Em carta enviada ao governo americano, a Embraer afirmou que a imposição de restrições a exportações da empresa seriam “diretamente contrários” aos interesses dos Estados Unidos. A Embraer enviou resposta ao USTR (Escritório do Representante Comercial dos EUA) nessa segunda-feira (18).
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A fabricante afirma que desempenha um papel “crítico” para o sistema aéreo americano, e que a empresa e suas afiliadas americanas “geram enormes benefícios líquidos” para o país.
O documento da Embraer foi protocolado na investigação aberta contra o Brasil em que os EUA alegam supostas práticas comerciais desleais nos termos da Seção 301. Trata-se de parte da Lei de Comércio dos EUA, de 1974, que permite que o USTR realize apurações sobre práticas que supostamente prejudicam o comércio internacional americano.
A investigação do USTR acusa o Brasil de seis práticas comerciais desleais: acesso ao mercado de etanol do Brasil, desmatamento ilegal, falhas na fiscalização de medidas de anticorrupção, tarifas preferenciais injustas, proteção da propriedade intelectual e políticas relacionadas ao comércio digital e serviços de pagamento eletrônico, incluindo o sistema de pagamento Pix.
O governo brasileiro também protocolou a resposta nessa segunda. No documento, o Brasil afirma que não adota políticas discriminatórias, injustificáveis ou restritivas ao comércio com os EUA e que não há base jurídica ou factual para a imposição de sanções.
Benefícios para EUA.
A Embraer, por sua vez, diz que não tem relação com nenhuma das práticas investigadas.
“Usar a Seção 301 para impor tarifas sobre nossos produtos e cadeias de suprimentos seria contrário aos interesses dos EUA. Instamos o governo a reconhecer os enormes benefícios que a Embraer gerou para os Estados Unidos e a evitar tarifas ou outras restrições à importação que apenas serviriam para comprometer esse sucesso”, diz a carta enviada pela fabricante.
A Embraer afirma que atualmente gera 12.500 empregos nos EUA: 2.500 funcionários diretos e 10 mil empregos adicionais na cadeia de suprimentos.
“As aeronaves da Embraer também desempenham um papel fundamental no sistema de transporte aéreo dos EUA. Nossas aeronaves transportam com segurança aproximadamente 100 milhões de passageiros nos Estados Unidos todos os anos, representando cerca de 10% de todo o tráfego aéreo de passageiros dos EUA e formando a espinha dorsal de muitas frotas de companhias aéreas americanas”, diz trecho da carta.
Mais de 2.000 aeronaves comerciais da Embraer operam atualmente nos Estados Unidos, para companhias aéreas americanas como American, Delta, United e Alaska Airlines. Aproximadamente um terço dos voos de e para o Aeroporto Nacional Ronald Reagan, em Washington, são operados por aeronaves comerciais da Embraer.
A empresa ficou de fora da sobretaxa de 50% imposto sobre produtos brasileiros. Porém, ainda tem uma taxa de 10%, que a empresa quer zerar.
Tarifa zero.
Em conferência com jornalistas no dia 5 de agosto, o presidente e CEO da Embraer, Francisco Gomes Neto, disse que a importância da empresa para os Estados Unidos foi crucial para evitar que a companhia fosse sobretaxada pelo governo americano.
Ele afirmou que a Embraer “foca em dados e naquilo que pode controlar”, e que foi assim que agiu diante no episódio do tarifaço. “Foi isso o que fizemos desde o começo. Levantamos toda a contribuição que temos para o mercado americano, empregos, e foi uma forma de mostrar o impacto que a tarifa teria nos EUA”.
“Incluímos os investimentos, a importância dos nossos aviões naquele país, e levamos para as pessoas certas, que têm visibilidade. Fizemos a mesma coisa no lado brasileiro e mostramos o risco de ficar em 50% [a tarifa]”, completou o executivo.
“No campo política a gente não entra, focamos na questão econômica. Continuamos com a mesma tese e com base em outros acordos de outros países, de trazer a tarifa para zero, e temos boa perspectiva de acontecer com a gente”, afirmou Gomes Neto.
Para alcançar a meta da tarifa zero nos EUA, o executivo disse que trabalha em duas frentes: diretamente com os americanos e por meio do governo brasileiro.
“Reconhecemos todo esforço e agradecemos a mudança [da tarifa] pelo governo. Continuamos trabalhando com os dois governos e levando o nosso caso econômico e a vantagem para aquele país, para voltar à alíquota zero, o que ocorreu em mais de 45 anos.”
* Com informações do jornal O Globo