Ideias

Mentira como método de governo

Por Marcos MeirellesJornalista |
| Tempo de leitura: 2 min

Quando escreveu "Eichmann em Jerusalém", Hannah Arendt se mostrou aterrorizada com a frieza com que o nazista descrevia suas atrocidades, sempre tentando legitimar a narrativa nazista. Mais tarde, Arendt escreveu um texto chamado "Verdade e Política", para investigar o prejuízo que o poder político é capaz de causar à verdade. Segundo Arendt, para a política, "a verdade tem um caráter despótico". Por isso, ela "é odiada pelos tiranos, que temem, com razão, a concorrência de uma força coercitiva que não podem monopolizar".

Arendt reiterou que o "pensamento político é representativo", ou seja, explora narrativas que buscam a identificação entre representante e representado, não importando tratar-se ou não de mentiras. Além disso, mentiras foram sempre consideradas como instrumentos necessários e legítimos, não apenas na profissão de político ou demagogo, mas também na de homem do estado.

As lições de Arendt são muito importantes para entender os riscos da guerra de narrativas que domina o mundo atual e que muitos chamam de a "era da pós verdade". A filósofa também nos ajuda a compreender como o Brasil se meteu nesta tremenda sinuca de bico, com um presidente da República que utiliza a mentira como método e dissemina narrativas que desagregam e embrutecem o país.

Bolsonaro e seus filhos não suportam a verdade de uma pandemia que já tirou a vida de mais de 14 mil brasileiros. Por isso, investem em narrativas absurdas, que colocam o Brasil na contramão do planeta e ameaçam transformar o país no epicentro mundial da Covid-19.

Bolsonaro e seus filhos vão além e demonizam todas as instituições e agentes públicos que colocam a prevenção à Covid-19 como prioridade do país. A narrativa em curso transforma prefeitos e governadores em vilões do emprego e patrocinadores da fome. E o governo federal se exime de qualquer responsabilidade pela situação dramática enfrentada por todos os brasileiros. Mentiras, política e crime se misturam há séculos, adverte Harendt. E as piores tragédias da humanidade ocorrem nas sociedades que se tornam tolerantes aos monstros..

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