INVESTIGAÇÃO

RUY: ex-delegado morto fazia dossiê sobre colegas da prefeitura

Por Da redação | Praia Grande
| Tempo de leitura: 5 min
Reprodução
Ex-delegado geral Ruy Ferraz Fontes e o local onde foi morto
Ex-delegado geral Ruy Ferraz Fontes e o local onde foi morto

O ex-delegado geral da Polícia Civil de São Paulo, Ruy Ferraz Fontes, pretendia apresentar ao Ministério Público estadual um dossiê contra pelo menos três servidores da Prefeitura da Praia Grande (SP) por suposto envolvimento em um esquema de fraude em licitações.

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O rascunho do documento foi encontrado no notebook de Ferraz após seu assassinato a tiros na cidade da Baixada Santista, em 15 de setembro. Cita ao menos 11 licitações que teriam sido “fraudadas” entre 2021 e 2025 para beneficiar a empresa de câmera de monitoramento Peltier.

“Estão ricos, vivendo em apartamento de luxo, carros importados e viagens para o exterior”, teria escrito Ferraz, de acordo com relatório do inquérito ao qual a reportagem do portal Metrópoles teve acesso.

Um dos servidores citados por Ferraz é Sandro Rogério Pardini, subsecretário de Gestão e Tecnologia. Além dele, há citação a uma integrante do Departamento de Integração da Informação da Secretaria do Planejamento e um engenheiro de telecomunicações responsável pela desclassificação das empresas mais bem colocadas na licitação.

As suspeitas envolvendo licitações na Praia Grande são apuradas em inquérito conduzido pela DIG (Delegacia de Investigações Gerais) da cidade. A investigação deu origem, em 3 de outubro, a uma operação contra cinco funcionários da prefeitura, que foram alvos de mandados de busca e apreensão.

Depoimento.

Os servidores prestaram depoimentos à polícia e descreveram duas reuniões realizadas com Ferraz dias antes do crime. Segundo a versão dos investigados, o ex-delegado-geral estava irritado e teria inclusive mandado uma servidora deixar seu gabinete após ela pedir para ele “abaixar o tom”.

De acordo com o depoimento de Pardini, horas após a desclassificação de empresas da licitação, Ferraz teria lhe chamado para uma reunião em seu gabinete. Junto dele, diz o depoente, estariam representantes das empresas. À polícia, Pardini disse que advertiu o ex-delegado de que seria errado se reunir com essas pessoas em meio à licitação.

Uma semana depois, um novo encontro teria ocorrido no gabinete de Ferraz. Dessa vez, teriam participado, além de Pardini, outros servidores do Planejamento. Na ocasião, o ex-delegado teria solicitado diversos documentos sobre licitações antigas vencidas pela Peltier.

Em conversa com a reportagem, um dos promotores que assinam a denúncia contra os oito supostos responsáveis pela morte de Ferraz rechaça a hipótese de que o assassinato teria relação com fraudes em licitações na Praia Grande.

Ele afirma que essa tese perdeu força quando a equipe de investigação descobriu que o crime começou a ser planejado em março deste ano, supostamente antes da descoberta do ex-delegado-geral sobre as irregularidades.

“Não existe essa prova hoje de que as ilegalidades que o Dr. Ruy estava investigando tenham relação com o crime. Isso já inclusive foi constatado e está sendo investigado. Só que se isso surge posteriormente, em nada muda o panorama de que o PCC tinha a ordem para matar o Dr. Ruy e que os seus agentes executaram”, diz o promotor sob reserva.

PCC.

A ligação entre o mando do crime e o PCC teria sido estabelecida pela Promotoria a partir de um “salve” de 2019 contra Ferraz e do suposto envolvimento de executores com a facção.

Um deles, Marcos Augusto Rodrigues Cardoso, apontado como “recrutador” dos demais suspeitos, teria admitido em depoimento que ele seria um “disciplina” da facção, uma espécie de fiscal, na região do Grajaú, zona sul de São Paulo. Oito dias depois, em um segundo depoimento, negou a informação.

Para o promotor, uma execução dessa magnitude não seria realizada por integrantes do PCC sem aval da cúpula da facção.

“Do contrário, não haveria envolvimento de agentes do PCC, ainda mais em ascendência dentro da própria facção. O PCC não permite que agentes seus atuem à revelia, ou mesmo de forma indiferente se tratando de autoridades”, disse.

A hipótese de que o homicídio de Ferraz tenha ligação com sua atuação na pasta chegou a ser mencionada no relatório final do inquérito policial que apurou o caso, mas não foi aprofundada. A investigação, segundo a polícia, segue em andamento.

Quando foi morto, o ex-delegado geral ocupava o cargo de secretário de Administração da Praia Grande. Duas semanas antes do crime, suspendeu a licitação que garantiria um contrato de R$ 14 milhões à Peltier, diante das suspeitas de que o certame teria desclassificado de forma arbitrária outras candidatas que apresentavam melhores ofertas.

Apesar disso, ao apresentar denúncia contra oito suspeitos, o Ministério Público “cravou” que o crime teria sido obra do PCC.

Outro lado

Questionada pelo Metrópoles, a Prefeitura de Praia Grande disse que a denúncia do MPSP já apontou que o crime teria sido cometido a mando do PCC e que a hipótese sobre a relação com a atuação de Ferraz na Secretaria da Administração teria sido descartada.

“A Prefeitura de Praia Grande destaca que o Ministério Público de São Paulo (MPSP) confirmou que o ex-delegado-geral Ruy Ferraz Fontes foi assassinado a mando do alto escalão do Primeiro Comando da Capital (PCC) como vingança. O anúncio ocorreu no último dia 21 de novembro”, disse a gestão municipal.

“Na oportunidade, o MPSP descartou a hipótese de uma relação da morte dele com a sua gestão como secretário de Administração municipal e denunciou oito pessoas pela execução do ex-delegado-geral. As denúncias foram baseadas no resultado final da primeira fase das investigações do caso realizadas pela Força-Tarefa criada pela Secretaria de Estado da Segurança”, acrescentou.

Questionada sobre medidas tomadas em relação aos servidores citados no documento, a prefeitura não respondeu.

A reportagem não conseguiu contato com Sandro Rogério Pardini. O espaço segue aberto para manifestação.

* Com informações do portal Metrópoles

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