Editorial

As fraquezas armadas

14/08/2021 | Tempo de leitura: 2 min

O tragicômico episódio do desfile de blindados em frente ao Palácio do Planalto, que fez o Brasil virar piada internacional, deveria ter sido a gota d'água para as Forças Armadas repensarem o papel dos militares durante o (des)governo de Jair Bolsonaro (sem partido).

Com aspirações de um ditador, o presidente da República tentou utilizar os veículos verde-oliva para ameaçar a democracia e intimidar tanto o Judiciário quanto a Câmara dos Deputados, que na noite daquele dia 10 de agosto votaria a proposta do voto impresso, defendida por Bolsonaro e seus apoiadores que, sem apresentar qualquer prova, insistem em lançar dúvidas sobre o processo eleitoral brasileiro - as urnas eletrônicas, aliás, foram desenvolvidas na década de 1990 com auxílio de militares do Exército, da Marinha e da Aeronáutica.

Exibições como essas, com o propósito de atacar as instituições e amedrontar parcela da sociedade, são comuns apenas em tempos de guerra ou em governos totalitários. A diferença, por aqui, é que o tiro saiu pela culatra. Os blindados velhos, que lançavam fumaça em Brasília, renderam memes e piadas nas redes sociais e deixaram até os militares constrangidos. Já a tentativa de demonstrar força fez o Brasil ser chamado de 'República das Bananas' no exterior.

E essa não foi a primeira batalha em que as Forças Armadas saíram derrotadas ao lado de Bolsonaro. Logo no início do governo, por exemplo, militares sofreram linchamentos virtuais por parte da ala ideológica, em uma guerra incessante por cargos. Na pandemia, foi a vez de generais como Eduardo Pazuello, que foi um terrível ministro da Saúde, demonstrarem total inaptidão tanto na parte logística quanto na sanitária, distribuindo cloroquina país afora.

Antes do início do governo, em dezembro de 2018, 70% dos brasileiros confiavam nas Forças Armadas. Em junho de 2021, esse percentual já estava em 58%. Até agora, o único ganho dos militares no governo Bolsonaro foi terem sido poupados na Reforma da Previdência, mantendo mordomias.

Em 1964, os militares deram um golpe de estado. Foram 21 longos anos de uma ditadura cujas feridas ainda não cicatrizaram. As Forças Armadas vão escolher, de novo, o lado errado da história? Quem precisa ser blindada é a democracia brasileira, e não um tirano.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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