A psicóloga Aline Korting, de São José dos Campos, fez um levantamento dos distúrbios que mais acometem a saúde mental dos alunos em escolas do Vale do Paraíba, principalmente, neste momento de pandemia e volta às aulas presenciais, que tem sido uma fase de grandes desafios, tanto para os jovens quanto para seus pais e professores.
Em entrevista à reportagem de OVALE, a psicóloga alerta sobre como escolas podem identificar e agir para auxiliar alunos com distúrbios psicológicos, assim como atenta para o fato de que professores também foram afetados e, assim como os jovens, também estão passando por um momento novo e delicado. Confira:
Quais são os principais distúrbios que têm afetado a saúde dos jovens após a chegada da Covid-19 e como identificá-los?
O primeiro ponto são as crises de ansiedade, crises intensas que fazem com que os alunos fiquem com falta de ar, tremor, uma sensação muito estranha na qual eles não conseguem ficar sentados no lugar, eles não conseguem se concentrar, uma sensação iminente de algo vai acontecer [...]. Além do transtorno de ansiedade, tem a depressão, quando eles estão muito desanimados, mesmo agressivos, fechados, não interagem, quando eles têm dificuldades pra sair, querem só interagir dentro de casa, isso tudo é um indicativo. A insônia... É uma característica do adolescente ter muito sono, mas a gente vê que eles estão com mais sono do que o normal, até porque eles usam também muitos aparelhos eletrônicos até muito tarde e ficam sem dormir. Mas a ansiedade e a depressão são os campeões.
Quais têm sido os maiores desafios nas escolas neste momento de volta às aulas presenciais e de reestruturação das relações sociais dos alunos?
O distanciamento imposto pela pandemia exige, de fato, um novo olhar sobre os adolescentes que retornam à sala de aula, agora mais frágeis às situações do dia a dia. Neste momento, o que percebo em contato com diversas escolas e com pais de alunos, em São José dos Campos, é mesmo uma preocupação em torno da saúde mental desses jovens, pois são aspectos que impactam não só no trato pessoal, mas também na saúde física e no próprio desempenho escolar.
Como pais e professores devem agir neste momento de retorno em meio à pandemia?
O acompanhamento dos pais em consultório e em casa é fundamental para a saúde mental do adolescente, mas é fundamental que a escola também esteja atenta ao comportamento de seus alunos para contribuir com ações que promovam o bem-estar deles em momentos de crise ou alterações de humor, por exemplo. Esse debate que estamos promovendo é muito importante para o estabelecimento de um cuidado integrado com esse grupo.
Como escola e educadores devem agir para auxiliar alunos que precisem de apoio psicológico?
Os problemas psicológicos que durante a pandemia eles foram identificando e que eles estão tendo uma dificuldade muito grande agora de se adaptar porque eles também estão diferentes, os próprios professores também estão diferentes, isso foi uma coisa que também foi muito nítida, no momento da própria palestra, na roda de conversa, foi perceber que eles querem os alunos também de volta da mesma forma que eles estavam em 2019, antes de tudo acontecer.
Por fim, a psicóloga Aline Korting explicou a necessidade das comunidades escolares acolherem também os professores. Não apenas os jovens passaram por momentos difíceis durante a pandemia, mas educadores também, e ainda com a grande responsabilidade de continuarem apresentando resultados positivos. Nesta fase, é importante que pais, alunos e professores caminhem juntos e com paciência, tendo um olhar humanizado para as situações e entendendo que o momento ainda é de adaptação e instabilidade para todos.
Vale ressaltar que após alunos serem identificados com sintomas de algum distúrbio psicológico, os pais devem ser informados, pois e a criança ou o jovem precisará de um acompanhamento profissional, mas também cabe à escola proporcionar um ambiente de acolhimento, por isso, diálogos envolvendo temas como saúde mental em sala de aula são fundamentais.