A jornalista e escritora Milly Lacombe afirmou que não pode vir à Flim (Festa Litero Musical) de São José dos Campos por temer pela própria vida. A participação dela no evento foi vetada pelo prefeito Anderson Farias (PSD), depois de pressão de grupos conservadores de São José.
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Milly participaria da mesa de abertura da Flim, que começa nessa sexta-feira (19) e vai até domingo (21), no Parque Vicentina Aranha. O veto à escritora levou 13 convidados a cancelarem a participação. O grupo de curadoria do evento também desistiu do trabalho.
No podcast Reparação Histérica, comandado pela escritora, roteirista e apresentadora Tati Bernardi, que foi ao ar nesta quarta-feira (17), Milly Lacombe contou que não pode vir a São José por temer pela própria vida. O bate-papo também contou com a roteirista, articulista e criadora Manuela Cantuária.
“Eu amo feira literária. Amo os debates da feira literária, mas, em nome da minha vida, não posso ir”, afirmou Milly. “Não posso ir à feira porque corro riscos reais e imediatos”.
Veto.
A jornalista foi impedida de participar da Flim por determinação do prefeito Anderson Farias, que justificou a decisão por declarações críticas de Milly à família tradicional. Um vídeo com recorte da fala dela em um podcast, no final de julho, foi utilizado por grupos conservadores para criticar a escolha da escritora pela curadoria da Flim. Anderson diz que Milly ‘atacou a família tradicional brasileira'.
“Essa família tradicional, branca, conservadora, brasileira é um horror. É a base do fascismo, falemos a verdade, né?”, diz ela no trecho do vídeo.
Milly classificou o recorte de “desonesto” e que tira do contexto a declaração dela sobre o que é a família e de como “a gente tem que proteger crianças e jovens LGBTQIA+ e como esse núcleo não pode ser violento com mulheres”.
“Essa ideia de que o lugar mais perigoso para uma mulher estar é dentro de casa fala muito sobre o que é a família, né? Essa ideia de família”, disse ela no podcast Reparação Histérica.
“E aí circulou pelas bolhas de extrema direita esse corte absolutamente descontextualizado, e os caras vieram para cima de mim e foram para cima da feira, e eu comecei a receber ameaça e não posso ir”, contou.
“Que absurdo. Que absurdo”, afirmou Tati Bernardi.
“Passei boa parte do dia de hoje com esse susto, tipo não posso ir à feira porque corro riscos reais e imediatos, por essa ideia de que família precisa acolher pessoas LGBTQIA+ sabe? E não ser violenta com mulheres Ela assusta muita gente, né?”, disse Milly.
Que completou: “As pessoas que querem manter a família como esse núcleo tradicional e cheio de relações de poder e hierarquia. Então, tiraram assim de contexto uma declaração que eu dei num debate, num podcast, falando exatamente isso, sabe? A família precisa acolher. Essa família hierárquica, essa família dessas relações de poder, ela é afinal de contas um núcleo que produz muitas neuroses, né? Sabemos disso, né?”.