguetá.

Trata-se do Clube dos 500, espaço fundado em 1950, pelo empresário Orozimbo Roxo Loureiro - o mesmo que bancou a construção do edifício Copan, em São Paulo -, dono do Banco Nacional Imobiliário, junto com Octávio Frias (1912-2007).

A ideia de Loureiro: transformar o espaço em um reduto em meio a São Paulo e ao Rio de Janeiro, local onde amigos poderiam pernoitar em viagens entre os dois Estados.

O empresário convidou Oscar Niemeyer (1907-2012) para projetar os dois primeiros blocos do empreendimento (20 dos 70 quartos atuais); o paisagista Burle Marx (1909-1994) e o urbanista Prestes Maia (1896-1965), responsável pelo arruamento.

Nas paredes, além do presente de Di Cavalcanti, um afresco de Ricardo Menescal, localizado na capela e outras 220 obras espalhadas pelos prédios que compõem o hotel.

O local não entanto, não funcionou tão bem quanto se esperava. E após a crise econômica ocorrida durante o governo de Ademar de Barros, em 1970, o Clube foi incorporado ao grupo Bradesco, até que, em 1991, foi adquirido por uma família, que prefere manter o anonimato.

"É um hotel que guarda uma rica e significativa história. No entanto, infelizmente, parte dela se perdeu ao longo dos anos", contou Germinal Mila, executivo de contas do hotel. "Todos os presidentes se hospedaram aqui, com exceção de Lula (Luiz Inácio Lula da Silva) e Dilma Rousseff (ambos do PT), que não vieram nos visitar", continuou.

Arte e cultura.

Ainda hoje é possível se hospedar no quarto desenhado por Niemeyer; observar o paisagismo de Marx e o arruamento de Maia, com algumas modificações.

Já o afresco de Di Cavalcanti - uma raridade sem nome e de valor inestimável - tem suas cores desgastadas pelo tempo, possui manchas e rachaduras.

"Os mais antigos contam que ele veio passar uma temporada aqui porque estava fugindo de uma namorada no Rio de Janeiro", revelou o supervisor de patrimônio Valdeci Pereira, 39 anos, 21 como funcionário do hotel. Fato é que o afresco ajudou o artista a pagar parte de sua conta no local.

"Fomos aprovados via Pronac (Programa Nacional de Apoio à Cultura) - implementado pela Lei Rouanet -, em 26 de junho de 2016, para fazer o restauro da obra. Mas não conseguimos realizar toda a captação", contabilizou Mila. O valor exato autorizado foi de R$ 648.682,08.

Segundo publicação no Diário Oficial da União, "trata-se de uma obra de arte, altamente expressiva da identidade cultural do Vale do Paraíba", "é livremente acessível a um grande público, porém nunca recebeu tratamento especializado de conservação e restauro em 64 anos de existência".

Serviço.

O clube dos 500 fica na rod. Presidente Dutra, Km 60.760, Rio Comprido, em Guaratinguetá. Para saber mais, acesse: www.hotelclubedos500.com.br..

Comentários

Comentários