ENTREVISTA EXCLUSIVA

Após 20 anos, Edilson Pereira abre caixa-preta da Máfia do Apito

Por Guilhermo Codazzi e Xandu Alves | São José dos Campos
| Tempo de leitura: 36 min
OVALE
Edílson Pereira de Carvalho participa do Documento OVALE Cast
Edílson Pereira de Carvalho participa do Documento OVALE Cast

Após 20 anos, o ex-árbitro Edílson Pereira de Carvalho, 63 anos, abre a caixa-preta do maior escândalo de corrupção da história do futebol brasileiro, conhecido como ‘Máfia do Apito’. Em entrevista exclusiva ao Documento OVALE Cast, podcast de grandes reportagens de OVALE, o ex-juiz da Fifa contou detalhes da manipulação de jogos e de seu banimento do futebol. Foi a primeira entrevista de Edilson a um podcast.

Clique aqui para fazer parte da comunidade de OVALE no WhatsApp e receber notícias em primeira mão. E clique aqui para participar também do canal de OVALE no WhatsApp

O ex-árbitro, que é de Jacareí e hoje mora em Taubaté, ficou nacionalmente conhecido por seu envolvimento no escândalo de resultados de partidas que levou à anulação de 11 jogos do Campeonato Brasileiro de 2005, apitadas por ele em uma era pré-VAR.

Afirmando ter “destruído a vida” por ter participado do esquema, Edilson admite que quase tirou a própria vida em decorrência do sofrimento que sentiu após ter sido banido do futebol. “Várias vezes eu colocava o revólver [na cabeça], disparei umas três vezes em casa e ficou lá a marca do tiro”, disse o ex-árbitro.

O Documento OVALE Cast, podcast que investiga e aprofunda temas de grande relevância, conta com a participação do editor-chefe de OVALE, Guilhermo Codazzi, e do repórter especial Xandu Alves.

Confirma a seguir a entrevista completa de Edílson Pereira de Carvalho:

Em entrevista ao repórter Marcos Eduardo Carvalho, de OVALE, o senhor disse: "Se arrependimento matasse, eu já estava morto". Passados 20 anos do caso que ficou conhecido como Máfia do Apito, como isso impacta a sua vida hoje? Ainda representa um sofrimento para o senhor?

Sim, evidente, não tem como. Sofri muito mais em 2006, não vou falar nem em 2005, que foi em setembro, então outubro, novembro, dezembro já estava a final de campeonato. Mas principalmente no começo. E até hoje. Não tanto quanto naqueles anos. Eu só trabalhava como árbitro. Em primeiro lugar que acabou a arbitragem para mim, fui banido do futebol, tinha que procurar emprego, tinha uma família. Não era fácil arranjar emprego devido ao que eu aprontei de errado na minha vida, de errado com o futebol.

Não tem o que falar o que eu chorei, o que eu sofri, tudo exclusivamente por minha culpa. Mas o tempo passou, o tempo passa, graças a Deus. E hoje eu sofro comigo. Aliás, nessa madrugada mesmo sonhei. Geralmente de sete dias por semana, em quatro eu sonho com futebol. Estando arbitrando. Eu sonho, é ridículo. Mas eu sofro comigo psicologicamente todo santo dia. Antes eu chorava muito por nada, agora eu acho que tem que tocar um pouco para chorar. Porque está no fundo, está comigo, e o futebol está com todos todo dia, o brasileiro é isso, a cultura acima de tudo, acima da esposa, do filho até. E a gente vê isso.

E muito mais que eu via na violência nos estádios, não dos jogadores, na violência até hoje nas torcidas. Tem gente que vai lá e não vê o jogo, só vai para coisa pior. Estou falando de alguns torcedores, graças a Deus, a minoria. Então, futebol no Brasil é uma cultura muito forte. Creio que se fosse outro esporte ou alguma coisa outra que eu fizesse, eu não teria sofrido tanto. Mas mereço, mereci.

Eu sou muito franco nas minhas coisas. Sempre fui. Eu acho que a pessoa que erra tem que se ferrar mesmo. É que se todo mundo pagasse o que eu paguei, mas não acontece isso, e as pessoas continuam errando, continuam matando, continuam estuprando, continuam roubando. No meu caso, aconteceu aquilo e acabou. Acabou comigo, acabei com a minha vida, comigo. Não tive outra chance.

Fui banido, mas as pessoas que fazem as coisas erradas continuam ainda fazendo coisas erradas, e tem exemplo. Continuam assistindo e fazendo as suas burradas e prejudicando a si, aos filhos, à família, à esposa. Eu fiz essa coisa errada, entre aspas, também jogaram muita coisa em cima de mim, muita coisa. Dos 11 jogos mesmo não teve. Só pegar as fitas e mostrar que não teve, não fiz nada, mas eu participei, então tem que se ferrar mesmo. E eu fui banido e acabou.

Edilson, você acabou de falar que destruiu a sua vida. Principalmente nesses primeiros anos, logo após a revelação do caso, você chegou a pensar em tirar a própria vida?

Naquele tempo, entre 2005 e 2007, depois disso não. Eu não pegava o meu revólver, eu nunca bebia antes, eu vivia do esporte, me preparava cedo, à tarde e à noite para acompanhar os jogos dentro de campo. Então, tomava meu vinho pouquinho ali, mas depois quando eu parei, eu ficava em casa trancado, não saía na rua, não saía para nada. Aí comecei a beber, mas não ficava alcoólico, mas bebia. Então, a bebida me transformava e eu só ficava chorando em casa, trancado dentro de casa e bebendo.

Várias vezes eu colocava o revólver [na cabeça], disparei umas três vezes em casa e ficou lá a marca do tiro. Não sabia nem atirar e o impacto pegava e saía fora. Foi bom, porque hoje eu posso estar aqui com vocês. Estou vivendo e é maravilhoso viver. Deus deu isso para a gente, para o ser humano. Se eu tivesse feito aquilo, eu me sentiria melhor [na época]. Não hoje. Hoje eu vivo muito bem com minha esposa, a minha única família, eu e minha esposa somente. E mais a minha cachorrinha, que eu amo.

Mas antes não, antes eu sofri bastante. Eu não posso voltar atrás, que beleza que não pode voltar atrás por nada nessa vida. Senão eu teria feito essa cagada na minha vida. E se tivesse voltado atrás depois dessa cagada que eu fiz, eu também teria me suicidado tranquilamente sem remorso nenhum. Mas hoje não, hoje eu não faria mais isso.

O que evitou que o senhor tirasse a própria vida? O senhor pensou em quê? Alguma coisa segurou ali, o senhor atirou para cima e não na própria cabeça?

Acho que foi covardia. Se atirei para cima e o revólver tem seis balas, tem mais cinco balas dentro do revólver. Foi covardia da minha parte, estando na hora alcoolizado, e tinha horas que não. O sofrimento era muito grande. Era uma vergonha muito grande. Não podia ligar a televisão, estava lá a minha cara. Só falavam isso.

Parece que o mundo ia acabar. O Brasil ia acabar por causa dessa Máfia do Apito, de um juiz que burlou o futebol brasileiro. Burlei porra nenhuma. Burlei nada de 11 jogos. Mas estava do lado errado da honestidade. E fui covarde. Poderia ter feito sim, covarde. Mas não tem como explicar. Não tem.

Você é de Jacareí, mas se mudou para Taubaté há quase 10 anos. Como é seu dia hoje? Com que você trabalha?

Pois é, mudei de Jacareí para Taubaté há 9 anos. Sou casado, muito bem casado. Essa minha esposa me dá muita força, uma pessoa inteligente. Eu estava trabalhando há pouco tempo atrás com entregas para quem faz compra online. Eu entregava na casa das pessoas esses produtos. Eu fazia três, quatro vezes por semana e eu decidi que não, que não é um lucro relevante, é mais para passar tempo mesmo. E então parei há algumas semanas. Minha esposa está aposentada e eu estou prestes a me aposentar também com 65 anos. E sempre pagando a contribuição. Então, espero chegar logo em 65 anos para ganhar esse salário aí.

Meu dia a dia é ficar em casa. Todo dia eu saio na minha corrida. Fico depois do almoço, ajudo a minha esposa a fazer o almoço. Só nós dois em casa, então é tranquilo. E a tarde assistindo um filme ou quando tem jogo, assistindo um futebol. A minha vida é simples, é completamente simples hoje. Simples, modesta e básica, é isso.

Com essa idade também, se antigamente era muito difícil arranjar emprego, porque todos me conheciam, hoje não me conhecem, 99% não me conhecem. De jeito nenhum na rua. Mas com a idade, arranjar emprego eu acho que é quase impossível. Quase.

Você falou que o pessoal não te conhece, mas eu acredito que, nos anos logo após o caso da Máfia do Apito, isso era diferente. Você chegou a sentir dificuldade na busca por um emprego naquela época, as pessoas te reconheciam? Como era essa tentativa de uma retomada naquele período?

Em 2005 que aconteceu, em setembro, em 2006, 2007, eu fiquei praticamente trancado dentro de casa. Para não passar vergonha, para não passar aborrecimento, para não escutar alguma coisa e eu não vou deixar barato, nunca deixei na minha vida alguém me ofender, seja dentro de campo, seja fora.

As pessoas têm pavio curto. Eu nunca tive nem pavio. Eu morava num condomínio, tinha meu campinho, tinha minha piscina ali onde eu treinava, onde eu desabafava fazendo exercício, e minha esposa trabalhando, minha ex-esposa. Minha mãe me ajudava bastante também. Ela morava em outro bairro, mas me ajudava financeiramente também. Depois em 2008 eu comecei a sair de casa e a procurar emprego nas fábricas. Só em fábrica que eu trabalhei, como operador de empilhadeira, na logística.

Comecei a procurar emprego nesse ramo. Foi o último emprego que eu tive numa fábrica. Mas naquele tempo era muito temporário, eu não sei como está hoje. Era mais temporário, o meu tempo de temporário é mais curto que o dos outros, que eram de dois, três meses, ou tinha lugares que eram de seis meses. O meu tempo era de três dias. Quando me conheciam, as moças faziam entrevista comigo, aí eu ia para a fábrica. Era dois, três dias quando a pessoa me conhecia, quando todos me conheciam.

Depois eu consegui trabalhar acho que 5 meses em alguma fábrica de vidros. Mas o meu tempo de trabalhar era terrível, o sofrimento era muito grande. Eu tenho várias passagens. Emprego era até fácil de arranjar. O meu currículo era bom. O que não era bom era o meu rosto perante as pessoas e a lembrança perante as pessoas. Eu sofri muito, se eu for contar a história aqui, nós vamos ter um podcast só de historinhas de cada emprego.

Quando era chamado [para ser demitido] e eu já sabia o porquê. Trabalhava cedo em dois lugares, eu trabalhei cedo e à tarde, o rapaz estava com o dinheiro lá, inventando uma história, não tinha coragem de falar na minha cara e que era por esse motivo. Aí eu sempre pensei, você tem que ser punido. Paciência.

Como começou o seu envolvimento com a arbitragem. Como é que o menino aqui de Jacareí se transformou num dos principais árbitros do Brasil e da América do Sul nos anos 1990?

Eu jogava no futebol amador de Jacareí. Como tem todas as cidades aqui do Vale. Jogava de lateral esquerdo, zagueiro. Era isso. E dava porrada para caramba. Eu cheguei a ser expulso uma vez. Uma vez só. O árbitro acertou na expulsão. Os outros que erravam ou deixaram passar porque eu deveria ter sido expulso muitas vezes.

Tinha o segundo quadro naquele tempo, hoje eu não sei se tem. Eu jogava, eu apitava, eu gostava de apitar, porque eu via, eu era fã do Dulcídio Wanderley Boschilia, era um homem maior que eu. Aquele jeito de maluco dele, se impunha em tudo dentro de campo, extrapolava até as regras, e eu não sei porque que eu era fã dele.

Era um árbitro diferente que tinha peito, que eu via apitando Corinthians, São Paulo e outros jogos do Campeonato Paulista. Bom, até então, normal. Eu estou jogando futebol, só gosto de futebol, eu estou assistindo o futebol na televisão, como todos estão assistindo.

Jogando futebol em Jacareí, apitando o segundo quadro, assim, com um calçãozinho, que não ganhava nada para isso e jogava no time principal, que era o primeiro quadro do amador. Eu apitava só um tempo e meio e depois já me arrumava para jogar no principal.

Eu gostava, um apito que me emprestavam lá e eu tinha um meu, não lembro também, 500 anos atrás. Eu gostava e aí estava o presidente da Liga assistindo o nosso time, que era o Aliança de Jacareí, senão um melhor, mas um dos melhores, junto com Santa Rita, Parque Meai Lua. Aí faltou o árbitro principal.

E o presidente da Liga pediu para eu apitar. Eu falei: “Como eu vou apitar se eu jogo no time?”. Eu ia ganhar o que seria uns R$ 400 hoje. Eu falei: "Poxa, mas eu não sei nem regra e nem uniforme eu tenho". O cara trouxe tudo lá, você quebra o galho, eu vou buscar, arranjo um árbitro aí na casa dele aí para mim. Eu falei: "Bom, olha, eu não vou prejudicar vocês aqui. Eu não entendo muito de regra”.

E eu sei que apitei o primeiro quadro lá e o resultado que eu me lembro foi 1 a 1. Aí eu fui bem no jogo, todo mundo me respeitava, que era conhecido em Jacareí, de jogar, uma cidade pequena. Era um time grande, que era o Aliança.

E eu gostei, poxa, sendo elogiado, ainda depois do jogo o rapaz me trouxe lá o dinheiro, uns 400 e 500 reais. Aí o presidente da Liga, o Sebastião Ignácio da Silva, o Ney da Liga, ele pediu que eu fosse apitar a semana que vem, sábado, domingo. Olha, você pode ganhar dinheiro. Me aposentei da carreira de jogador ali. Não a chuteira, mas eu aposentei o uniforme de jogador do Aliança ali.

E comecei a apitar sem saber muito das regras, evidente. Eu sabia na televisão, mas que sabe o jogador? Hoje até jogador profissional não sabe porra nenhuma. Imagina aquele tempo. E a gente enrolava, mas eu falei: "Vou enrolar até quando. Então eu tenho que fazer um curso". E o Emídio Marques de Mesquita, que para quem já ouviu falar, ele era da FIFA e morava em Jacareí, ele deu o curso.

Nós estamos falando em 89. E com 30 anos [de idade] era o último ano que você tinha que ir para a Federação Paulista para se inscrever. Você tem que ter 1,70 m, tem que ter segundo grau, tem que pagar um salário mínimo para fazer o curso na Federação, acho que isso é até hoje. Eu fui fazer o curso em Jacareí naquele mês, sem saber muito bem de regra, eu já apitei até final, rapaz.

Então, eu fui gostando dos elogios e tudo mais e tinha um rapaz em Jacareí que é o Mário Pires do Amaral, professor de educação física, ele bandeirava a primeira divisão em São Paulo e apitava a segunda divisão. Ele me levou para fazer o curso em São Paulo. Eu fiz o curso lá durante seis meses. E assim foi. Comecei nas categorias de base, evidente, todo mundo começa no infantil, juvenil. Primeiro jogo meu foi em Cruzeiro, até teve WO, depois São José e Santo André, infantil, Taubaté e São José.

Eu tinha uma motinha. Foi tudo mais por gosto do que até o dinheiro, que era pouco, evidente, no infantil e no juvenil. E com certeza, eu aposentei o meu uniforme de jogar bola em Jacareí, jogar o meu futebol amador. E comecei a me valorizar, fazer exercício, mas mesmo assim eu trabalhava, comecei a trabalhar em fábricas.

Futebol era durante o final de semana. Eu fui gostando, ganhava muito mais apitando do que trabalhando numa fábrica. Eu comecei a me apaixonar muito e me dedicava muito em Jacareí e depois na Federação. Tudo é sorte também para você ir evoluindo e competência também. Tudo na vida é isso.

Quando é que virou a chave e virou juiz profissional?

Eu estava trabalhando e tinha até me casado. Em 1991 eu fiz o curso. Aí começaram os campeonatos de infantil, juvenil, e fui indo trabalhando na fábrica na logística, com empilhadeira, e adorava trabalhar lá. E no final de semana eu apitava os amadores aqui e também, quando não tinha jogo na Federação de juniores ou juvenil, eu apitava no amador aqui, não jogava mais bola e trabalhava lá. Estava muito contente, ganho um dinheirinho daqui, faço o que eu amo aqui. E trabalho nessa fábrica aqui.

Aí em 92 já comecei a apitar na antigamente chamada intermediária. Para você chegar na primeira divisão antigamente era de 10 a 15 anos, para você apitar numa primeira divisão.  Eu saí de casa, pegava minha motinha e ia no Martins Pereira assistir não o jogo, mas ao árbitro. Sempre fazia isso, sempre. Me perguntava do jogo, como é que foi o jogo, não sei, eu vi o árbitro. Vários que eu assisti, muitos ruins e muitos bons. Você tira lição de tudo. Isso é fato.

Tira lição até do ruim, que é melhor ainda para você não fazer burrada dentro de campo. Em 94 eu apitei meu primeiro jogo da primeira divisão, União São João e Corinthians. Em três anos eu apitei meu primeiro jogo da primeira divisão. No sábado à tarde, televisionado pela Band. E foi uma experiência, uma emoção diferente. Assim, poxa, eu já tenho um pouco de experiência de intermediária, que é muito difícil de apitar. Hoje, falando de intermediária, seria Taubaté, São José, Série A2.

O árbitro que apita segunda divisão, União de Mogi, Jacareí onde eu morava antes, e que apita Corinthians, ele é profissional do mesmo jeito, ele não admite você falar que estou apitando a quarta ou quinta divisão, não. Eu sou árbitro profissional, apito a primeira divisão. Eu sou profissional e apito qualquer coisa. Não funcionava dessa forma, mas o árbitro é profissional.

Você fez o curso e terminou o curso, você é profissional. Não interessa se está apitando o infantil, você sabe das regras do infantil que vale pro Corinthians e Palmeiras, mesma coisa. Só não, você não tem nada de experiência e nem jogadores e tudo o mais que te cerca.

Edilson, você chegou à FIFA e foi um dos árbitros mais renomados do país. Era conhecido até por ser enérgico dentro de campo. Você apitou jogos importantes, com o Maracanã lotado, Morumbi lotado. Você sente falta daquela atmosfera que envolvia o jogo?

Eu apitei na América do Sul, em três países, a final. Apitei no Brasil inteiro todas as finais que tiveram, menos no Rio de Janeiro, que não deixavam árbitro de fora apitar. Cada um tem a sua competência na arbitragem. Esse prazer está dentro da pessoa, do seu trabalho e quanto mais difícil é, mais você se emociona. Comecei na base, eu não tinha roupa, não tinha apito, não tinha nada, e assim foi crescendo e chegou até lá.

Não desmerecendo, apitei até em presídio. Tudo serve de lição. Presídio tem os seus campeonatos. Então tudo serve de lição. Tem o seu futebol lá. Então, eu cheguei a apitar em duas vezes em São Paulo. Essa questão da atmosfera que envolvia fica na gente. O sonho todo dia está comigo. Deus dá o dom para cada ser humano, seja lá o que for. Deus me deu esse dom de ser árbitro. Eu por mais que eu não queria, os caminhos foram se fechando e eu fui. Larguei até o meu emprego.

É uma coisa maravilhosa. Você acha que é muito diferente de ser árbitro de futebol do que qualquer outra profissão, que você mexe com a cultura do Brasil, mexe com o povo, mexe com o ser humano, mexe com o homem, o torcedor que a emoção fala muito, que vende uma casa, que faz qualquer coisa para assistir ao time dele, para viajar, para acompanhar, faz besteira. A gente vê isso na televisão.

Então, o futebol no Brasil é muito mais do que qualquer outra coisa que a gente possa imaginar. Eu já presenciei muitas coisas. Chegando ao estádio ou saindo dos estádios. Eu já presenciei muitas coisas e não dá para contar. Tem coisas ruins. E coisas boas que a gente vê um casal falando: "Ah, minha esposa é corintiana, eu sou palmeirense, a gente se dá bem". Que bom que todo mundo fosse assim, ou vai no estádio e todo mundo assiste. Você não vai no estádio com Corinthians e Palmeiras, uma que é proibida. Você só vai num hoje, pelo menos em São Paulo, é uma torcida só.

Você teve uma carreira bastante meteórica. Em 5 ou 6 anos você chegou ao topo da arbitragem no Brasil. Quando é que começou o contato dos envolvidos com o esquema de aposta? Como é que eles fizeram contato com você? Você já estava no Brasileirão, apitando Brasileiro? Já era um dos principais árbitros do Brasil?

Sim, sem dúvida. Em 2002, se não tivesse o QI [Quem Indica], eu estaria na Copa do Mundo. Mas o QI ajudou o Carlos Eugênio Simon, um excelente árbitro, a estar lá. De 10 no Brasil com FIFA, você pegava cinco, o resto era por política. Desses cinco: Sidrack Marinho dos Santos, Carlos Eugênio Simon, Antônio Pereira da Silva, Edilson Pereira de Carvalho e Márcio Rezende de Freitas. Então, falei os cinco. O resto era politicamente por estado, então, mas tinha que ter 10, acho que hoje ainda existem os 10 no Brasil. Mas hoje você pega um só também.

Em 2004, o Daniel Pololi, eu não sou muito bom de lembrar de nomes. Eu sou muito bom de fisionomia e números. De nome eu não sou muito bom, não. Ele telefonou em casa para eu ir apitar o amador para ele em Campinas, e o time lá nunca tinha sido campeão e era de um empresário muito rico. Se eu podia ajudar. Eu vou aí apito, agora ajudar é problema teu. É 5.000 reais tá bom, é a taxa FIFA, vou aí sim [apitar]. Não, mas vamos conversar antes. Mas que conversa que você quer? Eu não preciso de nada, não tem conversa. Eu vou aí apitar, recebo antes do jogo e se o seu time fizer mais gols, ganha. Qual o nome do seu time? Ele pipocou até para falar o nome do time, quer dizer, era tudo já armado.

E eu falei: "Não, não, não, não, não". E passou um tempo e o jogo já tinha feito, já tinha rolado naquele domingo e ele começou a me ligar de novo. Eu não fui apitar, de jeito nenhum. Ele queria que eu ajudasse. Pô, um árbitro FIFA que não parava em casa, só apitando no Brasil inteiro e fora, eu vou aceitar um joguinho de amador. Qualquer um tira uma foto, faz qualquer coisa, filma ali e acaba comigo. Nunca, jamais. A gente erra.

Futebol é interpretativo, já errei muito, juvenil, infantil, profissional, intermediário, errar é uma coisa. Sei que errei, lembro até agora que eu errei. Até agora em vários jogos que eu errei os lances envolvendo várias equipes de todas as visões, errar é humano, ainda mais árbitro de futebol, erra sempre, erra todo jogo, não existe arbitragem perfeita, não existe, não adianta você aprovar a bandeira eletrônica, põe o que quiser, não existe, vai sempre errar. É interpretativo. Agora errar de propósito é o cúmulo da picada. E aconteceu isso comigo.

Então, durão, enérgico, muito respeitado pelos jogadores. Hoje em dia dá até vergonha falar. A gente vê na televisão aí. Para quem assistiu antes, dá raiva assistir. Dá raiva. Ainda mais eu que tive lá dentro. Que os jogadores deitam e rolam em cima dos árbitros. Para quem é apaixonado por futebol e principalmente eu por arbitragem.

Então, ele me procurou e foi no condomínio. O rapaz me disse lá: "Tem um senhor aqui que quer falar com você". Eu falei: "Ah, eu vou aí, porque não deixa entrar, não conheço". Olha Edilson, vou te falar simples, não era um amador não, era um jogo profissional. Sabe esse site de apostas? Eu falei: "Não sei”. É, começou. Era um ou dois que tinha aí. Já ouvi falar alguma coisa assim. Não tinha nem propaganda nos campos. Hoje é uma disputa. Propaganda no campo inteiro, só site de apostas. Tudo mal, mas tudo bem.

Aí, me oferecendo para eu apitar um jogo ou qualquer jogo para ele em 2004, no final do Brasileiro. Foi em outubro. Disse a ele que perdeu seu tempo, gasolina, e ele falou que morava em Campinas. Você perdeu seu tempo. Já no telefone. Perdeu seu tempo hoje vindo pessoalmente. Quem me indicou? Jamais que ele queria falar.

Mas depois fiquei sabendo que foi o Paulo Danelon. E não sei porque também, podia indicar todo mundo, menos eu, do jeito que eu era. Que eu não cumprimentava nem diretor, nem presidente de clube, não gostava que nem entrasse no vestiário. Era chato que só. Não vinha aqui para fazer amizade com ninguém. Eu vim apitar os 45 mais 45, não estou aqui para fazer amizade com presidente e diretor de clube nenhum. Eu era muito chato. E isso é muito bom na arbitragem. Isso é um elogio.

Ele foi embora, mas passou 2004 e em 2005 continuaram a ligar e queria marcar o encontro comigo no Frango Assado, entre eu e esse apostador, o Nagib Fayad, o Gibão. Eu falei: "Vou ou não vou?" Não tenho que ir, mas acabei indo. E no telefone falou um valor. É dinheiro, e errei e fui por dinheiro e coloquei na minha cabeça. Depois ficou a vontade de fazer as perguntas. Conheci esse tal de Gibão no Frango Assado em Jacareí, em fevereiro de 2005.

E aí isso acabou entrando na sua vida. Fez uma partida, acredito que eles depois tenham procurado para fazer outros jogos?

Olha, veja bem. Eu fiz a minha parte, eu coloquei na minha cabeça. Sempre falei, sempre vou falar e não vou negar. Comigo e para com os outros. Acreditem quem quiser. Não acredite. É só pegar a fita e colocar no vídeo cassete e assistam. Eu coloquei na minha cabeça, eu vou fazer o jogo e escolher o time.

Um exemplo no Paulista. Foi Guarani e Corinthians. Você escolhe o mais forte, eu vou ganhar menos. E se você escolher o mais fraco, evidente que aposta os mesmos R$ 10 mil que eu jogar num time ou num empate num outro time vai prevalecer o que eu ganho mais.

Se eu jogar R$ 10 mil no Guarani eu vou ganhar, um exemplo, não sabia de nada disso. Eu vou jogar R$ 10 mil para a vitória do Guarani, se você aceitar o Guarani empate ou Corinthians, eu vou ganhar R$ 100 mil. Se der empate eu ganho R$ 50 mil. Se eu jogar no Corinthians eu vou ganhar pouco, porque é um time bem melhor. Eu posso escolher? Eu vou querer que você ganhe e eu vou ganhar. Porque se não der o resultado que você queira, onde você apostou, em termos de 2025, se não der o resultado você não ganha, ganha o site. Era a mesma coisa naquele tempo.

Só que hoje em dia até lateral, uma falta, cartão amarelo, jogadores de seleção brasileira aí, uma vergonha. Então várias coisas dentro da regra do futebol, do jogo de futebol. Antigamente não, era só vitória.

O que eles pediram para o senhor fazer e interferir no resultado. A ideia era interferir no resultado?

100%, mas não pediram nada. Era só o Gibão. Eles pediam para escolher o time. E eu escolhia o Corinthians, no próprio Brinco da Princesa em Campinas. Não me lembro se teve cartão. Esse jogo era tão fácil e eu só pegava jogos difíceis, para quem conhecia meu estilo de arbitragem. Eu não era nem escalado nesse jogo. Não seria. Escalava um árbitro já para pegar cancha, para pegar experiência. Era um jogo mais fácil, entre aspas. Porque você faz o jogo ficar fácil, o árbitro faz.

Bom, eu escolhi o Corinthians que ganhou de 2 a 0. Eu não me lembro de ter cartão nesse jogo, então um jogo sem cartão amarelo e vermelho é porque foi um jogo fácil. Você deixa o jogo ficar fácil. Ganhei meus R$ 20 mil, mais minha taxa de arbitragem de R$ 5 mil. Poxa, isso começou a me iludir.

Eles também tinham esquema de influenciar quem seria o árbitro das partidas?

Saía a escala para o jogo e eles procuravam o árbitro. Eles ligavam e perguntavam em qual jogo estava escalado. Eles estavam tão empolgados em ganhar dinheiro fácil. Era muito mais dinheiro, porque ele apostava, era muito rico. Não sei se a palavra milionário serve para ele, porque eu não conhecia. Cada vez que me encontrava com ele estava com um carrão diferente. Ele sabia do Guarani e Corinthians, ele telefonou: "Você tá no jogo Guarani e Corinthians. O que você escolhe?”. Eu escolho o Corinthians, que era o favorito disparado. Eu torcia mentalmente para o Corinthians dentro de campo ganhar.

Mas mesmo assim, para ele, eu tinha que fazer o Corinthians ganhar de qualquer jeito. Não interessa se era pênalti, se não era pênalti, ele investiu aí 50, 100 mil reais. Problema dele, não é meu. No dia que eu errar, e eu já fui chamado a atenção por ele em dois jogos, no dia que ele não gostar e já não gostou mesmo.

O primeiro jogo não foi esse. Foi Libertadores da América em fevereiro, entre Banfield e Aliança de Lima, na Argentina. Esse jogo não foi televisionado porque acho que era a segunda rodada da Libertadores. Então, mesmo porque não tem nada a ver com Peru com Argentina ser televisionado para o Brasil, um joguinho qualquer. Ele escutou no rádio, diz ele. Senão foi pessoalmente. Ele viu lá que eu não tive nada a ver com o jogo.

Muito pelo contrário, deixei de expulsar o jogador Schelotto, do Aliança, que era para ser expulso, mas na minha cabeça eu estou expulsando ou não? Estou expulsando como árbitro que ele merece ser expulso? Mas na minha cabeça não, eu estou ajudando a ganhar o meu dinheiro ali. Eu fui do hotel até o estádio sem abrir a boca no carro, os rapazes brincando: "Meu Deus, está tenso aí”. Também não sou alegrão, mas também não sou de ficar calado. Fui assim psicologicamente para o jogo, bom tomara que ele perca, foi nesse primeiro jogo que eu fiz para ele.

Eu topei a parada. Na verdade, eu nem fiz. Teve dois lances lá que eu não fiz para ele. E o Banfield, faltando 5 a 10 minutos, fez o terceiro gol, 3 a 2. E no aeroporto, quando me encontrou na quarta-feira, esse jogo foi na terça-feira, na quarta-feira ele me trouxe lá o dinheiro, R$ 10 mil e aí assim, não tinha tanto contato comigo. Poxa, Edilson, eu escutei no rádio, mas você não ajudou em nada no jogo, né? Fizeram um gol da própria sorte lá. Falei: "Poxa, você escutou? Como é que você escuta duas línguas falando argentino?”. “Entendo muito bem que você não ajudou, não procurou ajudar. Foi um gol na sorte”. Falei: "Não, eu ajudei sim, eu fiz umas faltas lá, inventei". Ele falou: "Não, você não fez não, hein? Eu sei que você não fez". Eu falei: "Esse cara foi no jogo, que ele é rico”. E eu sei que ele me deu uma comida de toco ali, eu falei: "Tomara que ele nunca mais me ligue então, eu ganhei a taxa do jogo e ainda ganhei os R$ 10 mil dele". E não fiz nada mesmo, mas não fiz mesmo.

Pulando para o Campeonato Brasileiro de 2005, o senhor falou que não fez nada. Naquele ano, o STJD [Superior Tribunal de Justiça Desportiva] decidiu anular 11 partidas do campeonato que você tinha apitado. Quero dar oportunidade para que você fale sobre essas partidas, se você interferiu no resultado ou não, e se você acredita que essa decisão do Luiz Zveiter [presidente do STJD] foi a acertada ou não?

Eu vou começar pelo fim. A decisão foi acertada. Ele tinha que me banir. Foram duas decisões. Ele me baniu do futebol, tinha que banir. Tanto valia há 20 anos, como para hoje. Tem que banir. E depois a gente pode até falar nos jogadores envolvidos, da seleção brasileira, Bruno Henrique e Lucas Paquetá, também têm que ser banidos do futebol. Por que não é banido? Tem que ser banido, sim. Porque estão fazendo coisas. Ah, não estão, mas estão tomando cartão. Então, fica a dúvida.

Eu tenho que ser banido, sim. Fez ou não fez? Mas andei com quem, conversei com quem me cooptou. E eu topei. Como o Luiz Zveiter me disse na Polícia Federal, os quatro dias que eu fiquei detido: “Mas o senhor estava para fazer”. Eu estava para fazer, mas não fiz. “O senhor tem os 11 jogos, o senhor tem as fitas, mas o senhor poderia ter feito”.

O único jogo mesmo que eu fiz, fiz mesmo, foi Vasco da Gama e Figueirense, que foi uma jogada interpretativa, foi falta, um jogador, não me lembro qual do Vasco, e o Romário foi lá e fez [converteu] o pênalti. No meu estilo de arbitragem, eu não daria essa falta, não seria pênalti, mas como é interpretativo, eu interpretei, poxa não vou inventar também, está passando um jogador perto do outro e dá pênalti, não. Você tem que ter um motivo para fazer um resultado, para marcar uma falta, né? Você tem que ter um motivo.

E eu inventei essa falta, não foi falta, o zagueiro tomou a bola e saiu, eu inventei e foi pênalti. E naquele tempo os jogadores não reclamavam, tanto quanto os de hoje. E eu era muito respeitado. Mas muito.

Então, naquele momento, numa jogada duvidosa, pelo seu estilo de arbitragem, você não marcaria o pênalti, mas em razão daquela situação você marcou?

Da minha cabeça está pelo dinheiro, R$ 17 mil [que pagariam pela manipulação]. Esses R$ 10 mil foi só na Libertadores da América, foi esse primeiro jogo. E eu marquei, o Vasco da Gama ganhou. O pior de tudo é que no intervalo do jogo diz ele que me ligou. Diz ele que me ligou no intervalo do jogo, celular lá, evidente, no vestiário, mas não tinha nenhuma ligação do Gibão lá. Ele disse que o site não aceitou a aposta e eu deixei de ganhar meus R$ 17 mil e minha cabeça inchada dentro de campo que eu fiz uma coisa que eu não deveria ter feito, jamais, ajudar uma equipe a ganhar uma partida de futebol ilicitamente por minha causa.

E o pior de tudo foi isso. E vindo inconsequentemente foi isso que ele falou, que o site não aceitou a aposta e não vai me pagar. Mas ele, eu acho, se foi aceito, ele ganhou o dinheiro e não quis nem pagar, mas como ele apostava muito, eu falei: "Poxa, ou ele é muito desgraçado mesmo, de não pagar só os R$ 17 mil". Mas era muito dinheiro naquele tempo, há 20 anos. Mas ele ganhou muito mais do que R$ 17 mil. No mínimo uns 200, 300 mil. E ele quis dar uma de malandro e não quis me pagar os R$ 17 mil, ou o site não aceitou mesmo. E eu estou nessa dúvida até agora e também não me interessa nada disso.

Sobre essa invasão das bets, hoje as apostas estão nas camisas dos clubes, há clubes que têm até as suas próprias bets, estão nas placas de publicidade, enfim, estão em todos os lugares. O senhor acredita que essa proliferação de apostas facilita eventuais desvios, seja de árbitro, seja de atletas?

Em primeiro lugar, onde há muito dinheiro, há corrupção. Seja qual setor for. Qualquer setor. É minha opinião. Aonde há muito dinheiro, há corrupção. Eu moro no Brasil, e no Brasil principalmente. Site de apostas no futebol. Futebol envolve muito dinheiro, milhões, milhões e milhões, muito dinheiro. Muito mais agora com os sites de apostas. E agora liberou geral para o governo ter uma lasquinha de cada site, certo?

Não impede nada de nenhum jogador, de nenhum árbitro de colaborar com eles e ganhar o seu dinheiro. Como houve com esses dois jogadores de seleção brasileira que ganham milhões e são jogadores conhecidos. E os que a gente não sabe, que não estão na televisão? Existe? Penso que sim. Quem? Não sei. Eu penso que existe. Por quê? Ninguém fala do Joãozinho, né? Fala de grandes nomes. Como teve no Amazonas, no Acre, em Goiânia há 1 ano e dois que foram banidos do futebol. Sabe que eu não sei nem o nome deles. Eles deram entrevista para outros podcasts por aí que eu vi.

Mas não são iguais a esses dois jogadores conhecidíssimos [Bruno e Paquetá], e foram banidos. Esses dois jogadores até agora estão jogando. Não deveriam. Deveriam ser banidos. Nada contra os dois. Aliás, o que eu tenho a ver com Lucas Paquetá e Bruno Henrique? Absolutamente nada, mas tem que servir de exemplo para outros jogadores não fazerem isso, não destruírem a sua família, não destruírem o futebol, para os torcedores continuarem acreditando que o futebol é honesto.

Eu servi de exemplo. Ah, você põe a sua mão no fogo hoje que nenhum árbitro [se corrompa], com o seu exemplo há 20 anos, está valendo até agora? Não posso falar, não sei. Deveria servir de exemplo. Tudo que eu passei deveria ser mostrado, documentado. O que eu sofri, o que eu sofro até hoje. E fui banido. Deveria servir para qualquer profissão. Os jogadores estão aí. Estão jogando esses dois jogadores, o Lucas e o Bruno, estão tomando cartões amarelos, vermelhos, estão fazendo faltas. A gente fica com uma pulga atrás da orelha. Será que ele está ganhando dinheiro por trás?

Então, a gente não sabe, porque eles têm que tomar o cartão amarelo. É do jogo, é da regra. Eles precisam tomar o cartão naquele tipo de jogada. Precisa fazer os gols também, porque os gols também valem muito para as bets. Mas o torcedor acredita nisso? Os familiares do Bruno Henrique acreditaram, os familiares dele apostando nele. Isso é uma vergonha, deveria ser banido para mostrar para os outros jogadores, para os milhões de jogadores no Brasil. Vocês estão falando só no Brasil, né? Nós aqui vivemos no Brasil. Vamos dar palpite em outros países não, como já houve [corrupção no futebol] na Itália, a Alemanha. Agora é muito mais fácil. Contra as bets? Eu sou a favor de gerar emprego para todo mundo, principalmente para nós, povo brasileiro.

Só que aonde há dinheiro, há corrupção. Jogadores de outras divisões, o time do Taubaté, o time do São José, os jogadores ganham. Eles ganham o quê? R$ 100 mil cada um, 200, 300, 400, 500, 1.000? Não ganham, gente. Eu não sei quanto ganha, se algum jogador do São José ganha R$ 30 mil por mês. Não sei, tenho minhas dúvidas. Então, o site de apostas vale para todos os jogos do Brasil. Então, é fácil cooptar um jogador no Brasil. E é fácil dele aceitar também.

Agora, ele tem que ser pensar que foram banidos dois jogadores da seleção brasileira. Por que um João ninguém que joga em times menos expressivos, não vou ser banido? Então, ele tem que pensar desse jeito, que sirva de exemplo os jogadores de seleção brasileira. E olha, não deveria fazer aquilo. Precisam? Não. São milionários, mas são burros. E por burros deveriam ser banidos, para servir de exemplo para os outros. Mesmo assim, não existe. A gente vê na televisão, todo dia tem crime, poxa. E continuam as pessoas fazendo o mesmo tipo de crime, sabendo que vão ser presos. As pessoas continuam fazendo o mesmo tipo de crime. Não serve de exemplo, infelizmente não serve. No meu caso, acho que serviu, porque desde então de 2005 até 2025 eu não vi mais árbitros trabalhando, ajudando [esquemas de corrupção].

Falando em árbitro, Edilson, o que o senhor acha do VAR?

Olha, na minha época não tinha VAR e tinha erros. Muitos erros. E hoje nós temos o VAR que vai solucionar os problemas de uma partida de futebol. Não vai solucionar 100%. Não vai. Vai amenizar. No meu tempo tinha, vamos dizer, 10 erros por jogo. Não sei. Porque o futebol é interpretativo. As faltas são interpretativas. Hoje as faltas continuam interpretativas e muito mais para o VAR aqui, tem quatro ou cinco pessoas que não entraram em campo.

Tem até moças aqui no VAR vendo a televisão e fazendo a cabeça do árbitro lá, falando, falando, falando. Três ou quatro falando na cabeça dele, uma decisão que ele viu. Ele viu que não foi. Aliás, um exemplo do domingo, quem assistiu Corinthians e Bragantino. O rapaz acertou no lance, não foi pênalti para o Bragantino, na minha opinião. Eu vi o lance várias vezes de casa, na televisão. Não foi, ele acertou, não foi. Nada, fez o gesto e continua. O VAR chamou, fora a pressão dos jogadores do Bragantino, falando: "Vai no VAR, vai no VAR, vai, todo mundo vai no VAR".

Ele não é obrigado a ir no VAR, mas quando o VAR chama você se sente pressionado. Se eu não for no VAR, os rapazes no VAR vão falar: "Foi chamado naquele instante por esse lance e ele não veio”. Com certeza ele vai ser punido, porque ele no mínimo teria que ir no VAR. Poxa, se me chamou, por que eu vou continuar com a minha opinião de não ter dado o pênalti? Eu tenho jogo quarta-feira, R$ 5 mil. Ele pensa sim. O árbitro pensa na sua próxima escala.

Não é o jogador que ganha por mês, o jogador até toma cartão para ir numa outra partida. Ele foi no VAR nesse instante e mudou de opinião, voltou lá e deu pênalti para o VAR. Então, o VAR acabou influenciando na arbitragem que estava sendo boa dele, apesar de muitas e muitas reclamações de ambas as equipes, mas reclamações pequenas de uma falta ali, um lateral lá, mas não influenciando no pênalti. Então, o VAR prejudicou 100% o resultado da partida. Então, eu prefiro o meu tempo.

Mas é bom o VAR? É bom o VAR. É ruim o VAR também. O meu tempo era bom? Era bom. Era ruim? Era ruim, porque não tinha... Quando eu cheguei em casa, eu vi que eu errei. Eu não dormi. Quando eu chegava em casa, seja a hora que for, de madrugada, eu não dormia assim que tinha a minha fitinha do jogo. Tinha certeza que eu errei aquele lance. Que o acerto, pelo menos, graças a Deus, todo mundo mais acerta dentro de campo do que erra.

Então, eu tinha certeza que eu errei, errei mesmo. Mas se tivesse o VAR, eu ia corrigir naquele tempo. Hoje ele corrige. Mas tem hora que influencia no resultado diretamente. Isso acontece em todos os jogos, para quem conhece futebol. Então, VAR é bom. Mas não é bom [também]. Que coisa é essa? Precisa desenvolver, principalmente no Brasil.

A gente já passou um pouquinho dos acréscimos. Obrigado por ter vindo, Edilson.

Mais uma amizade que a gente faz na vida, alguma coisa que a gente leva na vida mesmo, amizade. Não se leva dinheiro, foi o meu caso. Que eu ganhei com isso? Acabei com a minha vida. Futebol, pra gente contar e sentar aqui e falar sem tempo, a gente fica aqui dias contando as minhas histórias, você contando as suas, porque sempre são muitas e principalmente no meu caso, que eu tive mesmo lá dentro de campo. É muito bom estar dentro do campo.

Mas o meu caso que sirva de exemplo para os outros. Há 20 anos que a gente ouve falar, não ouve falar no árbitro. Ouve sim dos jogadores, jogadores mesmo, dos pequenos até os maiores. Mas o meu exemplo serviu só para mim e que sirva para os outros também. Infelizmente para mim, tinha que ser eu a dar esse exemplo. Podia ser outro, de estar aqui numa situação que eu não gostaria, mas paciência.

Comentários

Comentários