O ex-secretário-geral do PT, Silvio Pereira, foi condenado nesta segunda-feira a quatro anos e cinco meses de prisão por ter recebido um veículo Land Rover Defender 90 como propina da empreteira GDK em troca de favorecimento em uma licitação da Petrobras. O escândalo foi revelado pelo "Jornal Nacional", ainda em 2004. Na ocasião, vendedores de uma concessionária confirmaram que a compra foi feita por um funcionário da GDK. A revelação do escândalo fez com que o ex-secretário-geral do PT ficasse conhecido como "Silvinho Land Rover". Ele deixou o partido em seguida, após o escândalo.
Além de Silvio Pereira, foram condenados também o ex-diretor de Serviços da Petrobras, Renato Duque, e o administrador da GDK, César Roberto Santos de Oliveira. Outro executivo da empreiteira, José Paulo Santos Reis, e o ex-presidente da OAS, Léo Pinheiro, foram absolvidos.
Os condenados foram acusados de oferecerem e pagarem um veículo em troca de favorecimento em um contrato da Petrobras.
Em 2004, Renato Duque, indicado para o cargo com o apoio de Silvio Pereira, recebeu vantagens indevidas para beneficiar a GDK, que ganhou a licitação de R$ 469 milhões. Em troca, aceitou pagar 1,5% do contrato em propina. Em novembro, pouco antes da assinatura do contrato, a GDK também comprou um veículo Land Rover para Silvio Pereira.
"As consequências da notícia do pagamento de vantagem aSílvio José Pereira corroboram a natureza ilícita da transação. Se fosselegítima a "doação", não haveria razão para Sílvio José Pereira terdevolvido o automóvel a César Roberto Santos Oliveira e sedesfiliado rapidamente do Partido dos Trabalhadores", afirmou o juiz Luiz Antonio Bonat.
Durante o julgamento, a defesa de Silvio Pereira argumentou que "o contexto era de um empresário bilionário que realizou o sonho de um homem pobre".
"Os fatos acima destacados são fortes provas, ainda queindiretas, da existência de acerto prévio da GDK, representada por CésarRoberto Santos Oliveira, com Sílvio Pereira, então Secretário-Geral doPT que acompanhava as obras na Petrobras, e Renato Duque, Diretor deServiços da estatal petrolífera, setor perante o qual tramitava a licitaçãodo módulo 1 da Unidade de Tratamento de Gás de Cacimbas", afirmou o juiz.
Em entrevista ao GLOBO publicada no dia 7 de maio de 2006, o ex-secretário geral do PT contou parte do que sabia sobre o mensalão, afirmando que "deve haver cem Marcos Valérios por trás do Marcos Valério", sem revelar quem exatamente seriam esses outros operadores.
Apesar de defender o ex-presidente Lula e eximir outros petistas de culpa, argumentando que ninguém teria ficado com dinheiro para enriquecimento pessoal, ele admitiu a existência de um esquema de corrupção no governo, afirmando que Marcos Valério planejava arrecadar R$ 1 bilhão junto a empresas com pendências com o governo federal, e que esquemas ilegais ainda estariam em operação.
Antes que a entrevista terminasse, no entanto, ele voltou atrás e pediu à repórter que não publicasse suas declarações. Quando foi confrontado com sua própria afirmação que ainda existiriam fatos obscuros, ele começou a se bater e destruir o próprio apartamento.
"Vão me matar. Eles vão me matar, você não entende. Não faça isso comigo. Tem muita gente importante envolvida nisso", repetia ele.
Em 2008, Silvio fechou um acordo com o Ministério Público, pelo qual prestou 750 horas de serviços comunitários e compareceu mensalmente à Justiça durante três anos. Ele foi o único dos quatro ex-integrantes da cúpula do PT que não foi julgado pelo Supremo Tribunal Federal na AP 470, em 2012.