Após o anúncio do tarifaço determinado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, aos produtos brasileiros, o governo Lula se mobilizou para promover um encontro entre o chanceler Mauro Vieira e o secretário de Estado americano, Marco Rubio. O objetivo era tirar a sobretaxa de 40% anunciada por Trump que elevava para 50% a taxa cobrada dos produtos brasileiros.
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Reportagem da revista Piauí conta que uma tentativa de negociação ocorreu durante um encontro sigiloso entre o chanceler Mauro Vieira e o secretário de Estado americano, Marco Rubio, conversa que só aconteceu após a intervenção da Embraer.
Vieira e Rubio se conheciam desde a década de 2010. Aproveitando uma viagem a Nova York para participar de uma reunião da ONU sobre Gaza, o chanceler brasileiro sinalizou ao Departamento de Estado americano que poderia ir a Washington para um encontro com Rubio.
Um assessor, encarregado de contatos com a Casa Branca, advertiu o chanceler de que as chances eram remotas. De fato, nada aconteceu. No dia 29 de julho, encerrado o encontro na ONU, Vieira estava a caminho do Aeroporto John F. Kennedy quando recebeu um recado que o fez voltar para Manhattan. Tudo correu sob sigilo absoluto, segundo revela a reportagem de Piauí.
Os americanos pediram discrição e informaram que a conversa não seria no Departamento de Estado, nem na Casa Branca. Os brasileiros também queriam evitar o risco de que um vazamento pudesse mobilizar uma ofensiva contrária de Eduardo Bolsonaro. A reserva era tamanha que Vieira passou a noite na embaixada brasileira em Washington sem que ninguém soubesse.
Depois de 21 dias sem qualquer diálogo, Rubio e Vieira finalmente se encontraram no dia 30 de julho. Segundo a Piauí, a conversa aconteceu no décimo andar do escritório de advocacia King & Spalding, que atende a Embraer, a fabricante brasileira de aeronaves, que com seus bons contatos na Flórida, base eleitoral de Rubio, ajudou a desbloquear o diálogo.
Como o tarifaço inviabilizaria a operação da Embraer nos Estados Unidos, a empresa foi à luta para tentar entrar logo na primeira lista de exceção. Para isso, acionou suas contrapartes americanas para fazer pressão – uma delas foi a American Airlines, principal compradora de suas aeronaves.
Estava claro que, com as tarifas, a empresa americana veria seus custos operacionais subirem. Funcionou. A Embraer entrou na primeira lista de exceções anunciada pela Casa Branca. Ainda assim, permanecia sujeita aos 10% da tarifa global. Era um peso especialmente danoso diante da disputa que trava com as fabricantes americanas e europeias, que foram isentas de tarifas.
No segmento militar, a Embraer compete diretamente com a Lockheed Martin, fabricante do C-130J, o avião de transporte militar mais politicamente protegido dos Estados Unidos. O similar da Embraer, o C-390, vinha vencendo licitações na Europa – inclusive em países da Otan –, o que acendeu alertas nos Estados Unidos. Além disso, a empresa brasileira quer vender seus cargueiros KC-390 para a Força Aérea americana, uma transação que dificilmente ocorrerá se os 10% forem mantidos. Ou seja: a tarifa não é apenas uma desvantagem comercial, mas também um entrave estratégico.
Nesse ambiente sensível, não interessava à Embraer se expor em defesa do Brasil num momento em que o diálogo diplomático estava obstruído. Por isso, a empresa atuou em sigilo para ajudar naquele primeiro encontro entre Mauro Vieira e Marco Rubio ocorrido em julho, no escritório King & Spalding.
Embora ciente da crescente animosidade, o Itamaraty considerou que a missão de Vieira foi um êxito. A barreira imposta pela família Bolsonaro contra o diálogo havia sido rompida e, depois de três semanas de impasse, Brasília voltou a falar com Washington.
Desde então, a Casa Branca retirou centenas de produtos brasileiros do tarifaço e Trump elogiou Lula publicamente. As conversas entre os dois países se intensificaram após o encontro sigiloso entre Vieira e Rubio.
* Com informações da revista Piauí