Marcos Meirelles

Deixando a UTI do Centrão

Por Marcos Meirelles, jornalista |
| Tempo de leitura: 2 min

O monstro respira. E não é apenas por aparelhos.

Depois de ter colaborado para ceifar a vida de mais de 650 mil brasileiros na pandemia e de ter promovido a destruição sistemática de políticas públicas na saúde, no meio ambiente, na educação e na transparência governamental, Bolsonaro já comemora a queda progressiva na rejeição ao seu nome.

De outro lado, a terceira via definha e a rejeição ao ex-presidente Lula cresce mês após mês, projetando o cenário de polarização perfeita idealizado pelo Centrão ao aderir definitivamente a Bolsonaro, em 2021. 

Qual a dimensão da catástrofe de mais quatro anos de Bolsonaro no poder? Quantos milhões de brasileiros teriam que deixar o país, em auto-exílio? Quantos milhões de hectares de florestas seriam destruídos com a ajuda do governo? Quanto tempo mais resistiriam as instituições democráticas no país? 

Por tudo o que aconteceu por aqui, é justo que temamos pelo pior. Mas o Brasil é um país complicado. E mais complicada ainda é sua elite econômica.

O banqueiro André Esteves, do BTG Pactual, deu a senha um dia desses, em evento para financistas. Disse que o governo é bom, apesar de “certas bobagens” ditas pelo presidente.

Não é difícil entender. Os lucros recordes indicam que o governo é realmente excelente para os banqueiros. E que se lasquem os trabalhadores com salários corroídos pela inflação e os milhões de miseráveis que voltaram para a linha da extrema pobreza e da fome.

O agronegócio segue na mesma toada, tocando a boiada e festejando picanha a R$ 200 o quilo em meio à farra do desmatamento, da liberação dos pesticidas, das armas no campo e do boom das commodities.

Fora do campo econômico, Bolsonaro se escora na turma do Jesus no pé de goiabeira, que instrumentaliza a política como doutrina seus fiéis e acredita que o papel do governo é transformar o Brasil em um imenso paraíso pentecostal. São os talibãs dos trópicos.

Tem o Centrão, que drena as verbas e os investimentos do governo para os grotões eleitorais e confere capilaridade política ao grupo de extremistas que chegou ao poder em Brasília.

E tem os militares, claro, como não citá-los? A opção preferencial de Bolsonaro pelo linha-dura general Braga Netto como candidato a vice-presidente dá a exata medida do risco que corremos.

É possível conter uma nova vaga de insensatez. Os desafios dos que se opõem aos tresloucados, porém, são imensos e começam por reconhecer que não existe cachorro morto quando se tem a caneta e o Centrão ao seu lado.

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