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Caso Marco Aurélio: escoteiros relataram luzes, gritos na mata e sons de apito

Por Julio Codazzi |
| Tempo de leitura: 5 min
Caso Marco Aurélio. Grupo era formado por quatro escoteiros de 15 anos e pelo líder, de 36
Caso Marco Aurélio. Grupo era formado por quatro escoteiros de 15 anos e pelo líder, de 36

Sentimento de culpa, relatos sobre luzes misteriosas, gritos na mata e sons de apito, saudade e esperança de que Marco Aurélio Simon esteja vivo.

Esses são os principais elementos das declarações dos outros três escoteiros que, aos 15 anos, tentaram chegar ao cume do Pico dos Marins, em Piquete, no dia 8 de junho de 1985.

Os três – Osvaldo Lobeiro, Ricardo Salvioni e Ramatis Rohm – deram esses relatos à Polícia Civil na primeira etapa do inquérito, de 1985 a 1990, quando as investigações oficiais sobre o desaparecimento do colega foram encerradas (elas viriam a ser reabertas no mês passado).

O trio chegou a participar de duas reconstituições no fim da década de 1980. E, nos últimos anos, relembrou o que ocorreu naquela expedição em uma série de lives promovidas pelo canal Programa Conexão UFO – pelos relatos de luzes misteriosas e pelo fato de Marco Aurélio nunca ter sido encontrado, o caso atraiu o interesse de ufólogos.

CHEGADA.

O grupo era formado por cinco pessoas: os quatro jovens escoteiros e o líder Juan Bernabeu Céspedes, à época com 36 anos. Vindos de São Paulo, eles chegaram à Piquete no dia 7 de junho, uma sexta-feira.

Nesse primeiro dia, montaram acampamento em uma propriedade que fica na base do Pico dos Marins. No local morava Afonso Xavier, que era uma espécie de guia do Pico dos Marins, com a esposa e quatro filhos – três filhas, que dividiam com os pais uma casa simples, de um cômodo somente, e um filho, que morava em um quarto construído do lado de fora.

Depois de jantar, os cinco foram dormir. “À noite, quando a gente foi dormir, eu senti que passou alguém pela barraca, algumas vezes, e isso me deixou com muito medo”, lembrou Osvaldo em uma das lives. “Até se colocou que podia ser o filho do seu Afonso, porque ele tinha um filho que tinha problemas de saúde. E eu acho que não foi ele não, porque ele tinha problemas especiais e ficava com a família. E a gente ficou um pouco afastado da casa, 150 metros, 200 metros”, completou.

SUBIDA.

No sábado pela manhã, o grupo partiu para tentar alcançar o cume do Pico dos Marins, que fica a 2.420 metros. A cerca de 1.700 metros de altitude, Osvaldo se machucou. Era por volta de 14h. “Era um buraco. O pessoal passou e, na hora que eu passei, enfiei o pé de uma vez e bati a rótula, e eu senti que deslocou. O joelho ficou inchado na hora. Eu não estava conseguindo colocar mais meu pé no chão”, relatou.

O grupo desistiu da subida e tentou improvisar uma maca com pedaços de árvore, mas não conseguiu. Juan autorizou, então, que Marco Aurélio fosse na frente e voltasse sozinho ao acampamento, para pedir ajuda, enquanto os demais levavam Osvaldo, que caminhava com dificuldade.

“A gente iria descer devagar, e o Marco Aurélio se ofereceu [para ir na frente]. O Juan não mandou nada, ninguém mandou nada. Eu ainda fui contra”, disse Osvaldo. “Talvez o Juan queria tornar o Marco um herói. Dizendo que o Marco Aurélio foi, encontrou a solução, quando chegou lá já tinha uma ambulância, ele já tinha corrido com tudo. Porque dinamismo para isso ele [Marco Aurélio] tinha”, afirmou Salvioni. “Eu também não culpo o Juan. A gente sabe a lisura, o cuidado e o respeito que o Juan tinha por todos nós”, completou Salvioni.

DIVISÃO.

O combinado foi que Marco Aurélio usaria um giz para marcar o número 240, que identificava o grupo dos escoteiros, para sinalizar o caminho que havia tomado. “O Marco foi na frente. A gente avistava ele, mas com uma certa dificuldade, devido àquela serração, aquela neblina”, disse Osvaldo. “O tempo estava muito ruim, muito frio”, concluiu.

O grupo chegou a identificar três marcas. A última delas estava em uma bifurcação. Nela, pela indicação feita com o giz, Marco Aurélio seguiu pelo caminho da esquerda, mas Juan orientou que o grupo fosse pela direita, por entender que seria impossível, com Osvaldo machucado, superar obstáculos da outra passagem. O líder dos escoteiros acreditava que as trilhas se juntariam adiante, mas isso não ocorreu.

Para piorar a situação, o grupo se perdeu. “A gente, quando saiu errado e não viu o Marco, deu desespero”, afirmou Osvaldo. “Depois que caiu a noite e perdemos a visibilidade, se tornou um mato medonho, no qual o Juan habilmente nos fez andar a noite toda para a gente não congelar de frio. Fez muito frio naquela noite, e nós de bermuda, porque planejávamos algo como três ou quatro horas de caminhada, no máximo”, disse Salvioni. “Nós nos perdemos, fomos sair numa cidadezinha chamada Marmelópolis [em Minas Gerais]”, completou Salvioni.

MISTÉRIO.

O grupo só conseguiu retornar ao acampamento às 5h do dia seguinte. No local, encontraram a mochila de Marco Aurélio fora das barracas, mas o garoto não estava lá. Chovia muito no momento.

Outro relato nunca explicado ocorreu quando o grupo já procurava o escoteiro desaparecido. Osvaldo havia deixado a casa de Afonso para usar o banheiro, que ficava do lado de fora. Foi quando foram ouvidos apitos e gritos, que vinham do meio do mato e foram atribuídos a Marco Aurélio. Também foram vistas luzes.

“Quando eu saí um pouco da casa, houve aquela luz, aquele apito, aqueles gritos”, disse Osvaldo. “Quando olhei assim, muito próximo, eu vi essas luzes. Não eram luzes de carro, eram luzes diversas”, completou.

Os escoteiros tentaram localizar o colega, mas nada encontraram. “Essas luzes foram vistas mesmo. Não dá para saber ou pensar o que aconteceu e onde está o Marco”, afirmou Ramatis.

CULPA E ESPERANÇA.

Durante uma das lives, Osvaldo relatou que chegou a se sentir culpado pelo desaparecimento do colega. “Durante anos eu carreguei a culpa, porque eu pensava assim: poxa, eu fui o causador. Se não tivesse acontecido o acidente comigo, nada disso teria acontecido”, relatou.

Os amigos ainda acreditam que Marco Aurélio pode estar vivo. “Eu não acredito que ele tenha morrido. Na minha cabeça eu não coloco isso. Ele está vivo”, disse Osvaldo. “Ele saiu vivo de lá, ele não morreu naquela montanha”, completou.

“Eu me recuso a acreditar que o Marco não esteja entre nós. Tudo foi feito, tudo foi procurado. Mas alguma coisa vazou pelas nossas mãos e a gente não viu”, afirmou Salvioni. “Uma das coisas que eu mais queria, e mais quero, ainda nessa vida é ter a oportunidade de reencontrar o Marco”, concluiu.

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