OPINIÃO

Moraes: a imprensa recuperando sua capacidade investigativa

Por Carlos Alberto di Franco | Professor de Ética Jornalística e doutor em Comunicação pela Universidade de Navarra, na Espanha
| Tempo de leitura: 2 min
Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil
Moraes: a imprensa recuperando sua capacidade investigativa
Moraes: a imprensa recuperando sua capacidade investigativa

O noticiário recente recoloca no centro do debate um tema sensível: a relação entre poder, interesses privados e transparência institucional. O contrato milionário firmado pelo escritório de advocacia da esposa do ministro Alexandre de Moraes com o banco Master, a decisão do ministro Dias Toffoli de avocar para si o processo e impor sigilo absoluto, e, agora, a informação de que o próprio Moraes teria intercedido pessoalmente em favor do banco junto ao Banco Central do Brasil, compõem um conjunto de fatos que exige atenção máxima.

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Não se trata, desde logo, de afirmar culpa ou antecipar juízos. Trata-se de reconhecer que os indícios divulgados são graves e, se confirmados, apontariam para condutas incompatíveis com a liturgia do cargo e com os princípios republicanos. A eventual atuação de um ministro do Supremo em favor de um banco privado, sobretudo em contexto que envolve interesses familiares, demanda apuração rigorosa.

É precisamente nesse ponto que o jornalismo recupera sua função essencial. Quando autoridades silenciam, oferecem respostas tardias ou se refugiam em explicações confusas, cresce a responsabilidade da imprensa. O sigilo, embora legítimo em situações específicas, não pode servir de biombo permanente para afastar o escrutínio público de atos que tocam o coração das instituições.

O velho e bom jornalismo investigativo não condena; investiga. Não milita; apura. Não se satisfaz com versões oficiais frágeis nem com narrativas convenientes. Seu compromisso é com os fatos, com a verdade verificável e com o direito do cidadão à informação de qualidade.

Em democracias maduras, ninguém está acima do questionamento público. A credibilidade das instituições não se protege com silêncio ou opacidade, mas com transparência, esclarecimentos objetivos e apuração séria. Se há dúvidas relevantes, que sejam dissipadas à luz do dia. Quando o poder se fecha, a imprensa precisa abrir. É assim que se preserva a verdadeira democracia e se honra o jornalismo.

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