O século 21 trouxe um novo significado para a palavra 'conectado'. A década de 90 preparou o terreno e a crescente globalização levou a internet para um patamar nunca visto antes. Atualmente ela é tão requerida que muitos a consideram uma necessidade básica, junto com a água e a energia elétrica.
Porém, longe dos grandes centros ainda é difícil conseguir uma conexão. Segundo dados da pesquisa TIC Domicílios de 2019, apenas 53% dos moradores de áreas rurais possuem acesso à internet. E para resolver essa dificuldade e alcançar esse nicho de mercado, muitas empresas têm voltado os seus esforços para o espaço, buscando soluções com o uso de satélites.
É o caso da internet via satélite, uma solução presente há bastante tempo como uma alternativa a lugares em que nem as conexões a cabo nem o sinal de celular chegam.
"Basicamente o satélite consegue chegar em lugares que outras tecnologias não conseguem", explicou o engenheiro de telecomunicações e mestre em engenharia e sistemas espaciais, Bruno Santos. "Não há necessidade de infraestrutura complexa para instalação da solução e a disponibilidade é imediata. Além disso, com o avanço tecnológico, o custo-benefício se tornou muito atrativo".
Ainda assim, existem certas desvantagens. “ No caso de satélites de órbita geoestacionária, existe o problema da latência e da instabilidade do sinal em casos de chuvas torrenciais”, explica Bruno Santos. Além disso, a internet via satélite funciona por meio de pacotes da franquia, bastante similares com os planos de celulares. A diferença é que, quando se alcança o limite contratado, a velocidade de tráfego é limitada.
Contudo, esse cenário pode mudar com a chegada de projetos envolvendo o conceito de uma constelação de satélites de baixa órbita. A ideia é utilizar vários pequenos satélites que se comunicam entre si enquanto giram ao redor do planeta, transmitindo e recebendo dados.
É o caso da Starlink, um serviço de internet banda larga via satélite desenvolvido por Elon Musk, empresário de renome do setor aeroespacial e CEO da Tesla, que já conta com 1800 satélites em órbita. Ele também comanda a companhia SpaceX, responsável pelos lançamentos dos satélites.
A proposta da Starlink, segundo o site da empresa, é disponibilizar conexão de alta velocidade, baixa latência e sem limitação em qualquer lugar do mundo, com exceção dos Polos Norte e Sul. E isso é possível por dois fatores-chave que diferenciam o modelo de constelação do já existente, que utiliza satélites geoestacionários: a distância que os equipamentos estão da Terra e o fato deles estarem em constante movimento.
Estar 60 vezes mais próximo do planeta, variando entre 380 km e 550 km da superfície, garante uma latência muito menor, cerca de 20 vezes quando comparada aos provedores de internet via satélite atuais. E por estarem sempre em movimento, as constelações conseguem cobrir até as regiões mais ermas. Assim, basta ter o kit de antena e modem para estar conectado.
Além da Starlink, outras empresas também têm planos de criar suas próprias constelações, como a One Web que, segundo o site da empresa, já possui 254 satélites em órbita, e o Projeto Kuiper, iniciativa da Amazon, que pretende lançar mais de 3000 satélites.
Apesar de ser uma solução de grande potencial, implementá-la traz certas dificuldades devido aos altos custos envolvidos. Para que se torne mais viável, é possível que haja uma integração entre as constelações de satélites e a nova tecnologia de dados móveis, o 5G.
ESPAÇO.
O engenheiro de telecomunicações Bruno Santos explica que os satélites e a telefonia móvel já têm uma longa história juntos. “ Quando falamos de territórios de proporções continentais é inviável ter a infraestrutura de cabos conectando todas as antenas de celular, não há quem pague essa conta”, diz Bruno.
É aí que entram os satélites, fazendo a conexão entre o servidor (backbones) e as antenas, eliminando a necessidade de uma conexão física. Essa função é conhecida como backhaul, sendo realizada principalmente por satélites geoestacionários.
Segundo Bruno, o 5G está baseado em três pilares: alta taxa de transmissão de dados, capacidade de ter pessoas ou dispositivos conectados à rede e a baixa latência. Desses, o sistema atual de satélites consegue fornecer os dois primeiros. “ Na grande maioria das aplicações você não precisa de uma latência tão baixa, excetuando, por exemplo, jogos online e operações remotas, como cirurgias e no controle de carros autônomos. Mas são situações bastante específicas”, comenta o engenheiro.
Porém, com o serviço de comunicação das constelações, os três pilares ficam garantidos e possibilitam mais do que assistir vídeos com resolução 4K através das redes de celular. Essa tecnologia pode permitir que a Internet das Coisas se torne ainda mais comum, fazendo com que eletrodomésticos estejam conectados à rede e entre si. “A principal característica será a possibilidade de conectar uma grande gama de aparelhos”, explica o engenheiro de telecomunicações.
O que significa o G na telefonia móvel?
A associação é bem simples. O G significa geração, enquanto o número que o acompanha mostra a versão. Abaixo listamos a evolução dessa rede:
1G – a primeira geração ainda era de forma analógica e se limitava aos serviços de voz.
2G – Nessa etapa o funcionamento já era todo digital, permitindo mensagens via SMS e uso de dados, mas de forma bem limitada.
3G – Com a chegada dessa geração, a internet nos dispositivos móveis se tornou uma realidade. Com o passar do tempo surgiu o 3G +, ainda mais rápido.
4G – essa evolução trouxe uma maior capacidade para a rede, permitindo mais usuários e uma velocidade maior de transmissão de dados.
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