Maria da Fé, sul de Minas Gerais. Foi na cidade cravada no meio da Serra da Mantiqueira onde aconteceu a primeira extração de azeite extravirgem no Brasil, em 2008. De lá para cá, passaram-se pouco mais de dez anos e a Mantiqueira despontou como principal polo de produção de azeites brasileiros, atraindo olhares internacionais como do guia “Flos Olei 2020”, que reúne os 500 melhores azeites do mundo, e do prêmio “Leone D’Oro Internacional”, que no universo de azeites equivale ao Oscar.
O cenário parece ainda mais favorável: o movimento da olivicultura, que acontece praticamente no nosso quintal, dissemina a ideia de que consumir um produto nacional vale mais que qualquer rótulo importado da prateleira. Além disso, por trás deste reconhecimento, há muito trabalho feminino envolvido. É o caso da azeitóloga Ana Beloto, que tem mais de 20 anos de atuação neste setor e atualmente é representante no Brasil do movimento feminino “Woman in Olive Oil”, que conta com a participação de 40 países e mais de 2 mil mulheres como membro.
A especialista, que está envolvida com este trabalho pioneiro no país, já viu mais que a Mantiqueira despontar na olivicultura: presenciou o melhoramento genético e a seleção natural de oito cultivares brasileiras, uma delas, a “Maria da Fé”, que é derivada das primeiras árvores trazidas da Europa, em 1937, chegando até a expansão mais recente para o sul e o sudeste do Brasil, regiões também produtoras de azeite de oliva.
“Por se tratar de uma cultura nova, ela ainda está em adaptação, mas com números surpreendentes de crescimento. Em 2021, a safra em Minas Gerais foi de 50 mil litros, segundo informações divulgadas pela Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais”, disse Ana.
Riqueza. O chef Vitor Pompeu, que tem o restaurante Sauá em Gonçalves (MG) e o Moringa Mantiqueira em Campos do Jordão (SP), sabe bem o valor de um ingrediente de qualidade na gastronomia. Grande apoiador de pequenos produtores e entusiasta da olivicultura, ele destaca que vivemos um momento de valorização da nossa identidade e que o azeite, ainda que tenha uma breve história, vive uma ascensão.
“O consumidor e os profissionais da área estão compreendendo que o nosso produto tem características próprias. Não é melhor ou pior que um azeite Europeu, ele simplesmente tem as características da nossa terra”, declarou.
A azeitóloga concorda, dizendo que ao pensar na compra de um azeite de oliva, tendemos a recorrer às marcas estrangeiras. “O Brasil produz azeites de excelente qualidade e com uma vantagem: chegam frescos e em um intervalo curto após a extração na casa do consumidor”, explicou Ana, ao reforçar que as características sensoriais típicas do cultivo na Mantiqueira são justamente o que atraem o reconhecimento internacional.
Do sabor aos processos que envolvem a olivicultura, o azeite da Mantiqueira é criado por meio de um processo 100% natural de suco de azeitona. A época da colheita, a região, o clima, se o olival é de planície ou de montanha, são fatores que tornam o nosso azeite único. “Para que seja considerado ‘azeite extravirgem’, não é permitida a presença de misturas com óleos vegetais refinados. A luz e o calor são grandes inimigos do azeite, seguido do oxigênio”, esclareceu a azeitóloga.
Se até aqui você já se convenceu da qualidade dos azeites da Mantiqueira, vale partir para a experiência sensorial: sentir os aromas, os sabores na língua, a combinação com outros alimentos e quem sabe chegar até uma sobremesa à base de azeite. Por se tratar de um ingrediente versátil, ele combina muito bem com pratos doces e salgados.
“O azeite não se prende à entrada ou à finalização do prato salgado. No Sauá, por exemplo, temos uma sobremesa com laranja caramelizada, crocante, sorvete e azeite, que traz notas herbais à receita que conversam bem com laranja”, finalizou Vitor, deixando o que parece ser um bom convite, não?