Se até pouco tempo a indústria da moda estava completamente atrelada a padrões de beleza, nos últimos meses, especialmente com a chegada da pandemia, ficou claro que agora a regra é outra: ao se vestir, as mulheres querem ter liberdade, escolhendo peças que valorizam a pluralidade, para se sentirem representadas e bonitas diante do espelho. É uma espécie de “basta” na tentativa de se encaixar em padrões irreais, já que elegante mesmo é se sentir bem.
“A moda, que vinha a passos lentos entendendo a importância de valorizar a liberdade e a diversidade, precisou acompanhar mais de perto as mudanças e se afastar dos padrões que, aliás, foram estabelecidos por ela mesma. A pandemia não mudou as roupas, ela remodelou as mentalidades e, por consequência, a relação das mulheres com as roupas”, disse a consultora de imagem e estilo Francini Galvão Nogueira.
Neste sentido, parece que estamos no caminho certo, uma vez que a moda é uma forma de arte e, portanto, um meio de expressão. Ao se vestir, mais que se sentirem bonitas e confortáveis, as mulheres desejam comunicar algo, mesmo que por si só a roupa não tenha exclusivamente este poder de fazer com que elas se sintam completamente livres e seguras. Mas, a roupa atrelada ao autoconhecimento, pode, sim, ser um elemento libertador.
“Não importa o que fazemos da vida, sempre precisaremos comunicar algo. Por isso, a nossa imagem é considerada uma expressão pessoal, uma forma de comunicação não verbal. Transmite a nossa atitude, a nossa maneira de ser. É importante entender isso para se sentir bem e confiante”, sugeriu Francini.
Para a especialista, a indústria da moda tem procurado dar atenção ao comportamento feminino de priorizar, por exemplo, o que é confortável. Tanto que o conceito de “street style” ganhou as vitrines com a ideia de moda mais democrática, valorizando o que é funcional para o dia a dia. A calça e o blazer de alfaiataria com tênis viraram opção até mesmo para os ambientes corporativos mais tradicionais, onde a mulher bem vestida tinha a obrigação de usar salto.
“Se a moda é uma forma de expressão, queremos ser livres para nos expressarmos. Queremos poder dizer ao mundo que não importa o nosso número de roupa, e sim, o que fazemos com o número que usamos. Queremos poder escolher de tênis a salto alto e ainda sermos consideradas sexy. Queremos estar confortáveis e não sermos consideradas desleixadas”, defendeu a consultora.
Inclusão. Se até a esta altura você ainda não se convenceu de que algo está mudando, repare como algumas grifes têm trabalhado para facilitar a vida dos consumidores, incluindo os portadores de deficiência, ao lançarem peças favoritas com ajustes ergonômicos e funcionais. “A Reserva é um ótimo exemplo. Depois de quatro anos de pesquisas, lançaram uma coleção com peças idênticas aos maiores clássicos, mas adaptadas para pessoas com deficiência que antes precisavam de ajuda para colocar uma simples camiseta. Hoje se sentem mais vivas e independentes ao fazerem isso sozinhas”, disse.
Certamente, ainda há muita mudança conceitual para acontecer na moda, até que essa conversa entre estilo pessoal e o que o mercado oferece se torne mais íntima. De qualquer forma, a parte positiva de tudo isso é que a mulher está muito mais desperta na hora de se vestir, considerando aquilo que lhe cai bem, com o corpo que ela tem, com a beleza que é exclusivamente dela, sem se diminuir para caber em estereótipos que perderam o sentido.