Comecei a trabalhar com comunicação em 2001, em uma época em que o digital ainda engatinhava e as redes sociais não passavam de uma promessa distante. Mesmo naquele cenário, eu já acreditava em algo que sigo defendendo até hoje: o poder das histórias.
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Naquela época, contar histórias era um exercício quase artesanal. As marcas buscavam espaço em jornais, rádios e revistas, e a disputa pela atenção do público seguia um ritmo menos frenético. Quando precisávamos apurar informações, as opções eram simples: ligar para a fonte ou ir até ela. Bom jornalismo, naquele tempo, era sinônimo de “gastar sola de sapato”.
Hoje, o ambiente é outro. A transformação digital democratizou a produção de conteúdo, mas trouxe também um efeito colateral inevitável: o excesso de informação.
Vivemos em um mundo onde todos produzem, todos publicam, todos opinam. Há mais dados disponíveis do que qualquer ser humano pode processar em uma vida inteira. A cada minuto, milhões de textos, vídeos e imagens são lançados no ambiente digital. Essa abundância, no entanto, não significa qualidade. Ao contrário: o excesso confunde, satura e afasta.
A crise da atenção
Especialistas em comportamento digital já apontam que a atenção é o recurso mais escasso do nosso tempo. Plataformas, marcas e veículos competem por segundos de olhar. A consequência direta disso é que conteúdos rasos, sem conexão e sem propósito, desaparecem quase tão rápido quanto surgem.
Nesse cenário, percebo com ainda mais clareza a relevância das histórias. Elas são a âncora em meio ao turbilhão. Quando bem construídas, carregam a capacidade de tocar, de emocionar, de gerar memória. Em outras palavras: histórias são o antídoto para a dispersão.
Informação solta não é suficiente
Uma marca pode ter dados, números e até fatos interessantes, mas se não souber traduzi-los em narrativa, dificilmente conquistará relevância. O público não se conecta com estatísticas; conecta-se com pessoas, com jornadas, com significados.
É exatamente aqui que entra a experiência de quem vem do jornalismo: aprender a selecionar, contextualizar e estruturar a informação de forma que faça sentido para quem lê. A essência do bom jornalismo — a apuração rigorosa, a clareza e a busca pela relevância — pode (e deve) ser aplicada ao conteúdo corporativo e às estratégias de comunicação de hoje.
Gosto de chamar isso de técnica da cadeira: investigação, entrevista, pesquisa e checagem dos dados. Quatro pés que sustentam a narrativa. Se um deles faltar, a cadeira simplesmente cai. E o mesmo acontece com qualquer história mal contada.
Histórias constroem confiança
Ao longo da minha trajetória, testemunhei empresas que cresceram não apenas porque ofereciam bons produtos ou serviços, mas porque souberam contar suas histórias. Histórias de origem, de propósito, de transformação. São essas narrativas que criam vínculo, que aproximam marcas e pessoas, que estabelecem confiança.
Na prática, isso significa entender que comunicação não é apenas informar, mas também emocionar. É ser capaz de mostrar, por trás de cada dado, o impacto humano.
O retorno ao essencial
Depois de mais de duas décadas trabalhando com comunicação, percebo que a tecnologia, por mais disruptiva que seja, não mudou a essência: sem histórias, não há conexão. O que mudou foi a velocidade, a dispersão e a necessidade de filtros.
Hoje, quem sabe contar boas histórias sobrevive ao ruído e conquista espaço genuíno na mente e no coração do público.
Em meio ao excesso de informação, a relevância não está na quantidade de posts, mas na qualidade das narrativas. E essa talvez seja a lição mais importante para marcas, empresas e profissionais que desejam permanecer relevantes: não basta falar, é preciso contar.
Porque, no fim, são as histórias que resistem ao tempo, às mudanças e ao excesso.