A Segunda Guerra Mundial durou seis anos: de 1939 a 1945. E, no pós-guerra, aconteceu nos Estados Unidos um fenômeno chamado 'Baby Boom', que foi o nascimento de um grande número de crianças em famílias felizes, eufóricas e aliviadas com o fim do conflito.
Agora, o mundo vive outro momento difícil: a pandemia do novo coronavírus, que ainda não acabou e não tem prazo certo para terminar. Para muitas pessoas, existe a expectativa de um novo 'Baby Boom'.
Até por conta da quarentena forçada, onde são obrigadas a ficarem mais tempo em casa, inclusive muitos casais.
Para ginecologista, obstetra e especialista em reprodução humana, Fernando Macedo, de São José dos Campos, existe a possibilidade de um crescimento no número de nascimentos de criança no pós-pandemia, embora de forma involuntária.
"O que está acontecendo é que os casais ficam mais juntos e em muitos casos têm aumentado a sua vida sexual. Concluindo, têm aparecido gestações um pouco surpresa", afirmou o médico, que é diretor da clínica Reproferty.
Segundo ele, a clínica mantém os serviços de reprodução humana, com cuidados previstos nos protocolos de saúde.
MAIS POBRES.
Porém, não são apenas essas pessoas que estão mais suscetíveis a gerarem novas crianças. Muitas pessoas, de classe sociais mais baixas, terão mais dificuldade no acesso aos anticoncepcionais, por exemplo, aumentando a probabilidade de gravidez. Inclusive, já existe um alerta da própria ONU (Organização das Nações Unidas) sobre o assunto.
A Unfpa (Fundo de População da ONU), estima que 47 milhões de mulheres em 114 países de média e baixa renda podem não conseguir acessar contraceptivos modernos. Assim, de acordo com o órgão, 7 milhões de gestações não intencionais são esperadas se o isolamento social e/ou quarentena geral continuar por seis meses e se houver maiores interrupções a serviços de saúde.
"A cada três meses de confinamento, mais de 2 milhões de mulheres podem não ter acesso a contraceptivos modernos", diz o Fundo.
A pesquisa foi realizada com contribuições da Universidade John Hopkins (Estados Unidos), da Universidade Victoria (Austrália) e da Avenir Health.
DEMOGRAFIA.
Nem todos, porém, acreditam neste comportamento para um aumento de casos de gravidez. Para o demógrafo Leandro Becceneri, de São José, doutorando em Demografia pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), as incertezas, principalmente econômicas, após a pandemia, vão inibir um novo 'Baby Boom' no mundo todo.
"O contexto do chamado baby boom que ocorreu nos Estados Unidos no pós-guerra e em outros países após períodos turbulentos é muito diferente da situação que estamos vivendo hoje. Acho muito pouco provável que ocorra uma situação desse tipo no Brasil ou no mundo pós pandemia", disse a OVALE.
"Existe uma separação entre reprodução e sexo. Os métodos contraceptivos estão muito mais difundidos, com distribuição gratuita de preservativos no Brasil. Hoje também existe internet, celular e TV por assinatura. Além disso, é observada há anos uma queda nas taxas de fecundidade (número médio de filhos por mulher) no Brasil, ficando até abaixo das taxas de reposição populacional, por questões muito variadas", declarou.
"O contexto atual também é diferente. Também, há uma grande incerteza frente a situação que iremos ter no futuro pós pandemia, especialmente sobre como a crise econômica e social se desenvolverá nas diferentes partes do país", explica o demógrafo de São José.