Guilhermo Codazzi

Vagalumes, estrelas e olhos cintilantes

Ocasionalmente, lá longe, quase perdido no espaço, havia o brilho de alguma pequena embarcação de pescadores

Por Guilhermo Codazzi, editor-chefe de OVALE | 04/02/2022 | Tempo de leitura: 2 min

Onde há mais espaço?
No céu? Entre luas, estrelas, cometas e sóis dourados? Ou dentro de nós? É, dentro de cada um de nós? Quem sabe, então, está na distância que separa tantos de nós -- os atados e desatados?
Bem, por aqui, no espaço reservado para as memórias, lembro-me do tempo em que era menino e observava o céu estrelado diante do mar, tendo os pés tocados docemente pelas águas salgadas de Camburi, uma linda praia entre Ubatuba e Paraty, onde acampávamos no tempo pretérito.

 Ali, não havia energia elétrica e o breu da noite quente só era importunado pela luz dos lampiões, lanternas improvisadas (fabricada com latas de Nescau) e estrelas, que pareciam ser vagalumes cósmicos, de tão cintilantes.

Ocasionalmente, lá longe, quase perdido no espaço, havia o brilho de alguma pequena embarcação de pescadores -- e qual a melhor isca para quem pesca sonhos?

Em vão, o menino fazia sinais ininteligíveis com a lanterna, em uma espécie imaginária de Código Morse, com feixes de luz e o espaço para a escuridão, esperando a resposta de alguma tripulação. Mas, afinal, quem era farol e quem estava ali à deriva?

Mas a luz mais lustrosa, aquela que atraia o olhar atento do menino, vinha daquele céu tão limpo -- sem espaço para poluição, fios elétricos e postes cinzas, o barulho frenético das cidades.

Seriam as estrelas furinhos naquela lona do espaço? Pequenos buracos no véu que cobre a noite e esconde de nós os seus mistérios atados e desatados? Sonhava, então, em ser grande e poder com os olhos curiosos olhar por elas, pelo buraquinho das estrelas, e descobrir o que se esconde do lado de lá. O que se revela?

Dias desses, essa história veio à minha lembrança, enquanto voltava do trabalho e olhava o céu, e refletia: cada passo, seja achado ou perdido, é como uma esquina no tempo. Aquele que fomos, encontra-se com quem somos e os dois, juntos, lançam-se no espaço do abraço de quem seremos.

Somos o futuro do presente de um pretérito mais-que-perfeito -- e imperfeito. E há espaço para todos nós na janela da alma. 
Ao menino que fui, diria hoje, já crescido, que as respostas não estão no céu, e sim no espaço... no espaço que dedicamos ao que  faz nossos olhos de criança brilharem feito uma estrela.

YESTERDAY 
Nasci no dia 30 de janeiro,
dia da saudade. E a saudade (re)nasce em mim todo dia. Mas não uma saudade vazia, é presença.

IN MY LIFE 
Nas ruas por onde andei, tentando me encontrar, as pegadas que eu deixei, bem sei, já não estão lá. Mas as ruas por onde andei, levo no meu olhar.

ALL YOU NEED IS LOVE 
“Ainda ontem perguntei aos meus olhos, quando nos veremos de novo?” (Pablo Neruda).

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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