Na pequena janela, vê-se a face de alguém. A humanidade é um homem só. Há tanto espaço, não cabe mais ninguém, no vazio da Vostok. Doze de abril de 1961. O cosmonauta Iuri Gagarin, piloto da Força Aérea Soviética, torna-se o primeiro ser humano a viajar pelo espaço, em uma incrível aventura de uma hora e 46 minutos a bordo da nave Vostok 1 -- uma cápsula de 2,3 metros de comprimento. "Vejo a Terra. Ela é azul", contou Gagarin, à época um jovem de 27 anos, via rádio, em mensagens fragmentadas.
A Terra é azul da cor do mar.
Curiosamente, naquela mesma noite de abril, as ondas do rádio eram tomadas por uma Lua Azul nos EUA. Hã?! Calma, eu explico... "Blue moon / you saw me standing alone" ("lua azul / você me viu de pé, sozinho", em tradução livre). Naquele 12 de abril de 1961, a regravação de Blue Moon, pela banda 'The Marcels', chegou ao topo das paradas de sucesso norte-americanas.
Anos depois, mais precisamente no dia 20 de julho de 1969, em um capítulo decisivo na corrida espacial, a Apollo 11 transporta a humanidade à Lua. Neil Armstrong e Buzz Aldrin, dois pilotos norte-americanos, tocam o solo lunar, em uma cena transmitida ao vivo pela TV. "É um pequeno passo para o homem, um grande passo para a humanidade", disse Armstrong, em uma frase que se tornou parte da História.
Gagarin, Armstrong, Aldrin, entre outros... são pilotos, engenheiros navais, militares, treinados à perfeição para explorar o espaço que está lá fora, galáxias, estrelas, buracos negros, cometas, etc.
Mas e o espaço aqui dentro?
A quantos anos-luz de distância batem dois corações separados? Como medir o espaço da saudade entre dois corpos? E quantas estrelas brilham no céu da boca em um beijo ao luar? Astrolábios já tentaram contar, em vão. Mas e a Lua, com passos suaves, tocou a superfície de quantos corações, enquanto orbitava mistério e paixão? E quanto mel as abelhas escondem no Sol?
Para essas e outras perguntas, é preciso explorar o espaço, esse espaço que habita aqui dentro de nós -- desatados, de preferência -- e o espaço entre os homens.
Nada contra os astronautas, no entanto para a missão sugiro que enviemos Nerudas, Shakespeares, Drummonds, entre outros.
Seria um grande passo, não?
Afinal, a humanidade é um homem só. E um homem só é um universo inteiro. Será o amor ainda encontra espaço em nós?