Fran Galvão

“Eu tô só o tênis da Balenciaga” – das vitrines ao maior meme dos últimos tempos na moda

Por Fran Galvão, consultora de imagem e estilo |
| Tempo de leitura: 2 min
“Eu tô só o tênis da Balenciaga” – das vitrines ao maior meme dos últimos tempos na moda
“Eu tô só o tênis da Balenciaga” – das vitrines ao maior meme dos últimos tempos na moda

A Balenciaga lançou essa semana uma coleção de tênis, com apenas 100 pares, chamada de Paris Sneaker, seguindo a estética destroyed (ou destruída, em português), rasgados e com aparência de sujo, com cada par custando cerca de R$10 mil, e acabou virando piada nas redes sociais.

Coincidência ou não o diretor criativo da marca, Demma Gvsalia, um refugiado nascido na Geórgia, país que foi invadido pela Rússia em 2008, disse em entrevista recente que seu propósito é questionar o que é beleza e ir além do padrão imposto pela moda, chegando com esse novo modelo de tênis que traz consigo uma reflexão sobre a moda e o luxo em um cenário de guerra, recessão mundial e ainda grandes resquícios da pandemia.  

Não é a primeira vez que Demma quebra esse padrão. Recentemente uma de suas criações “quebrou a internet”: uma roupa que encobria, da cabeça aos pés (inclusive cobrindo todo o rosto), a socialite Kim Kardashian. Uma peça que deixava claro que a celebridade, o protagonismo era um corpo e não o corpo de uma socialite famosa.

A ideia do tênis é questionar a moda perecível e a ostentação em meio ao cenário mundial, com a mensagem de que um tênis é para a vida toda. A etiqueta, inclusive, recomenda “limpar com um pano macio”.

A internet não perdoou e durante toda a semana memes e polêmicas em torno do lançamento estiveram no top trend da semana. De piadas a comentários que diziam que “o tênis parece ter saído do lixão da mãe Lucinda” (cenário da novela Avenida Brasil) ou que estamos liberados a usarmos nossos próprios calçados sujos, sem julgamento. A melhor de todas, na minha opinião, foi: “eu tô só o tênis da Balenciaga, acabada, destruída, mas mantendo meu valor”.

A verdade por trás do tênis

Uma outra análise, segundo especialistas, sobre o estilista e suas criações duvidosas e que trazem inquietações, é a intenção de se aproximar de símbolos das classes mais baixas para se diferenciar da classe média. À medida que a classe média vai se aproximando da possibilidade de consumo de itens de luxo, a classe rica precisa de formas alternativas, e criativas, de se diferenciar. Ao usar um tênis como esse, é facilmente decodificado pelo seu meio, ao que se refere, seu valor e teor de exclusividade.

Em meio a tantas teorias e piadas, prefiro analisar o tema, trazendo o assunto para dentro do nosso guarda-roupa e refletindo sobre a moda perecível que muitas vezes consumimos, ao invés de considerarmos nossos cabides e gavetas um local VIP, onde só peças especiais, com a nossa identidade, personalidade e que traduzam nossa imagem deveriam entrar (o que não relação com preço ou marca). Será que precisamos de mais uma calça jeans, mais uma calça preta ou mais um tênis? Ou usá-lo surrado está na moda?

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