Dados de pesquisa esmiuçados no Boletim Epidemiológico da Secretaria de Vigilância em Saúde, de setembro de 2021, mostram um aumento constante nas taxas de mortalidade por suicídio nos últimos dez anos. Os autores reiteram que esse gesto é um fato complexo cujas causas não se resumem a um único fator, pelo contrário, são multifatoriais. Há acontecimentos que proporcionam um ambiente favorável a essas inclinações, como ocorrência de experiências traumáticas ou abuso de substâncias psicoativas, mas a ideação e tentativa suicida é uma experiência fortemente individual, carregada de uma dualidade: busca da morte, pela tentativa de cessar do sofrer ou da dor, e a revelação do desejo e busca por socorro.
Chama a atenção o registro, nesse Boletim, de que o número de suicídios aumentou muito entre os jovens nesses últimos tempos, e que estudos sugerem que a chamada Geração Z parece ser mais vulnerável aos efeitos do estresse, e o seu desenvolvimento, com menos mecanismos para lidar com frustrações e acontecimentos adversos (menos resiliência) e dificuldades em adiar o prazer (imediatismo), favorecem o surgimento de condições mentais que trazem maiores inclinações à ideação suicida.
Quero refletir aqui sobre como os adultos podem e precisam tornar-se pais, não somente de filhos biológicos, mas de filhos e filhas das gerações subsequentes, as quais precisam de um guiar amoroso e seguro sobre “como se vive”. Aparentemente, temos imaginado que alguns aprendizados já foram alcançados, mas essa parece ser uma conclusão precipitada. Shea (2011) faz a afirmação de que “todo suicida é um mau resolvedor de problemas”, no sentido de que carece de um modo de ver a vida, e a adversidade, que enxergue alternativas e possíveis caminhos diante de um fato terrível ou percepções e interpretações doloridas em extremo.
Nossos adolescentes e jovens tem uma caminhada com alguém que possa lhes mostrar como ser um bom resolvedor de problemas? Falo de um guiar sem julgamentos, interessado em realmente instruir, apontar caminhos, trazer um relacionamento de ajuda que não implique em perguntas como “mas você não sabia?”
O nosso sonho é que nosso teto seja o chão de nossos filhos, e não o contrário. Não queremos ver a próxima geração se implodindo. As diferenças geracionais são obvias, ou deveriam ser, e precisam nos levar a um lugar de real interesse e conversas que transferem vida. Podemos ver o interesse dos mais novos despertado pelo interesse genuíno dos mais velhos, traduzido em perguntas que pretendem desmanchar o abismo entre as idades.
Esse relacionamento pode trazer de volta a segurança perdida, o referencial desfeito e o elo perdido, dando, de novo, o chão que a próxima geração precisa para não ter vontade de morrer. As Escrituras Sagradas, em Deuteronômio 6, trazem um compromisso que Deus pede a todos os pais, professores, lideres: falem da vida. Falem como ela funciona. Falem sobre a vida de Deus que nos dá chão e segurança. Uma geração mostrará a outra geração toda a força e significado da vida.