História

‘Bandeirantes vieram do Vale e da capital’, diz historiador sobre polêmica com Borba Gato

Por Xandu Alves |
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Estátua de Borba Gato incendiada em São Paulo
Estátua de Borba Gato incendiada em São Paulo

Ao lado da capital paulista, o Vale do Paraíba foi a principal região fornecedora de mão de obra para a exploração do estado de São Paulo e também do Brasil, por meio daqueles chamados de ‘bandeirantes’.

Esses desbravadores do período colonial eram exploradores que tinham a missão de garantir a expansão territorial brasileira, principalmente no século 17.

Um deles foi Manuel de Borba Gato (1649-1718), bandeirante paulista que atuou como descobridor de minas, especialmente as com ouro.

Ele iniciou suas atividades com o sogro Fernão Dias Paes Leme (1608- 1681), bandeirante paulista que ficou conhecido como ‘O caçador de esmeraldas’. É o bandeirante mais conhecido, ao lado de Antônio Raposo Tavares.

Recentemente, o nome de Borba Gato saiu das páginas históricas para o noticiário policial depois que uma estátua dele foi incendiada na capital paulista. Duas pessoas foram presas pelo ato.

Um grupo intitulado ‘Revolução Periférica’ assumiu a autoria do incêndio por defender que o monumento homenageia um traficante de escravos.

REGIÃO

No Vale, o bandeirante batiza o 2º Batalhão de Engenharia de Combate, sediado em Pindamonhangaba. Também há uma estátua que homenageia os bandeirantes em Taubaté, não exclusivamente Borba Gato.

O tema é controverso e suscita debates acalorados sobre a atuação histórica desses exploradores, que não raro são apontados como escravocratas e escravizadores de índios.

Para o mestre em História Social Diego Amaro, coordenador do curso de História do Centro Unisal de Lorena e presidente do IEV (Instituto de Estudos Valeparaibanos), a questão não deve ser julgada sob a moral de hoje.

“Para a época, eles são grandes exploradores porque existia uma demanda desenvolvimentista de expandir territórios, trazer mão de obra, encontrar metais preciosos. Eles são desbravadores no momento em que viveram. Agiram de acordo com a moral da época”, afirma.

Amaro explica que os bandeirantes ou eram do Vale ou do Planalto do Piratininga, região da capital paulista. No Vale, as cidades de Taubaté e Guaratinguetá são apontadas como as principais ‘fornecedoras’ dessa mão de obra exploradora.

“Eles eram exploradores que tinham líderes, como Fernão Dias, e exploravam as regiões em busca de aprisionamento de indígenas e de ouro. Foi um taubateano (Antônio Rodrigues de Arzão) que encontrou ouro pela primeira vez no Ribeirão das Mortes, em Minas Gerais”, conta o historiador.

PASSADO

Para Amaro, queimar estátuas não é a melhor maneira de fazer críticas a um momento histórico, mesmo porque não se deve apagar o passado, mas aprender com ele.

“Hoje não vamos fazer uma estátua dele, mas no tempo dele isso fez sentido. Ele simboliza o desbravador. É a força dos paulistas naquela época. Mas ninguém vai fazer algo com nome dele hoje. Nada impede que outras estátuas sejam erguidas que façam mais sentido agora.”

Amaro frisa que não há ninguém “100% idôneo” e que não se deve “apagar a história, mas aprender com ela para não se reproduzir de novo”.

“É preciso olhar e ressignificar Borba Gato no nosso tempo. Queimar é ato de violência. Hoje é sutil quando faço esse anacronismo, mas julgar o passado com o juízo de agora não fecha essa conta”.

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