"As pessoas acham que não, mas o favelado tem uma sensibilidade enorme", diz JB Magalhães, que viveu a vida toda na comunidade Santa Cruz, no coração de São José dos Campos.
"Não pode ver uma pessoa ou um cachorro passando fome na rua, que quer ajudar. A miséria, para a gente, é insuportável".
As vielas que passam como veias finas de uma corrente sanguínea pulsam pelas palavras de JB Magalhães em seu novo livro. "Flores e Favelas", que tem lançamento marcado para esta sexta-feira, no Cine Teatro Benedito Alves, às 20h, é um livro sobre sensibilidade.
O livro, que é uma continuação do primeiro, intitulado "Santa Cruz: Uma Favela no Coração da Cidade da Tecnologia", reúne contos que contam uma história de verdadeiro "reflorescimento" da comunidade.
"As coisas por aqui estão muito melhores. A violência tem diminuído. Faltam políticas públicas, mas a mentalidade das pessoas mudou muito", conta Magalhães.
De acordo com o autor, o renascimento da Santa Cruz se deve a uma série de esforços da comunidade para melhorar a vida de seus moradores, incluindo atividades culturais promovidas por ele.
"Eu espero que eu não seja o primeiro ou único escritor da Santa Cruz", afirma.
Um dos dezoito contos de Magalhães se chama "Vou me Embora da Favela". Nele, Magalhães narra um café da manhã de despedida de um velho amigo que morava na comunidade e estava desiludido.
"Ele achava que o lugar dava azar. Sempre batalhou muito, mas tudo acabava dando errado. Conversamos sobre o quanto a gente trabalhava pela comunidade e nada evoluía", conta o escritor.
Os sentimentos sobre ter uma casa digna, criar os filhos e viver em um lugar menos violento foram compartilhados pelos dois amigos. Hoje, JB Magalhães ainda vive na Santa Cruz e acredita que as coisas mudaram para melhor e ainda tem muito para crescer.
"O futuro das pessoas que moram aqui vai ser muito diferente", completa.
Desde o lançamento de seu primeiro livro, Magalhães tem percorrido a cidade para falar sobre Santa Cruz e suas histórias. "Aprendi que nós da favela temos que nos abrir também, não só ficar nas páginas policiais. Precisamos registrar e mostrar nossa história", finaliza o escritor..