O período de Natal e Ano-Novo é tradicionalmente associado à união e ao "espírito natalino", mas a realidade emocional por trás das luzes pisca-pisca pode ser complexa.
O fenômeno, popularmente conhecido como “Dezembrite”, caracteriza-se por uma sobrecarga emocional que oscila entre a euforia extrema e a angústia profunda, exigindo atenção redobrada à saúde mental nesta época do ano.
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A pressão social e o consumo no Natal e Réveillon
No Brasil, o engajamento com as festas de fim de ano atinge mais de 90% da população, segundo uma pesquisa do SPC Brasil e CNDL.
Tamanha mobilização traz consigo um forte apelo ao consumo e à exposição de uma vida idealizada nas redes sociais. A busca pela "foto perfeita" ou pelo presente de alto valor pode acabar por mascarar sofrimentos reais.
O Dr. Alexandre Bassoli, psiquiatra que atua em São José dos Campos, alerta para os gatilhos psicológicos desse cenário:
“O apelo de consumo no fim de ano pode gerar euforia passageira, mas para muitas pessoas intensifica a ansiedade, frustração ou tristeza. Não é apenas sobre gastar dinheiro; trata-se da pressão social para sentir felicidade ou sucesso, que muitas vezes entra em conflito com o estado emocional real da pessoa.”
A neuroquímica do cérebro
A ciência explica as variações de sentimentos por meio do funcionamento do cérebro humano, que processa um fluxo contínuo de neurotransmissores e hormônios que se intensificam pelos estímulos próprios desta fase.
A dopamina gera picos temporários de prazer quando estimulada por compras e luzes festivas. Em contrapartida, o cortisol, hormônio do estresse, eleva-se devido às pressões financeiras e ao esgotamento com preparativos para reuniões sociais, resultando até mesmo em episódios de insônia.
Paralelamente, a serotonina, responsável pela regulação do humor, pode sofrer quedas bruscas em contextos de isolamento ou expectativas não atendidas, o que resulta em irritabilidade ou tristeza profunda.
Segundo o especialista, essa combinação explica a vulnerabilidade emocional acentuada e a sensação constante de recompensa seguida de um sentimento de vazio.
Luto e solidão durante as festas
Para quem lida com perdas recentes ou mesmo antigas, o final do ano pode ser particularmente doloroso.
A alegria festiva e a pressão social para que todos se engajem na celebração tendem a transformar-se em tristeza para muitos.
Bassoli ressalta que esse sentimento é uma resposta natural amplificada por estímulos externos e reforça que “reconhecer e aceitar essas emoções ajuda a atravessar o período de forma mais saudável".
Saúde mental e autocuidado no fim de ano
Para navegar pela "Dezembrite" com mais equilíbrio, o Dr. Alexandre recomenda priorizar o autocuidado em vez de ceder inteiramente às convenções sociais.
O primeiro passo fundamental é aprender a respeitar os próprios limites, entendendo que não há obrigatoriedade de comparecer a todos os eventos e corresponder a cada expectativa externa.
Manter uma rotina de higiene do sono e alimentação equilibrada ajuda a regular os níveis de cortisol, enquanto a desconexão digital evita as comparações nocivas com as vidas "editadas" que aparecem nas redes sociais.
Além disso, é essencial reservar momentos para atividades que tragam prazer genuíno e individual, longe da pressão das obrigações sociais.
O médico conclui reforçando a importância do autoconhecimento e da busca por suporte especializado:
“É fundamental olhar para si mesmo, perceber o que realmente precisa e não hesitar em buscar ajuda profissional quando sentir que a tristeza ou a ansiedade estão pesando demais.”