Kelma Jucá

Como águias no céu

Nascemos livres, mas a liberdade é um direito nosso re-conquistado no dia a dia de ser mulher

Por Kelma Jucá, Jornalista | 11/03/2022 | Tempo de leitura: 2 min

Kelma Jucá
Kelma Jucá

Somos pássaros, mas nos prenderam em gaiolas. Nascemos livres, mas nos condenaram à prisão por ser quem somos. Somos a maior potência de vida no mundo. Todos os dias, quebramos as correntes seculares que nos impedem de voar. Somos mulheres.

Somos do lar. Parideiras e cozinheiras. Cuidadoras e agricultoras. Lavadeiras e costureiras. Somos da aldeia. Curandeiras e beatas. Rezadeiras e parteiras. Somos dos números. Administradoras e gerentes. Vendedoras e bancárias. Somos das letras. Escritoras e poetisas. Jornalistas e artistas. Somos das ciências. Engenheiras e arquitetas. Médicas e farmacêuticas. Somos da oratória. Advogadas e juízas. Atrizes e cantoras. Somos dos livros. Professoras e pesquisadoras. Doutoras e alunas. Somos do mundo. E o mundo é nosso por reivindicação. O mundo, que nos foi dado por natureza, nos foi roubado pelo patriarcado. Aos poucos, o mundo volta a ser nosso pelas nossas lutas diárias desde sempre.

Uma a uma, nos arriscamos. Saltamos do rochedo mais íngreme de nossos medos e limitações impostas, para alçar voo. Somos tantas. Somos muitas. E estamos aprendendo que somos mais fortes quando nos damos as mãos. Somos inteligentes. Nossa sensibilidade nos torna ainda mais especiais, pois somos capazes de fazer leituras subliminares no ambiente. Somos espiritualizadas. Oramos e cremos. Louvamos e agradecemos. Somos guerreiras. Lutamos pelo direito de estudar em escolas e em faculdades, pelo direito ao voto, pela emancipação na política, pelo combate à violência doméstica. Lutamos pelo direito de voar livremente. Lutamos pelo direito de sermos. Simplesmente.

E a nossa liberdade de hoje, este galardão histórico e contemporâneo, caro como um diamante e delicado como um cristal, devemos àquelas mulheres que vieram antes. Nossas ancestrais. Nossas mães e avós. Nossas bisavós e tataravós. Elas foram escravas. Elas foram bruxas. Elas sofreram abusos físicos e sexuais. Elas eram violentadas só por serem mulheres. Elas foram impedidas de escolher a vida dos sonhos. Elas foram proibidas de aprender a ler e a escrever. Elas foram obrigadas a casar com quem não queriam e a procriar como única forma de sentido da vida. Elas foram ridicularizadas por terem opinião própria. Elas foram mortas por pensarem diferente. Elas foram queimadas vivas.

Eu honro todas essas mulheres. Eu sou todas elas. Elas são todas nós. Todas somos uma. Devemos a nossa liberdade às mulheres nossas antecessoras. Elas não desistiram. Elas não recuaram. Elas nos abriram um caminho a seguir. E ainda temos uma longa jornada pela frente. Nossa missão, mulheres, é continuar a abrir espaços até passarmos o bastão para a geração seguinte. Assim como águias, que nossas sucessoras rasguem o céu e ousem ser mais livres do que jamais imaginamos.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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