A novela da licitação do transporte público de Campinas ganhou mais um capítulo, e previsivelmente, não foi o desfecho esperado. O edital definitivo, prometido para outubro — e reafirmado pelo prefeito Dário Saadi em diversas ocasiões — foi novamente adiado, agora para novembro. Trata-se, vale destacar, apenas da publicação das regras do certame, e não da licitação em si. Ou seja, o usuário dos ônibus segue preso ao mesmo sistema precário, caro e desatualizado, enquanto a cidade espera um edital que parece condenado à eternidade dos ajustes técnicos e comunicados de “transparência”.
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A Prefeitura tenta imprimir um ar de novidade ao anunciar a contratação da B3 (Bolsa de Valores) para conduzir o processo. É, sem dúvida, uma boa jogada de marketing político, mas um fato simbólico para disfarçar a falta de avanço real. A promessa é de um processo “moderno, transparente e seguro”, com envelopes abertos no pregão eletrônico da Bolsa.
O discurso é impecável, mas a estratégia da B3, usada como sinônimo de lisura, não é inédita. Franca, no interior paulista, fez o mesmo movimento em setembro, e o resultado foi quase irônico: apenas uma empresa apresentou proposta, justamente ligada a Belarmino Marta Júnior, dono do grupo que há décadas já domina o transporte francano e gere o setor também aqui em Campinas. Ou seja, a Bolsa pode até ser moderna, mas os nomes continuam os mesmos.
Campinas vive paralisia. Desde o primeiro edital de 2022, suspenso pelo Tribunal de Contas do Estado após dezenas de questionamentos, o processo virou um carrossel de idas e vindas. Em 2023, quando o certame foi reaberto, nenhuma empresa se interessou — uma licitação “deserta” que deixou a cidade dependente do mesmo grupo empresarial que opera as linhas a pôr tanto e tantos anos.
Enquanto a licitação não parte, o sistema urbano segue esfacelado e anacrônico, com frota envelhecida, ônibus pegando fogo, atrasos constantes, paralisações por falta de pagamento de funcionários e uma Emdec que opera mais como bombeiro do caos do que como planejadora de mobilidade. O discurso oficial fala em “modernização e renovação da frota”, mas a prática é o adiamento contínuo.
A contratação da B3, com custo de R$ 180 mil, tem utilidade simbólica: gera manchetes, não transporte. A administração cria um fato para a imprensa, tentando mostrar avanço onde há estagnação. O problema é que o cidadão continua esperando no ponto, que paga caro por um serviço que não chega — nem sai do lugar.
Recadastramento de imóveis e microflorestas

Divulgação/CMC
A Câmara Municipal de Campinas vota, nesta segunda-feira (3), em segunda discussão, dois projetos de autoria do Executivo que tratam de gestão fiscal e ambiental urbana. O primeiro, o Projeto de Lei Complementar (PLC) nº 100/2025, cria o Programa de Recadastramento Imobiliário por Georreferenciamento e de Regularização Cadastral e Tributária, enquanto o segundo, o PLC nº 32/2025, institui a implantação e adoção de microflorestas urbanas em áreas públicas da cidade.
O programa de recadastramento utilizará imagens aéreas de alta resolução para atualizar o Cadastro Imobiliário Fiscal e identificar construções e benfeitorias não registradas. O objetivo é corrigir defasagens cadastrais e garantir que a tributação reflita a real situação dos imóveis, evitando distorções no cálculo do IPTU e da Taxa de Lixo.
Os contribuintes notificados terão acesso ao sistema SiRI-Geo (Sistema de Recadastramento Imobiliário por Georreferenciamento), onde poderão confirmar ou corrigir informações sem multa, desde que dentro do prazo estabelecido. O projeto valoriza o princípio da denúncia espontânea, previsto no Código Tributário Nacional, e busca criar um ambiente de cooperação entre o poder público e os cidadãos.
Quem deixar de responder ou enviar dados incorretos poderá ser autuado, com a lavratura de Termo de Início de Fiscalização (TIF) e multas graduadas em UFICs, conforme o valor venal do imóvel. Também está prevista a cobrança retroativa de tributos de até cinco exercícios fiscais.
O outro projeto em pauta propõe a criação de pequenos ecossistemas florestais em praças, parques, bosques e canteiros. As chamadas microflorestas urbanas terão alta densidade vegetal, o que favorece a captura de carbono, reduz os impactos das ondas de calor e aumenta a biodiversidade nas áreas urbanas.
O texto prioriza regiões classificadas como de alto risco climático pelo Plano Local de Ação Climática, além de locais estratégicos definidos pelo Plano Municipal do Verde.
O Executivo também propõe a criação do Programa de Adoção das Microflorestas Urbanas (PAMU), que permitirá a participação de empresas, entidades civis e associações de moradores na implantação, manutenção e preservação das áreas.
A 67ª Reunião Ordinária da Câmara será realizada a partir das 18h.
- Flávio Paradella é jornalista, radialista e podcaster. Sua coluna é publicada no Portal Sampi Campinas aos sábados pela manhã, com atualizações às terças e quintas-feiras. E-mail para contato com o colunista: paradella@sampi.net.br.