
Dona Celly mora no edifício Irma há mais de 30 anos. Quando conta para as pessoas que mora em frente à Praça do Sapo, no coração do centro de São José, as pessoas se espantam.
"Ué, mas nunca vi nenhum prédio ali!", dizem para ela. A senhora de 69 anos apenas ri, afinal, se sente privilegiada por morar em um prédio tão bem ventilado, que é habitado em sua maioria por pessoa na casa dos 60 para cima.
"A verdade é que a gente é invisível aqui no centro. Todo mundo passa mas não olha para cima, nem repara que existe um prédio aqui", conta ela.
Há algumas semanas atrás, o edifício de Dona Celly deixou esse passado para trás. O prédio que antes se camuflava nas nuvens cinzas ganhou o colorido de um grafite de 45 metros de altura e virou uma galeria a céu aberto.
O projeto do grafiteiro joseense Mr. Fred foi financiado pelo FMC (Fundo Municipal de Cultura) e vai cobrir paredes prédios no centro da cidade com grafites, uma ação inédita no Vale do Paraíba.
Além do prédio na Rubião Júnior, em frente a Praça do Sapo, também haverá um grafite na Rua Praça Afonso Pena, onde ficava um cinema. Outro trabalho será feito em um prédio da Rua Rui Dória, em frente ao banhado.
São José deve ganhar os novos cartões postais até o final do ano. O projeto vai financiar o montante completo de R$ 20 mil para realizar os grafites.
"Este primeiro, representa minha 'marcar' no grafite. No final do projeto, vou revelar o que ele significa", afirma Mr. Fred.
Do alto do sétimo andar do edifício Irma, Mr. Fred e dois amigos de infância estão realizando o sonho de suas vidas. Enquanto isso, Dona Celly dá água aos meninos e espera ansiosa pelo resultado do grafite.
"Estamos muito curiosos para ver como vai ficar. A gente só via essas coisas em São Paulo, né?".
No segundo prédio grafitado, Mr. Fred fará uma homenagem a quem o mais o incentivou no arte do grafite, seu pai, que faleceu há poucos meses. "Meu pai me viu pintando um um 'rolinho' e perguntou porque eu não estava fazendo aquilo com um spray. Eu disse que não tinha dinheiro para spray e ele arranjou dois para mim", conta o artista.
O terceiro grafite trará as raízes da arte para as ruas de São José: fazer pensar. "Vou fazer uma obra mais crítica, para que as pessoas reflitam sobre seus comportamentos", disse Fred.
VALORIZAÇÃO.
O artista comemora a aprovação do projeto através da FCCR (Fundação Cultural), depois de um clima de "guerra" com a prefeitura no que se trata de grafite.
"Temos que procurar mostrar para as pessoas e o poder público o que é o grafite. É uma abertura de diálogo e é um acesso à arte para pessoas que muitas vezes não tem como alcançar", afirma o grafiteiro. .