Guilhermo Codazzi

Um, dois, três... Bolsonaro testa a democracia

Por Guilhermo Codazzi - Jornalista e escritor, editor-chefe de OVALE | 04/09/2021 | Tempo de leitura: 2 min

"Um, dois, três... testando... um, dois, três... testando...", bramiam os alto-falantes, com decibéis ensudecedores, despertando cedinho o menino que fui -- e que, no feriado escolar, só queria ficar na cama um pouco mais. Vizinho da avenida do Povo, na Taubaté da minha infância, eu me acostumei a ter esse despertador tão inconveniente nos dias 7 de setembro, data da Independência do Brasil.

Os desfiles, com direito a marcha militar, helicópteros, blindados e ainda outros equipamentos de guerra, eram realizados na avenida, bem ao lado do quarto que Julio e eu dividíamos. Ah, havia também as fanfarras -- a minha irmã, Marina, desfilava pela escola, o que nos enchia de orgulho (só para variar um pouco).

"Um, dois, três... testando".

Hoje, em setembro de 2021, tantos anos depois, Julio e eu já não dividimos o mesmo quarto, e sim a chefia da redação de OVALE -- o principal veículo de comunicação da RMVale. No próximo dia 7, na terça-feira, nem meu irmão e nem eu estaremos ali, nos arredores da Avenida do Povo, mas é fato: jamais ouvimos de maneira tão assombrosa aquele pavoroso som. Consegue ouvir?

"Um, dois, três... testando".

Desta vez, ele não se origina de um alto-falante, é a voz que vem lá do patamar mais baixo; e não tem como objetivo testar a voz e o sistema de som, e sim calar as vozes democráticas e todo o sistema do Estado de Direito.

"Um, dois, três... testando".

Com um discurso bélico, autoritário, falacioso e que tortura violentamente os fatos no sombrio porão que representa a sua mente distorcida, o presidente Jair Bolsonaro está com um golpe em marcha, desfilando ameaças de ruptura institucional, incendiando os seus fanáticos seguidores e bombardeando diuturnamente a Constituição Brasileira.

"Um, dois, três... testando".

Trata-se de um golpe narrativo, que ameaça agora, justamente na data em que o país celebra a sua independência, ganhar uma nova, perigosa e inadmissível etapa. "Podemos jogar fora dessas quatro linhas [da Constituição]", disse o desgovernado presidente nesta última sexta, em ameaçador tom contra a democracia.

"Um, dois, três... testando".

Consegue ouvir?

O som está cada vez mais alto e mais alto. Vem lá da avenida do povo. O país vai despertar?

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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